Entre vinte viadutos, três pontes, três passarelas, um túnel, uma estação elevatória, marquises da Baixa dos Sapateiros e edifícios tombados do Centro Histórico de Salvador, a ponte sobre o Rio Jaguaribe, na orla de Piatã, é o único equipamento público de Salvador, com falta de manutenção e prazo de validade vencido, que corre risco de cair. “Das 23 obras de arte especial, por nós avaliadas, a ponte é que está em pior estado. Por toda estrutura, nota-se armaduras de ferro expostas e em estágio avançado de corrosão. O concreto de proteção está em péssimo estado na base do tabuleiro; no pilar de sustentação e nas vigas. E como vocês podem ver, (fez demonstração) com um simples palito de picolé, eu consigo derrubar o ferro, que compõe a armadura”, assim o presidente regional do Sindicato Nacional da Arquitetura e da Engenharia (Sinaenco), Carlos Alberto Stagliorio desnudou a questão.
NOVA RADIOGRAFIA
Em entrevista coletiva, Carlos Stagliorio apresentou uma radiografia completa dos bens públicos avaliados, de forma conjunta pelo Sindicato Nacional da Arquitetura e da Engenharia (Sinaenco); Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-Bahia) e Instituto de Manutenção do Brasil (Imab). Foi a quarta avaliação realizada, sendo que em 2006 foram registrados 14 pontos com problemas e, neste novo estudo, foram 28 casos avaliados. “Embora alguns dos problemas detectados, em 2006, data do primeiro estudo, tenham sido parcialmente solucionados, diversos bens públicos encontram-se deteriorados, pela absoluta falta de manutenção preventiva”, comentou o engenheiro Carlos Stagliorio. Dentre esses bens, destaca-se, negativamente, a conhecida Terceira Ponte, localizada sobre o rio Jaguaribe.
TERCEIRA PONTE
“Ela apresenta o pior estado de conservação e os principais problemas estão na estrutura; nas armaduras (ferragens) expostas; além de grande avanço de corrosão, após descolamento de parte da cobertura do concreto de proteção, na base do tabuleiro; no pilar de sustentação e nas vigas”. Esses defeitos podem resultar na falência da estrutura, caso não forem recuperadas a tempo”, esclarece. Ainda segundo o presidente regional do Sinaenco (Bahia-Sergipe) outras sete obras necessitam de ação imediata dos responsáveis pela manutenção, para garantir a segurança dos cidadãos, veículos, bicicletas que transitam no local. “A elevada alcalinidade das águas marinhas, espalhadas pelo vento, somam-se aos gases emitidos pelos veículos, indústrias e outras fontes de poluição para atacar o concreto e as suas ferragens”. E defende uma recomendação prática: “O antídoto para esses inimigos das estruturas de concreto de pontes, viadutos e edificações, entre outras, chama-se manutenção permanente, preventiva e corretiva, que permite prolongar a vida útil dessas estruturas por muitas décadas ou, no mínimo, garantir que atinjam os 50 anos previstos para a sua duração, em bom estado de conservação”.
RODÍZIO DE CARROS
Carlos Stagliorio disse que a próxima etapa para a cidade de Salvador é adotar o rodízio de veículos, assim como já ocorre em São Paulo. “Em 2020, a capital baiana terá um milhão de veículos nas ruas. Estamos sugerindo à Prefeitura que adote já o rodízio. Teoricamente teremos uma ausência de 20% dos carros, circulando nas ruas, o que trará um excelente benefício à população que hoje já dispõe de duas linhas de metrô e, em breve, terá o BRT”. Carlos Stagliorio garante que já dispõe de estudos básicos sobre a situação para apresentar ao prefeito ACM Neto. “Trata-se de uma recomendação, que não exige maiores investimentos uma vez que as calçadas e as ruas da primeira capital do país não foram projetadas para esse numero absurdo de veículos. E digo mais: se São Paulo não tivesse adotado o rodízio eu não sei se conseguiria suportar tantos veículos rodando em suas ruas dia e noite”.
FONTE NOVA
Em 2007, o Sinaenco realizou um estudo sobre a situação dos estádios das cidades então candidatas a sediar uma chave da Copa do Mundo de 2014 e divulgou em 1º de novembro de 2007, o estádio da Fonte Nova como em pior estado entre os 29 avaliados em todo o país. Em 25 de novembro, parte da arquibancada do Fonte Nova desabou, matando sete pessoas. Recentemente, um viaduto na Marginal Pinheiros, em São Paulo cedeu 2 metros. Ele também fazia parte do levantamento realizado pela entidade. “Esses são exemplos gritantes da importância da adoção de programas permanentes de manutenção pelas administrações públicas brasileiras, com dotações orçamentárias específicas, fundamentais para preservar o enorme investimento da sociedade para a sua construção”, justifica Carlos Stagliorio. Dados internacionais indicam como investimento mínimo necessário para a manutenção preventiva e corretiva de estrutura pelo menos 2% do orçamento anual dedicados à rubrica manutenção, o que raramente acontece no Brasil. Além de Salvador, o Sinaenco já elaborou análises semelhantes sobre as cidades de São Paulo, Belo Horizonte, Distrito Federal, Recife, Fortaleza, João Pessoa, Curitiba, Florianópolis e Rio de Janeiro. Após apresentação do estudo, o relatório entregue aos jornalistas será encaminhado ao Governo do Estado e a Prefeitura Municipal Salvador, com as recomendações do setor. O presidente do Sinaenco pediu desculpas pelas ausências das autoridades e, em especial, do presidente do Crea-Bahia, Luiz Edmundo, representante da instituição parceira neste trabalho. (Trbn)