A vítima foi baleada, espancada e depois sofreu golpes de facão até ter o coração arrancado. O ritual macabro aplicado no homicida Daniel Pereira dos Santos, o Cuminho, foi uma das terríveis cenas durante a rebelião na Penitenciária Lemos Brito (PLB), nesse domingo (20) (saiba mais aqui). Ao todo, cinco pessoas foram assassinadas e pelo menos 17 ficaram feridas – 11 por arma de fogo.
Na PLB, Cuminho era o líder da segunda maior organização criminosa do país, Comando Vermelho (CV) e foi brutalmente assassinado pelos rivais da Tropa A. Até um certo momento, o CV, a Tropa do A e a Katiara conviviam no mesmo espaço, mas o crescimento do número de integrantes da CV levou o líder das Tropa do A, Porquinho, a comandar uma execução dos adversários.
O Cuminho / (Foto: Assessoria de Comunicação da Polícia Civil)
Cuminho estava entre os presos que tentaram em uma fuga em massa pela porta da frente, na tentativa de sobreviver ao ataque da Tropa do A, maioria na PLB. No entanto, um policial penal, que estava em uma guarita, impediu a saída de todos. “Ele foi alcançado pela Tropa e morto com requintes de crueldade. Tudo indica que os demais que morreram também eram do CV”, contou o vice-presidente do Sindicato dos Policiais Penais (Sinsppeb) Fernando Fernandes.
O comandante do Batalhão de Guardas, o tenente-coronel Flávio Farias, que está à frente na operação para garantir a normalidade no complexo penitenciário, disse que viu o corpo de Cuminho. “O corpo dele havia um corte profundo no peito, mas não pude identificar por conta mesmo das condições do clima lá dentro. Acredito que só uma perícia para apontar”, disse ponderou.
No entanto, os autores da barbárie teriam disseminaram como um troféu fotos e vídeos do corpo de Cuminho. “Quando começaram a receber as imagens, imaginamos que o destino tinha sido o mesmo dos nossos maridos. Eles fizeram isso para causar terror na gente e pra servir de lição para outros grupos”, disse a mulher em frente ao Complexo Penitenciário da Mata Escura. Ela e outras fizeram uma vigília no local em busca de respostas sobre a situação de maridos e filhos.
A reportagem procurou a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap), mas até o momento não obteve resposta.
Condenação
Em março de 2017, o Tribunal do Júri condenou Cuminho a 164 anos de prisão pela chacina ocorrida em 09 de agosto de 2014 no bairro de Periperi. Na ocasião, seis pessoas foram assassinadas e duas saíram feridas na Rua da Guiné, localidade conhecida como “Congo”.
Cuminho, Diego de Souza Gonçalves, conhecido como Bide e José Carlos Ferreira dos Santos foram condenados por homicídio qualificado e tentativa de homicídio a 164 anos e 11 meses de reclusão e Jean Jorge Gonçalves dos Santos, o Papel, a 163 anos, quatro meses e oito dias. Conforme a denúncia do Ministério Público do Estado (MP-BA), Daniel, Diego e Jean agiram a mando de José Carlos.
Após a sentença, todos os criminosos foram encaminhados a PLB, onde cumpriam pena em regime fechado. A denúncia, oferecida pelo promotor de Justiça Jânio Peregrino, foi sustentada oralmente pelos promotores de Justiça Cássio Marcelo, Davi Gallo e Luciano Assis. A sentença foi proferida pela juíza Gelzi Maria Almeida Souza.
Lembre o caso
Na chacina, depois de serem atingidos por tiros de armas de fogo, morreram Marco Antônio Silva Santos, Amanda Reis dos Anjos, Adoniran Reis dos Anjos, Ricardo de Carvalho Silva, Alessandro Reis dos Anjos e Edmilson Santos dos Anjos. Saíram feridas Leilane Reis dos Anjos Menezes e Alessandra Reis dos Anjos. Os assassinatos e os atentados teriam relação com uma guerra entre facções criminosas.
Na Época, a polícia divulgou que Cuminho estava preso por tráfico, homicídio e sequestro, mas deixou a prisão por conta da saída temporária do Dia dos Pais. Ele ficou sabendo que estava acontecendo uma festa de aniversário de parentes de Leno, um traficante que era parceiro dele, mas que se tornou rival por mudar da facção Comando da Paz (CP), atual CV, para a extinta Caveira, e então resolveu “acertar as contas”.
por Bruno Wendel / Correio 24h