“Em um mês de baixa temporada, eu costumava faturar uma média de R$ 3 mil reais. Agora, se fiz R$ 500 reais por mês com a venda de roupas de pinta e de fantasias para o exterior foi muito.” O relato é de Joyce Souza, customizadora e sócia de sua mãe, Irene, no Atelier Mãe e Filha, especializado em roupas para o carnaval. As duas, como muitas outras costureiras que tiravam o sustento da folia, tiveram a renda mensal altamente prejudicada pela pouca demanda dos trabalhos. Com o adiamento dos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro, elas enfrentam uma crise financeira sem perspectiva de melhora para os próximos meses.
No carnaval deste ano, Joyce costurou para oito agremiações, mas a perspectiva para 2021 está muito reduzida. Além disso, as peças que ela costuma vender para o exterior estão retidas porque as entregas internacionais dos Correios só estão sendo realizadas para alguns países e por serviços mais caros do que os que Joyce costuma utilizar. Seu principal aliado para sobreviver à crise foi o auxílio emergencial dado pelo pelo governo federal. Mas, com a redução do valor das parcelas a partir de setembro, tudo ficou mais difícil.
– Como planejar com R$ 300 reais? Não tem como! Venho tentando me reinventar, mas não estou tendo capital de giro para novos investimentos. Só nos restou continuar reciclando o material que temos em casa, fazer peças baratinhas para tentar ajudar a melhorar o orçamento e torcer para as clientes comprarem – diz ela.
Quem também teve a renda reduzida foi a costureira Alessandra Elisiar, que, em 2019, trabalhou para mais de seis escolas cariocas, além de costurar fora do período da festa.
– Quando eu fazia algum trabalho com as roupas de pinta eu ganhava, em média, R$ 5 mil reais por grupo de 20 pessoas. Quando acabava o carnaval, elas já começavam a pedir roupas para shows. Infelizmente, tive uma queda muito grande devido ao cancelamento dos eventos – lamenta Alessandra, para quem as chuvas que castigaram o Rio no final do carnaval foram um agravante. – Cheguei a fazer trabalho na casa da vizinha, que conseguiu salvar a máquina de csotura dela e me emprestou para que eu não perdesse dinheiro. Nessa chuva, eu perdi duas: uma no valor de R$ 4 mil e outra de R$ 3 mil. Ainda estou na luta para consertá-las, mas, enquanto isso, faço os trabalhos que dá – explica.
Alessandra conta que precisou se adaptar a novos trabalhos para chegar o mais próximo de sua renda antiga:
– Eu estava muito animada para iniciar as produções de carnaval no meio do ano. Inclusive, já estava fazendo projetos para alguns grupos para os quais trabalho, mas, diante dessa situação, tudo foi por água abaixo. Enquanto isso, seguro a renda fazendo artesanato e trabalhando na cozinha de eventos que, aos poucos, estão sendo liberados.
Apesar de amar e viver do carnaval desde os 8 anos, Alessandra não gostaria de ver a festa antes da descoberta da cura para o vírus.
– Estão fazendo reuniões em cima de reuniões, mas, realmente, sem a vacina não tem como ter carnaval. Seria um índice de mortalidade muito grande. Infelizmente, a Covid mata e a saúde da gente é mais importante que a festa.
Apesar das dificuldades, Joyce e sua mãe uniram esforços para ajudar no combate à Covid-19. Durante os primeiros meses da pandemia, elas confeccionaram máscaras com retalhos das costuras do ateliê e as doaram a pessoas carentes de Rocha Miranda, bairro onde vivem. Elas esperam que notícias positivas venham em breve. Joyce, que além de aderecista já era passista, diz que tem expectativas positivas para o ano que vem:
– Minha primeira esperança é a cura da Covid, que, além de adoecer nosso corpo, adoece a nossa alma com tanta preocupação e dificuldade. Sou otimista, acredito no poder da ciência e tenho fé que ainda em 2021 realizaremos o maior espetáculo da terra com todas as escolas e blocos de rua. (O Globo)