A revista Veja publicou ontem (14) uma reportagem que mostra imagens que supostamente revela, que o miliciano Adriano da Nóbrega teria sido batido com tiros disparados a curta distância.
Em nota divulgada hoje (14), a Secretaria de Segurança Pública da Bahia afirma que a hipótese é infundada e chama as imagens de “suposta fotos”.
Na reportagem, a revista diz que as imagens ainda reforçariam a acusação da esposa e do advogado de Adriano, de que ele foi executado. A versão oficial da polícia é que ele teria sido morto após resistir à prisão e trocar tiros com os PMs. A família pretendia cremar seu corpo já na quarta-feira (12), mas a Justiça proibiu.
Conforme a Veja, as fotografias foram feitas, de diversos ângulos, logo depois da autópsia. As imagens revelariam também um ferimento na cabeça do ex-capitão, logo abaixo do queixo, queimaduras do lado esquerdo do peito e um corte na testa.
As fotos foram submetidas à avaliação do médico legista Malthus Fonseca Galvão, professor da Universidade de Brasília (UnB) e ex-diretor do Instituto Médico Legal do Distrito Federal. Sem saber a identidade do morto, ele analisou as imagens e destacou que o ideal seria estudar o próprio corpo e ter conhecimento das armas usadas na operação policial. Galvão citou as marcas vermelhas localizadas próximas da região do peito, chamadas pelos peritos de “tatuagem”, que indicariam um tiro a curta distância.
“É um disparo a uma distância na qual a pólvora ainda tem energia cinética suficiente para adentrar o corpo. Então, foi um disparo a curta distância. O que é a curta distância? Depende da arma e da munição. Seriam 40 centímetros, no máximo, imaginando um revólver ou uma pistola. Mais que isso, não”, disse Galvão.
Ele acrescentou: “Pode ter sido uma troca de tiros? Pode. Pode ter sido uma execução? Pode. Qual é o mais provável? Com esse disparo tão próximo, o mais provável é que tenha sido uma execução. Mas tem de analisar com mais detalhes”.
O segundo ponto ressaltado pelo médico legista é uma marca que aparenta ser um tiro na região do pescoço. “Pode ter sido um disparo após a vítima ter caído no chão, porque a imagem me sugere ser de baixo para cima, da direita para a esquerda, em quase 45 graus. Esse disparo pode ser o que o povo chama de ‘confere’”, explicou. “Confere” é o conhecido tiro de misericórdia, efetuado quando não há a intenção de salvar a pessoa baleada.
Galvão ainda citou uma marca cilíndrica cravada no peito do corpo. “Tem muita chance de ser a boca de um cano longo após o disparo, quente, sendo encostada com bastante força por mais de uma vez. Nesse momento, ele estava vivo, com certeza, porque está vermelho em volta. É uma reação vital”, afirmou o professor.
Pessoas próximas a Adriano dizem que ele foi torturado. O machucado na cabeça teria sido resultado de uma coronhada de pistola, segundo eles. No entanto, o laudo parcial divulgado pela SSP-BA diz não dispor de elementos “para afirmar ou negar” que houve emprego de tortura. A causa da morte divulgada foi “anemia aguda secundário à politraumatismo”.
Confira a nota da SSP-BA divulgada hoje:
A Secretaria da Segurança da Bahia, através do Departamento de Polícia Técnica (DPT), esclarece que as acusações apresentadas por uma revista, para morte de Adriano Magalhães da Nóbrega, levando em considerações supostas fotos do miliciano, são infundadas.
Informa que as fotografias mostradas não são as imagens oficiais da perícia. Dessa forma, os peritos não podem afirmar se foram de alguma forma manipuladas ou não e, portanto, não podem se manifestar sobre as mesmas.
Sobre a lesão arredondada na face anterior do corpo de Adriano, trata-se de equimose, não uma queimadura. É uma lesão contundente, obviamente feita com algo arredondado, que pode ter sido ativamente ou passivamente comprimido contra o corpo.
As lesões de disparo de arma de fogo não foram feitas com proximidade. Essa afirmação só pode ser feita quando há, pelo menos, a zona de tatuagem de pólvora incombusta intradérmica, o que não ocorreu. É impossível afirmar distância dos disparos, sem a reprodução destes, promovida com a mesma arma e munição similar, contra um anteparo (alvo).
Por fim, acrescenta que o corte na cabeça foi por ação corto-contundente, também comum em casos de troca de tiros, onde quedas são frequentes. (Metro1)