No prazo de dois anos a fome no Brasil deu um salto, atingindo 19,1 milhões de brasileiros. Os dados foram obtidos pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan).
O levantamento indica que o equivalente a 9% da população brasileira se enquadra no perfil dos cidadãos que passam fome atualmente. A pesquisa foi realizada em dezembro de 2020 em 2.180 domicílios das cinco regiões do país, abrangendo o perímetro urbano e rural.
Por meio das informações obtidas a entidade também observou os impactos da pandemia da Covid-19 neste cenário. Sendo responsável por deixar cerca de 116,8 milhões de brasileiros passando fome em algum nível de insegurança alimentar, seja ele leve, moderado ou grave.
É importante explicar que a insegurança alimentar é determinada a partir do momento em que o indivíduo passa a enfrentar dificuldades de adquirir alimentos.
Nota-se que mais da metade da população brasileira, estimada em 213,6 milhões, passa por esse problema. O número corresponde ao dobro dos habitantes da Argentina, que é de 45,3 milhões, de acordo com informações do Banco Mundial.
Também foi possível observar que o Nordeste é a região brasileira com o maior número absoluto de cidadãos que passam fome. Ou seja, cerca de 7,7 milhões de nordestinos estão em patamar grave de insegurança alimentar.
Enquanto isso, na região Norte, cerca de 14,9% da população não tem o que comer. Vale mencionar que, apesar de abrigarem a maior parte da população em situação de fome no país, apenas 7,5% da população brasileira vive nos estados nortistas.
De acordo com a última edição da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) referente ao biênio de 2017-2018, a estimativa conforme divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na época é de que 10,3 milhões de famílias residem em lares com insegurança alimentar grave.
Esses dados apontam que, de 2018 a 2020, o número de brasileiros passando fome teve um aumento de 8,8 milhões.
Ao avaliar o nível de insegurança alimentar no país, o levantamento também considerou as circunstâncias com base no gênero, cor e escolaridade. Desta forma, chegou-se à conclusão de que 11,1% dos lares chefiados por mulheres passam fome, contra 7,7% daqueles representados por homens.
No que compete à liderança familiar por pessoas pretas e pardas, a fome esteve presente em 10,7% das residências brasileiras, contra 7,5% das famílias compostas por pessoas brancas. Os índices são ainda mais preocupantes quando se considera os níveis de escolaridade.
De acordo com os pesquisadores, a fome atingiu 14,7% dos lares de quem não possui nenhuma instrução educacional ou que não completou o ensino fundamental.
Protestos online contra a fome
Após a divulgação dos dados sobre a fome no Brasil, vários internautas revoltados com a realidade do país criaram a expressão #ContraAFomeForaBolsonaro que viralizou em questão de instantes nesta quinta-feira, 14.
A hashtag se consolidou como um protesto virtual contra a fome, que foi instigado por relatos de pessoas em busca de pés de galinha, peles e carcaças de animais para incrementar a alimentação.
A ação denominada de ‘tuitaço’ contou com a participação de organizações não governamentais, partidos, políticos, movimentos sociais, artistas e internautas. No geral, as mensagens apontam o governo de Jair Bolsonaro como o principal responsável pelo avanço da fome no Brasil.
A justificativa atribuída foi a falta de políticas públicas com foco na garantia ao acesso à alimentação de qualidade por pessoas em situação de vulnerabilidade social.
Em contrapartida, o agronegócio também foi apontado como vilão da insegurança alimentar, tendo em vista que a produção com foco na exportação é uma atitude que deixa os preços dos alimentos ainda mais caros no mercado interno.
Mas os protestos virtuais não foram as únicas ações realizadas por movimentos sociais. No Distrito Federal, integrantes de organizações que compõem a Via Campesina invadiram a sede da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja). (FDR)