Norma de Morais, de 70 anos, viu a casa, os móveis e objetos pessoais debaixo d’água, no Jardim América, Zona Norte do Rio. Ela divide um terreno, a um quarteirão do Rio dos Cachorros, com as duas filhas, onde cada uma tem a própria casa. Contrariando o pedido de Simone, a mais nova, a idosa não quis deixar o imóvel e chegou a dormir no sofá encharcado. Na Rua Ministro Artur Costa, onde mora a família, vizinhos espalharam as perdas materiais do temporal, que alagou diversos municípios do estado, e teve, pelo menos, 12 mortes.
Simone ajuda nos cuidados com a mãe, que mora na casa do meio, cercada pela das filhas. Ela tentou ao máximo convencê-la a deixar o imóvel, onde a água alcançou mais de um metro de altura, em vão. Segundo ela, a água chegou de repente, só deu tempo de irem para a janela, por onde viram o cachorro de Norma nadar em busca de abrigo.
— Estávamos vendo TV no sábado. Minha mãe levantou do sofá para ir ao banheiro e quando voltou, a água já veio forte. Foi questão de minutos. Pegamos os documentos correndo, colocamos na parte de cima da estante. Eu falei para irmos embora, mas ela não quis sair de jeito nenhum. Tivemos que ficar na janela. O cachorro veio nadando para dentro de casa, ela botou um paninho e ele ficou deitado na estante. Ela sentou no sofá no meio da água, chegou a dormir nele encharcado. Quase morri de chorar com essa cena — relata Simone.
Nesta segunda-feira, um sobrinho foi até o terreno ajudar na limpeza das casas. Desolada, Norma não soube responder como está se sentindo diante da situação.
— Olha, minha filha, eu estou… — pausa, sem encontrar uma palavra para completar a frase. — Não adianta se desesperar, eu estou aqui sentada tentando… Não tem água para lavar a roupa. A gente está vendo aqui para conseguir uma comida, beber uma água. O pessoal da outra rua trouxe um pouco para a gente beber. É o que a gente está tentando agora — narra. (Extra)