UNESCO denuncia infração ética nos estudos sobre proxalutamida contra COVID-19 no Brasil

Foto: Divulgação

A UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), através da Rede Latinoamericana e do Caribe de Biótica, veio à público no último sábado, 9, denunciar “infração ética gravíssima” no Brasil, nos estudos sobre proxalutamida. A denúncia foi apresentada no dia 3 de setembro pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) e demonstra indícios de irregularidades na condução do estudo “The Proxa-Rescue AndroCoV Trial”. Liderado pelo endocrinologista Flávio Cadegiani e patrocinado pela rede de hospitais privada Samel, 200 mortes foram contabilizadas no percurso do estudo no Amazonas.

Para a UNESCO “nenhuma emergência sanitária, nem contexto político ou econômico, justifica acontecimentos com os que vieram à público”. A agência da ONU afirma ainda que o acontecimento pode ser um dos episódios mais graves de infração da ética na investigação na América Latina, assim como sérias violações de direitos humanos.  

O uso do medicamento proxalutamida é defendido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Entre as denúncias feitas pela CONEP ao Ministério da Saúde estão a falta de análise crítica que permita compreender a causa mortis direta, a falta de documentos ou justificativas para o elevado índice de óbitos, além de sucessivas notas com números equivocados dos óbitos e aumento do grupo de participantes sem aprovação da comissão. O documento aponta também insuficiência renal e hepática como causa dos falecimentos ocorridos.

Em nota em suas redes sociais, ao dia 20 de setembro, o endocrinologista afirma que “é certo que as 200 mortes informadas foram em sua totalidade causadas pela terrível doença, a COVID-19, e nenhuma foi causada pela proxalutamida”. Compara ainda o número de falecimentos do estudo com a média total de mortes por covid no Amazonas. “Importante ressaltar que se o número de mortes tivesse sido equivalente entre os dois grupos [grupo controle x grupo placebo], a pesquisa continuaria, até porque o percentual de mortes estava condizente ou até abaixo do observado no estado do Amazonas”, defendeu-se Cadegiani.

O Sistema CEP/Conep é responsável pelas decisões de caráter ético do desenvolvimento de pesquisas com seres humanos, de modo a subsidiar e resguardar a integridade e os direitos dos participantes. A UNESCO clamou para que a comunidade internacional acompanhe a denúncia. (A Tarde)

google news