O ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama comparou o presidente Jair Bolsonaro ao norte-americano Donald Trump sobre questões relativas ao negacionismo da ciência na pandemia de coronavírus. Ele foi o entrevistado do programa Conversa com Bial, na Rede Globo, que foi ao ar nesta segunda-feira (16).
Ao falar sobre Jair Bolsonaro, o democrata disse que não poderia opinar sobre quem ele não conhece, mas viu semelhanças entre os dois presidentes. “Posso dizer que, com base no que vi, as políticas dele, assim como as de Donald Trump, parecem ter minimizado a ciência da mudança climática”, afirmou. “Olhando para a pandemia, Donald Trump, assim como o Brasil, não deu ênfase para a ciência e teve consequências para ele [Trump]”.
O jornalista Pedro Bial perguntou a opinião de Obama sobre a provocação feita por Bolsonaro a Biden ao dizer que “quando acabar a saliva, tem que ter pólvora”, rebatendo o posicionamento do democrata norte-americano sobre as queimadas na Amazônia.
“Minha esperança é que, com a nova administração de Biden, há uma oportunidade de redefinir essa relação. Sei que ele vai enfatizar que a mudança climática é real, que os Estados Unidos e o Brasil têm um papel de liderança a desempenhar. Sei que ele vai valorizar a ciência sobre a Covid-19, e o fato de que o vírus é real”, respondeu.
Obama avaliou o futuro da política americana diante da eleição de Joe Biden nos EUA. “Os EUA ainda estão divididos. A maioria abraçou Biden. Mas vai ser um desafio. Biden vai ajudar a baixar a temperatura”. E emendou: “a nossa democracia está desgastada. Não é apenas um resultado relacionado a Donald Trump. As histórias que conto sobre a minha presidência indicam como algumas dessas tendências já existiam”.
Questionado sobre sua relação com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Obama descreveu o petista como cativante. “Ele ampliou a classe média no Brasil”, lembrou. Em 2009, o ex-presidente dos EUA cumprimentou Lula durante um encontro na cúpula do G-20 e afirmou na ocasião: “Esse aqui é o cara, é o político mais popular do mundo”.
Ele falou sobre o suposto envolvimento de Lula com atos irregulares. “Com os relatos de corrupção que surgiram, na época eu não sabia de todos eles. Acho que o dom que o Lula tinha de se conectar com o povo brasileiro e o progresso econômico que aconteceu quando ele tirou as pessoas da pobreza são coisas que não podem ser negadas. Uma das coisas que tento fazer no livro é descrever as complexidades de todas essas figuras. Falo do Putin, da Merkel. O que você acaba percebendo é que a maioria dos líderes é um reflexo das contradições e das tensões dos seus países. Entender qualquer um deles, é importante entender a história deles, o contexto no qual operam, as restrições políticas com as quais precisam lidar. Muitas vezes não reservamos um tempo para nos entender além das fronteiras nacionais. Esses desentendimentos podem gerar conflitos e guerras”. (Metro1)