Foto: dolgachov/Thinkstock/Getty Images
Cena de férias de verão: você vai para a praia de manhã e volta para casa ou para o hotel só no fim da tarde. Entre um mergulho e outro, corre na areia, joga frescobol, relaxa na espreguiçadeira… com o biquíni molhado! É um roteiro comum, mas nada recomendável – a umidade favorece a proliferação das bactérias, que se fortalecem para o ataque. E aí pronto, lá vem a desconfortável e irritante infecção urinária.
Adiar a ida ao banheiro é outro hábito que coloca você em perigo. Por isso, precisa entrar nas suas resoluções de ano novo parar de emendar uma tarefa na outra, no escritório ou na vida, sem pipi-stop. O ideal é dar essa pausa básica pelo menos uma vez no meio da manhã e duas à tarde para que o jato de xixi lave a bexiga e a uretra e, junto, leve embora os micro-organismos alojados ali. Ou então eles aumentam a probabilidade de você entrar para a estatística de cerca de 3 milhões de brasileiras que, todo ano, ficam alguns dias de molho em casa por causa dos sintomas da doença: dor, ardência, urgência para urinar, incômodo no baixo-ventre e, em determinados casos, sangue na urina. Para não correr risco, os especialistas entrevistados nesta reportagem recomendam também evitar manobras erradas na higienização da área, ter alguns cuidados durante o sexo e investir nos alimentos protetores.
Mulheres no alvo
Para cada homem com infecção urinária, existem 20 mulheres na mesma situação. Culpa da anatomia feminina. A uretra, o canal do xixi que sai da bexiga, é curtinha (tem de 3 a 5 centímetros de extensão). Além disso, ela fica muito próxima da vagina e do ânus, locais povoados de bactérias. “Se houver um desequilíbrio na região genital, no intestino ou mesmo na pele e algum micro-organismo se reproduzir demais, é fácil e rápido ele chegar à uretra e dali alcançar a bexiga”, explica a nefrologista Cristina Coelho Rocha, do Rio de Janeiro, membro da Sociedade Brasileira de Nefrologia. Já a uretra do homem é longa (chega a medir 20 centímetros) e sua entrada, na ponta do pênis, fica a uma distância considerável do ânus, o que dificulta o acesso dos agentes inimigos. Entendeu por que você é muito mais suscetível à doença do que seu parceiro?
Não brinca, não!
Há dois tipos de infecção urinária: o mais leve e comum é a cistite, que provoca uma inflamação na bexiga fácil de ser resolvida. Porém, se o tratamento não for adequado e eficaz, ela pode se tornar crônica e até evoluir para o tipo mais grave da doença, a pielonefrite – quando a bactéria que infectou a bexiga sobe para o rim. E, como esse órgão é cheio de vasos sanguíneos, existe o perigo de o invasor entrar na circulação, se disseminar pelo corpo todo e levar a pessoa à morte. É sério! Entre as mulheres afetadas pela cistite, 20% apresentam três ou mais episódios em um ano, em geral porque não adotam os cuidados preventivos pertinentes, tomam o medicamento errado ou têm uma alteração anatômica nas vias urinárias que as torna ainda mais predispostas.
A principal responsável pelo quadro (em 80% dos casos) é a Escherichia coli (E. coli), bactéria que habita normalmente o intestino e participa da digestão sem provocar danos. Mas, quando invade as vias urinárias, muitas vezes por falha na higiene íntima, a coisa complica. “A E. coli atravessa o canal da uretra e chega à bexiga, que, por ser quente, escura e úmida, é perfeita para a proliferação”, diz Cristina Rocha. E, se o invasor partir para o ataque, não tem como os sinais da doença não serem percebidos. Você sente dor ou ardência ao urinar, no início ou no fim, e passa a ir mais vezes ao banheiro (a bexiga fica tão irritada que dá vontade de fazer xixi mesmo quando a quantidade de líquido é pequena). Esses sintomas podem vir acompanhados de dor no baixo-ventre e de sangue ou sedimentos, que nada mais são do que pus, na urina. No caso de o rim ser infectado, ainda surge dor lombar, febre, calafrios, vômito e fraqueza. Lembre-se disso quando estiver no escritório horas a fio sem fazer xixi ou na praia, pensando em ir direto para o restaurante sem tirar o biquíni ainda úmido.
Automedicação de risco
Se você já pensou em tomar aquele remedinho tiro e queda indicado por uma amiga, cuidado: é a maior roubada! Melhor procurar um médico e seguir as orientações à risca. Usar o medicamento errado ou mesmo o certo por um tempo menor ou maior do que o indicado não é nada bom: faz com que você desenvolva resistência bacteriana, um quadro que tem feito bons antibióticos perderem o efeito. Mesmo as sulfas e as quinolonas (ciprofloxacina e norfloxacina), substâncias bastante receitadas nas últimas duas décadas contra a cistite, agora exigem um uso mais criterioso, segundo o infectologista Marcos Cyrillo, diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia. É por isso que os especialistas solicitam uma cultura de amostra da urina – importante para descobrir qual bactéria está presente ali –, além de um antibiograma, que aponta os antibióticos aos quais ela reage. “Mas, se você chega ao consultório com dor intensa, o médico pode prescrever um antibiótico antes mesmo de obter o resultado dos exames, e mudar depois se for necessário”, diz José Carlos Truzzi, da Sociedade Brasileira de Urologia, que estuda disfunções miccionais e urologia feminina. A boa notícia: os cientistas estão em busca de uma vacina efetiva e de larga escala para evitar o ataque às vias urinárias e ao mesmo tempo prevenir as infecções de repetição. Mas, por enquanto, a saída é investir nas medidas disponíveis.
Cuidados extras
Não é só a anatomia, os hábitos errados e o tratamento inadequado que aumentam o risco de a infecção se tornar recorrente. Os hormônios também podem jogar a favor das bactérias. “A falta do estrogênio causa desequilíbrios na flora vaginal não só na puberdade e na menopausa mas sempre que ocorrem irregularidades menstruais ou distúrbios como ovários policísticos”, avisa José Carlos Truzzi. O intestino preso, outra queixa predominante entre as mulheres, também aumenta a concentração dos micro-organismos culpados pela infecção urinária. Nesse caso, procure comer mais fibras. E, por fim, tenha alguns cuidados na vida sexual. Não porque a cistite seja sexualmente transmissível. “A mulher não contamina o homem, e vice-versa”, explica o urologista. Mas o atrito e toda a movimentação no sexo facilitam a entrada das bactérias na uretra feminina. Pior ainda se a transa acontecer sem camisinha. Então, sobe o risco de contrair doenças sexualmente transmissíveis que desequilibram a flora vaginal e predispõem à doença. (Boa Forma)