Serviços de telefonia, TV por assinatura e internet representam mais da metade das despesas das famílias brasileiras na área de cultura, indica um levantamento divulgado nesta quarta-feira (8) pelo IBGE, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Entre 2017 e 2018, período com dados disponíveis, os gastos com esses serviços foram estimados em R$ 172,63, em média, por mês. Foi a maior despesa com cultura à época. Correspondia a 59,3% do total destinado pelas famílias para o consumo de itens associados ao setor, um total de R$ 291,18 por mês.
Os dados integram o Siic, o Sistema de Informações e Indicadores Culturais. O levantamento consolida uma série de informações apuradas pelo IBGE em diferentes pesquisas entre 2009 e 2020.
No caso das despesas das famílias, o Siic tem como base a POF, Pesquisa de Orçamentos Familiares, de 2017 e 2018.
Depois de telefonia, TV paga e internet, o grupo definido como atividades de cultura, lazer e festas representou o segundo principal gasto das famílias brasileiras com cultura, totalizando cerca de R$ 43,41 por mês –ou seja, o equivalente a 14,9% do total na área entre 2017 e 2018, que foi de R$ 291,18.
A terceira maior despesa envolveu a aquisição de eletrodomésticos que permitem acesso a conteúdos culturais, como aparelhos de som e rádio, televisores, entre outros. Os gastos nesse caso foram de R$ 28,76, em média, por mês –ou 9,9% do total.
O levantamento ainda mede as despesas de acordo com as características de cor ou raça, sexo e nível de instrução dos brasileiros.
Entre 2017 e 2018, as famílias chefiadas por brancos gastaram R$ 373,85, em média, por mês, na área de cultura. A quantia é 69% maior do que as despesas verificadas entre as famílias com pessoas de referência pretas ou pardas, que gastaram R$ 221,14.
Já as famílias chefiadas por homens desembolsaram R$ 310,95 por mês, marca 17,9% superior à verificada entre as famílias em que a pessoa de referência era mulher.
A disparidade nos gastos também aparece no recorte por nível de escolaridade.
As despesas mensais com cultura foram de R$ 704,18 quando o chefe da família tinha ensino superior completo, oito vezes o valor registrado nos lares em que a pessoa de referência não tinha instrução.
“Quando consideramos as famílias pelo nível de instrução da pessoa de referência, podemos observar que há uma clara relação crescente entre o gasto médio com cultura e o nível de instrução da pessoa de referência”, aponta o levantamento.
4,8 milhões de ocupados em 2020
O Siic também traz dados sobre mercado de trabalho. Em 2020, ano marcado pelo início da pandemia, o setor cultural ocupava 4,8 milhões de pessoas no Brasil, conforme dados da Pnad Contínua, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, citados pelo levantamento.
A quantia representava 5,6% da população empregada com algum tipo de trabalho, formal ou informal, no país.
Em 2019, antes da crise sanitária, o número de trabalhadores no setor era maior, estimado em 5,5 milhões, ou 5,8% do total.
O IBGE afirma que a pandemia teve forte impacto sobre as atividades do segmento cultural, o que ajuda a entender a perda de 11,2% dos empregos no ano passado.
Entre os destaques apontados pelo instituto está o fato de 30,9% dos trabalhadores ocupados no setor cultural terem ensino superior completo, conforme os dados de 2020. Na média do mercado de trabalho em geral no país, essa parcela foi menor, de 22,6%.
A proporção de ocupados pretos ou pardos nas atividades culturais, de 43,8%, por sua vez, ficou abaixo da média do mercado de trabalho, que foi de 53,5% .
Em 2020, o trabalho por conta própria foi a principal forma de inserção de ocupados no setor cultural, chegando a 41,6% do grupo. Em seguida, apareceram as categorias de empregados com carteira assinada (37,7%) e empregados sem carteira (11,3%).
Conforme o IBGE, a taxa de informalidade, que mede a proporção de informais em relação ao total de ocupados, foi de 41,2% no setor em 2020. A marca supera a taxa verificada no total da população ocupada no país, de 38,8%.
Gastos públicos
O Siic reúne ainda estatísticas sobre gastos públicos na área de cultura. O total das despesas federais, estaduais e municipais com o setor cultural aumentou de R$ 6,2 bilhões em 2009 para R$ 9,8 bilhões em 2020.
Os valores, contudo, não levam em consideração a inflação, porque não há um deflator específico para esses gastos, diz o IBGE.
O instituto menciona que, apesar do aumento em valores nominais ao longo do período, houve uma queda na participação da cultura em relação ao total de despesas nas três esferas de governo.
Em 2009, o setor representava 0,08% dos gastos federais. Em 2020, a fatia recuou para 0,04%, segundo o IBGE.
Na esfera estadual, a participação passou de 0,49% para 0,38% no mesmo período. Nos gastos municipais, foi de 1,16% para 0,69% entre 2009 e 2020. (BNews)