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Mesmo destacando reflexões do passado no filme Torre das donzelas, que abre a mostra competitiva do 51º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro neste sábado (15/9) (veja a programação abaixo), a diretora Susanna Lira imprime a atualidade que sempre a norteou em filmes anteriores como Damas do samba (2015) e Intolerância.doc (2016). Em tempos de polarização acirrada, por campanhas políticas e afins, o filme revê elementos da ditadura no Brasil e encampa marcas feministas. “É inteiramente feito com a participação das mulheres. É sobre uma prisão em que o feminino, em suas potências, foi vivido e experimentado. A consciência de ser mulher e todas as consequências que isso trazia para aquele momento político é a tônica dominante da nossa narrativa”, avalia a diretora. Susanna Lira percebe o cinema como uma reinterpretação do mundo e se diz privilegiada de tentar “encapsular momentos e memórias” para a posteridade. Daí, brota a inspiração para seguir com a sétima arte. “A ditadura militar atravessou a história da minha família e isso balizou o tema do filme. Comecei a pesquisa do documentário, há sete anos, numa jornada extenuante e intensa. Depois das filmagens, tínhamos quase 150 horas de material”, conta a diretora. Para a cineasta, o longa não poderia estrear num festival mais apropriado do que o de Brasília. Ela aposta que vieses histórico e político acentuarão a margem de debates. “No início do processo do filme, pedi a cada mulher que desenhasse num quadro-negro como era a lembrança da torre (do Presídio Tiradentes, em São Paulo). Nenhum desenho foi igual ao outro. Isso foi algo que me comoveu e que me estimulou a criar uma teia de memórias ao lado delas para a chegada a um senso comum dos acontecimentos. O exercício dolorido, corajoso e solidário desse coletivo de reerguer aquela torre para deixar esse registro cinematográfico foi surpreendente”, explica a realizadora. Torre das donzelas propõe rupturas de silêncios de quase 50 anos. (CB)