“Hoje, segundo a avó, foi a primeira vez que ela sorriu depois de muito tempo”, disse o diretor-médico do Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam-UPE), Olímpio Moraes, sobre o relato da avó da menina de dez anos, estuprada durante anos e submetida a um aborto legal no Recife no último domingo (16). As informações foram reveladas durante entrevista ao programa Balanço de Notícias, da Rádio Jornal, na tarde desta terça-feira (18).
O médico comentou que os profissionais envolvidos no procedimento legal estão “dando a chance para essa criança começar a viver”. “O que ela teve até agora não é vida, foi só sofrimento. Nós estamos dando a ela a chance de viver aos dez anos de idade. E hoje, eu digo, ela chegou muito abalada”, disse.
Durante a entrevista, o diretor-médico do Cisam comentou sobre a confusão que aconteceu no último domingo em frente a unidade de saúde envolvendo vereadores e deputados que tentaram impedir a realização do aborto. Segundo Olímpio, que definiu a confusão como “assustadora”, a situação “foi pontual”, e boa parte da população defendeu o direito da menina realizar o procedimento.
Nessa segunda-feira, a menina ganhou flores, brinquedos e roupas, e o Cisam amanheceu nesta terça-feira com cartazes fixados nas grandes e balões. “A quantidade de presente, de mensagem, de flor, de carta, de mensagens colocadas nos portões do Cisam, as bolas de enfeite que estão lá, é tudo mensagem de carinho. Ela nunca recebeu tanto presente e ela voltou a sorrir. Então, foi isso que nós sentimos que é o nosso dever como profissional de saúde”, disse o responsável pelo Cisam.
Olímpio afirmou que seu desejo é que a menina “cresça, consiga ser feliz e venha visitar nossa terra de outra forma”.
A autorização para o aborto legal da garota de dez anos foi dada pelo juiz da Vara da Infância e da Juventude da cidade de São Mateus, Antonio Moreira Fernandes. No despacho, o magistrado determina que a criança seja submetida ao procedimento de melhor viabilidade e o mais rápido possível para preservar a vida dela. É usada a expressão “imediata”.
O caso foi descoberto quando a menina deu entrada no dia 8 de agosto no Hospital Estadual Roberto Silvares, em São Mateus, com sinais de gravidez. A garota estava se sentindo mal e a equipe médica desconfiou da barriga “crescida” da menina. Ao realizar exames, os enfermeiros descobriram que ela estava grávida de três meses. Em conversa com médicos e com a tia, a criança confidenciou que o tio a estuprava desde os seis anos e que nunca contou aos familiares porque era ameaçada. O homem fugiu depois que a gravidez foi descoberta, e foi preso nesta terça-feira (18) na região Metropolitana de Belo Horizonte, em Minas Gerais. A informação foi confirmada pelo governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB) e também pela Polícia Civil do Estado. (Correio)