O relatório do procurador especial Robert Mueller sobre a possível interferência russa nas eleições dos EUA de 2016 concluiu que o presidente Donald Trump não cometeu o crime de conspiração (ou conluio), mas não o isenta da possibilidade de ter cometido outro crime, o de obstrução de justiça. O procurador-geral, Robert Barr, recebeu o relatório na sexta-feira (22), e enviou um resumo ao Congresso neste domingo (24).
O relatório deixou a cargo de Barr e de outro procurador, Rod Rosenstein, a decisão de determinar se Trump pode ter cometido o crime de obstrução de justiça, e eles decidiram que o presidente é inocente também nessa questão.
Principais conclusões da investigação, segundo o resumo do relatório:
- A Rússia interferiu nas eleições presidenciais de 2016 nos EUA, hackeando computadores de democratas e através do uso de mídias sociais;
- Trump e seus associados não participaram dos esforços russos e são inocentes;
- Não ficou provado que Trump obstruiu a justiça durante a investigação e nem que ele é inocente;
- A decisão se Trump obstruiu ou não a justiça ficou na mão do procurador-geral e de outro procurador, e eles avaliaram que o presidente é inocente.
“O Conselho Especial [criado para investigar o presidente] não descobriu que a campanha Trump, ou qualquer pessoa associada a ela, conspirou ou coordenou com o governo russo nesses esforços, apesar das múltiplas ofertas de indivíduos afiliados russos para ajudar na campanha Trump ”, segundo Barr, que resumiu o relatório em uma carta enviada pelo Departamento de Justiça dos EUA ao Comitê Judiciário do Congresso.
Na carta de quatro páginas enviada ao Congresso, Barr diz que, embora sua análise ainda esteja em progresso, ele acredita ser de interesse público descrever o relatório e resumir suas principais conclusões.
Após a divulgação do resumo, Trump comentou em um post no Twitter: “Sem coluio, sem obstrução, completa e total inocência. Mantenha a América grande!”, escreveu.
Mueller entregou seu relatório a Barr na sexta-feira, após uma investigação que durou 675 dias. No mesmo dia a imprensa americana afirmou que o documento não recomendava nenhum indiciamento além dos que já foram realizados.
Como explica a Associated Press, Mueller apresentou seu relatório a Barr em vez de diretamente ao Congresso e ao público porque, diferentemente de conselheiros independentes como Ken Starr no caso do presidente Bill Clinton, sua investigação operava sob a supervisão do Departamento de Justiça, que o nomeou.
Membros do Partido Democrata no Congresso pressionam para ter acesso à íntegra do relatório, inclusive afirmando que irão recorrer à Justiça.
O deputado Jerry Nadler, um dos integrantes do Comitê Judiciário do Congresso, a quem o resumo do relatório foi endereçado, afirmou em seu perfil no Twitter que o procurador-geral será convocado em breve a prestar esclarecimentos sobre a decisão de inocentar o presidente do crime de obstrução de justiça.
“À luz das discrepâncias muito preocupantes e da tomada de decisão final no Departamento de Justiça após o relatório do Conselho Especial, onde Mueller não inocentou o Presidente, estaremos chamando o procurador-geral de Barr para testemunhar em um futuro próximo”, escreveu.
Ao longo da investigação, diversas pessoas associadas a Trump e até mesmo membros de sua família foram apontados como autores de possíveis irregularidades e como nomes que poderiam aparecer no relatório como recomendados a indiciamento.
Entre eles estão Donald Trump Jr., que ajudou a organizar uma reunião da Trump Tower no auge da campanha de 2016 com uma advogada ligada ao Kremlin, e o genro de Trump, Jared Kushner, que foi entrevistado pelo menos duas vezes pelos promotores de Mueller.
Ao todo, Mueller indiciou 34 pessoas, incluindo o ex-chefe de campanha do presidente, Paul Manafort, seu primeiro conselheiro de segurança nacional, Michael Flynn, e três empresas russas. Vinte e cinco russos foram indiciados por acusações de interferência eleitoral, acusados de hackear contas de e-mail de democratas durante a campanha ou de orquestrar uma campanha de mídia social que espalhou desinformação online. (Informações: G1)