O número de candidatos registrados como brasileiros naturalizados ou estrangeiros com cidadania brasileira aumentou nas eleições deste ano em comparação com o último pleito municipal, de 2016, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Há quatro anos, 1.530 pessoas se registraram como estrangeiros, brasileiros naturalizados ou portugueses com igualdade de direitos. Já em 2020, o número subiu para 2.693, uma alta de 76%.
A maior parte do candidatos (93%) tenta uma vaga para vereador, mas há 94 candidatos registrados como brasileiros naturalizados ou portugueses concorrendo para a vaga de prefeito, bem como 85 candidatos a vice-prefeito.
Do total de candidatos, porém, apenas 219 identificaram seus países de origem, que variam bastante. Há portugueses, argentinos, paraguaios, alemães, chineses e americanos competindo por um cargo político nestas eleições. Também há nigerianos, cubanos, sírios e japoneses entre os candidatos.
Do total dos candidatos que identificam os países, a maioria é portuguesa com igualdade de direitos políticos (42).
Essa igualdade pode ser solicitada por portugueses que tenham residência habitual no Brasil há mais de três anos. Exercer esses direitos políticos no Brasil implica na suspensão dos mesmos direitos em Portugal, o que significa que as pessoas que solicitarem e conseguirem a igualdade de direitos não poderão votar mais em seu país de origem.
Os outros candidatos estão cadastrados como “estrangeiros” ou como brasileiros naturalizados.
Ter a nacionalidade brasileira é um dos requisitos para se candidatar a um cargo eleitoral no Brasil, juntamente com outras determinações, como ser alfabetizado, estar em dia com a Justiça Eleitoral e, caso seja homem, ter certificado de reservista.
Erros de preenchimento
Há a possibilidade de que uma parte desses candidatos que afirmam em seus registros que não nasceram no Brasil tenham cometido erros no momento de preencher os cadastros. O G1 identificou pelo menos dois casos em que os candidatos afirmam que são brasileiros natos, mesmo que seus registros no TSE os apontem como brasileiros naturalizados.
Um desses casos é o de Lisandro Frederico (Avante), candidato a prefeito de Suzano, em São Paulo. No TSE, a sua nacionalidade consta como “brasileira (naturalizada)”. A sua assessoria de comunicação afirma, porém, que ele nasceu em Suzano e que houve um erro no preenchimento das informações ou um “erro no sistema do TSE”. A equipe também diz que a informação será corrigida o quanto antes.
O caso de Lisandro é semelhante ao de Claudia Autista (PRTB), que concorre ao cargo de prefeito em Vila Velha (ES). A nacionalidade de Claudia consta como “brasileira (naturalizada)”, mas a cidade e o estado de origem estão como Manaus (AM).
De acordo com a equipe de comunicação da candidata, Claudia é brasileira nata e nasceu, de fato, em Manaus, o que aponta que o seu registro no TSE também está com erro.
Não é possível saber, porém, quantos dos mais de 2 mil candidatos “estrangeiros” realmente não nasceram no Brasil ou se também houve erro de preenchimento. Para isso, é necessário entrar em contato com todos para saber se as informações que constam do registro do TSE estão corretas. Os dados, aliás, ainda podem ser retificados.
O que é possível afirmar é que há, de fato, candidatos naturalizados, como o postulante à Prefeitura de Campinas Rogério Parada (PRTB), que nasceu em Boston, nos Estados Unidos, e o boliviano Dr. Milton Soveron, que concorre para o cargo de prefeito na cidade de Santa Cruz (PE).
Soveron diz que nasceu em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, mas mora no Brasil há 20 anos. “Já me perguntaram se, pelo fato de eu ser estrangeiro, eu tenho desvantagem. Eu acho que não. O que interessa é a intenção, a boa índole e os antecedentes do candidato”, afirma. “O candidato pode vir da China, da Alemanha, do Paraguai, não interessa. O que interessa é o serviço que o candidato presta à população.”
Campanha igual para todos
Carlos Ranulfo, professor do Departamento de Ciências Políticas da UFMG, afirma que não consegue identificar uma razão por trás do aumento no número de candidatos naturalizados nas eleições brasileiras. Mas afirma que, como diz Soveron, estes candidatos não possuem nenhuma desvantagem em relação aos brasileiros natos durante as campanhas eleitorais.
“Não vejo disfunção. Eles já estão naturalizados, já moram no país há um tempo e já o conhecem. Por isso, os caminhos [de campanha] são os mesmos”, diz.
“O que leva uma pessoa a escolher um candidato são as mesmas questões para todos. Ninguém procura um candidato naturalizado ou um candidato nato. Tanto faz se a pessoa é naturalizada ou não”, afirma Carlos Ranulfo, da UFMG.
Segundo o professor, o que conta consideravelmente mais que a origem do candidato são as suas propostas, o seu partido e suas influências.
“A questão de escolher o candidato tem várias razões. Pode ser pela trajetória da pessoa, porque você conhece ou porque gosta das suas propostas e ideias. Pode ser também pelo partido ou pela influência de alguém ou de algum órgão, como a igreja”, afirma Ranulfo.
O professor também diz que os candidatos utilizam códigos para tentar chamar a atenção dos eleitores. “Títulos religiosos, como pastor, ou ligados à área de segurança, como capitão, são códigos para tentar chamar a atenção do eleitor. Assim como também são as ocupações de saúde, que estão chamando bastante atenção nessa eleição.”
Assim, mesmo que o candidato naturalizado tenha um nome diferente e não muito usual aos brasileiros, o que conta mais são esses códigos e suas estratégias de campanha do que o fato de ele não ter nascido no país.
“Um nome diferente não significa nada. Para um candidato alemão, por exemplo, o seu nome não vai ser um atrativo. Se tiver voto, é porque ele tem influência, é conhecido, entre outros fatores”, afirma Ranulfo.
“O que pode influenciar também é a denominação junto com o nome, como fulano da ambulância ou ciclano técnico de enfermagem”, diz o professor. “E essa é uma estratégia utilizada por todos os candidatos, sejam eles brasileiros naturalizados, portugueses ou não.” (G1)