Após lucrar R$ 500 mil com sex shop, ela decidiu fazer doutorado na área

Entendi que era uma necessidade falar sobre isso, que eu também havia descoberto recentemente”.

Foto: Arquivo Pessoal

Sté Paranhos, de 34 anos, defendeu neste mês sua tese de doutorado em femtech –empresas — geralmente startups — que por meio da tecnologia procuram resolver problemas relativos à saúde feminina ou facilitar o dia a dia das mulheres.

Ela é dona da “Vibre, Mulher”, uma startup voltada ao bem-estar sexual que nasceu durante a pandemia de coronavírus e, em um ano, faturou R$ 500 mil. A prática veio antes da teoria: o sucesso da Vibre, Mulher despertou na empresária o interesse de estudar essas tecnologias, e virou tese de doutorado.

Em entrevista ao Terra, Sté relembra a trajetória até virar doutora, e como sua vida mudou em três anos. Ela começou a jornada do autoprazer em 2019 e, a partir dali, decidiu indicar vibradores a todas as amigas. “Percebi, então, que muitas nunca haviam se tocado. Entendi que era uma necessidade falar sobre isso, que eu também havia descoberto recentemente”.

Foi quando surgiu a Vibre, Mulher, a empresa que conecta vendedoras de produtos eróticos com uma plataforma repleta de dicas sobre sexualidade. Mas o processo não foi simples.

Pé na bunda empurra para frente
Sté conta que, até os 30 anos, nunca havia se masturbado – sozinha ou com vibradores. Ela necessitava dos parceiros para chegar ao orgasmo, o que a colocou em diversas situações de dependência emocional.

Por dez anos, a dependência foi do namorado. Com o término, ela passou a conhecer outras pessoas, até que se apaixonou por um homem. Depois de se envolverem, ele passou a inventar desculpas para não encontrá-la. Por fim, parou de responder mensagens.

“Cogitei até ir à casa dele para encontrá-lo, mas minhas amigas me deram um toque. Comecei a fazer terapia e entendi que todo meu prazer dependia dos parceiros. E, pela primeira vez aos 30 anos, me masturbei sozinha. Quando descobri os vibradores – numa massagem tântrica – fiquei encantada. Falava com todo mundo sobre isso. E percebi que existia um mercado interessante, não só de vender produtos, mas de falar sobre sexualidade.”

Investimentos no setor são lentos

Sté conta que, apesar do boom que sex techs e outras áreas do setor de sexualidade enfrentaram durante a pandemia, o investimento em empresas e negócios da área é relativamente lento, provavelmente por conta de tabus sociais.

“As sextechs vêm ressignificando toda uma indústria que, antes, levava o peso e o preconceito do mercado erótico tradicional. Essas empresas são a evolução de toda uma indústria que evoluiu da satisfação dos desejos masculinos para negócios centrados no bem-estar (do prazer à saúde) de toda uma população, especialmente das mulheres”, pontua. Ainda assim, são mal vistas por investidores – geralmente homens brancos.

“Sinto que enfrentei preconceito em um processo de aceleração de empresas do qual participei com o meu negócio de bem-estar sexual. Pivotando, criamos uma femtech neste processo de aceleração, migrando de uma marca digital para um negócio de saúde da mulher, que resolve as nossas dores (identificadas durante o dia a dia da Vibre, Mulher!) de acolhimento e triagem de saúde por meio de inteligência artificial”.

A sextech é uma femtech – produtos e serviços que usam a tecnologia para se concentrar na saúde da mulher – voltada para o bem-estar sexual. E foi nesse tipo de femtech que Sté decidiu se especializar com o doutorado. Agora, ela quer levar o tema e o assunto a outras pessoas, enquanto segue se especializando no ramo. (Terra)

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