Especialistas consultados pela Defesa Civil de Salvador (Codesal) acreditam que não há base científica para afirmar que existe possibilidade do litoral brasileiro ser atingido por um tsunami, provocado pela atividade vulcânica nas Ilhas Canárias, da Espanha, conforme noticiado por alguns veículos da mídia e repercutido em redes sociais.
A mesma versão foi apontada ao G1 pelo coordenador do Laboratório Sismológico da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Aderson Nascimento. “A gente não tem essa preocupação no Brasil, porque esse evento é muito pouco provável”, garantiu.
Nesta quinta-feira (16), o governo da Espanha anunciou que houve um aumento de atividade sísmica ao redor do vulcão de Teneguia, nas Ilhas Canárias, e que por isso pode haver uma erupção nos próximos dias ou semanas.
No entanto, de acordo com o coordenador do laboratório sismológico, não há motivos para preocupações dos baianos, pois a atividade sísmica nas Ilhas Canárias é monitorada e o serviço geológico espanhol ou órgãos oficiais não emitiram alerta de perigo para o Brasil.
“Isso é o tempo todo feito e a chance de ter uma explosão é muito baixa. É uma chance muito pequena de acontecer, é muito pouco provável. Como membro de órgão de sismologia, ninguém soube de nenhum alerta emitido pelo serviço geológico espanhol ou algum órgão oficial dizendo que isso está acontecendo”.
As explicações de Aderson são semelhantes às que foram dadas pelo titular do Departamento de Oceanografia do Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia (Ufba), professor José Maria Landim Domiguez, e pelo meteorologista da Codesal, Giuliano Carlos Nascimento.
José Maria Landim Domiguez explica que para que um tsunami de grande magnitude ocorresse, no pior dos cenários, seria necessário que parte do arquipélago escorregasse para o mar, o que geraria uma onda de grandes proporções que se propagaria para o oceano.
Segundo ele, “trata-se de especulação supor que um tsunami ocorreria, pois não é a atividade vulcânica que gera o fenômeno, mas o deslocamento do solo”. Para o pesquisador, a divulgação de notícias deste teor só serve para gerar pânico. Ele lembra que a costa de Salvador já registrou ondas de três metros, porém, sem registro de catástrofes.
O meteorologista da Codesal, Giuliano Carlos Nascimento, explanou que a ocorrência de tsunamis tem relação com o deslocamento de placas tectônicas e informou que não há condições propícias para o fenômeno, caso ocorra, atinja Salvador. Conforme ele, os países latino-americanos situados na costa do Oceano Pacífico, a exemplo do Chile, têm maior probabilidade de serem atingidos pelo fenômeno.
Em entrevista ao G1, o coordenador do Laboratório Sismológico da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Aderson Nascimento, comparou o risco de um tsunami no Brasil com um acidente aéreo, ou seja, com mínimas possibilidades.
“Por exemplo, as pessoas têm medo de viajar de avião, mas muita gente viaja mesmo sabendo que pode acontecer um acidente, porque o risco é mínimo”.
De acordo com Aderson, a chegada de um tsunami demanda muitos anos de estudos e os países que têm sistemas de monitoramentos do fenômeno estão no Oceano Pacífico. “Nenhum país do Atlântico tem um sistema de monitoramento de tsunami, justamente porque é muito raro de acontecer”, reforçou.
Tsunami em Lisboa
O coordenador do Laboratório Sismológico da Universidade Federal do Rio Grande do Norte ainda lembrou que houve um tsunami em 1755, que destruiu a cidade de Lisboa, em Portugal. No Brasil, o fenômeno teve pouca intensidade.
“O que a gente conhece do litoral Atlântico é que em 1755 houve um tsunami que atingiu principalmente Lisboa, que ficou praticamente destruída. Teve terremoto, tsunami, incêndio, acabou com Portugal na época”, contou.
“Aqui no Brasil existem registros do tsunami como uma ‘marolinha’ que chegou. É o que historicamente se conhece. Tempos depois, não existia internet, ficaram sabendo que, na verdade foi, um terremoto que devastou a capital portuguesa”. (G1)