Amargosa: Conheça um pouco mais sobre cidade Baiana que tem registrado terremotos

O abalo na cidade de Amargosa ocorreu no sábado. Ele atingiu 4.6 na Escala Richter — Foto: Edson Andrade/Dicom Prefeitura de Amargosa

Além da fama por possuir um dos maiores festejos juninos da Bahia, Amargosa – que fica na região do recôncavo da Bahia – passou a ser conhecida também, desde o último domingo (30), por causa dos tremores de terra registrados no local. Do final de semana até esta quinta-feira (3), de acordo com a Rede Sismográfica Brasileira (RSB), o município já tinha registrado 15 casos de abalos. A situação trouxe medo para os moradores.

Segundo cálculos do Laboratório de Sismologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o abalo de domingo teve magnitude de 4.6, considerado alto. Nesse mesmo dia, um outro abalo de 2,7 foi registrado na cidade.

De acordo com o Laboratório de Sismologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), os tremores são causados por pressões nas falhas geológicas. O laboratório afirmou também que é normal que os tremores tenham magnitude abaixo de 3, portanto o terremoto de 4,6 registrado na Bahia é considerado de alta magnitude.

Conforme Marcos Ferreira, geofísico e sismólogo do Serviço Geológico do Brasil, em entrevista à TV Bahia, a situação ocorre na região Nordeste por causa do processo de separação do país com o continente Africano.

“O Nordeste teve um processo tectônico diferente do restante do Brasil. O Brasil começou a separar da África pela região sul-sudeste. A região Nordeste ficou presa à região do Congo. Uma vez presa, essa região começou a se movimentar e se tornou uma região muito retrabalhada. Ou seja: existiu muita força. Imagine que você está puxando uma coisa e tem algo preso ali. Aquela região presa vai ter uma ação de muitas forças”, contou.

Na madrugada de segunda-feira (31), os moradores voltaram a sentir o chão tremer na cidade. Houve registro também na terça-feira (1º). O último, que teve 1.8 de magnitude, ocorreu na quarta-feira (2). O distrito de Corta Mão é um dos pontos mais atingidos. Além de Amargosa, outras cidades também registraram tremores.

Os especialistas descartam possibilidade de uma tragédia ou de problemas mais graves por causa da situação.

Segundo a prefeitura de Amargosa, até a quarta, a cidade tinha registrado que cerca de 11 casas foram danificadas durante os tremores. Dez delas vão precisar de reparos.

De acordo com Ivan Silva, professor de geografia, que mora no distrito de Corta Mão, a comunidade já tinha sentido tremores há dois anos, mas nada como os de agora.

“A gente nunca sentiu esse tipo de tremor antes de 2018. Sempre morei aqui. Eu vivi aqui e nunca vi um tremor. A gente só veio perceber o problema de 2018 para cá. Para sentir esses tremores, foi a partir de 2018 para cá”, contou.
Desde então, os moradores têm sentido medo de que a situação volte a ocorrer. Ivan comenta que várias pessoas não conseguem mais dormir direito.

“De 20108 para cá, ninguém mais lembrava. Agora, em menos de uma semana aconteceram muitos abalos sísmicos que causaram muitos danos. Com isso, estamos tendo problemas psicológicos. Crianças e idosos estão preocupados. Várias pessoas não conseguem dormir”, contou.

“Qualquer barulho causa um susto grande. Todo mundo está com medo de que venha outro tremor e que o dano seja mais grave que o que já teve. Me deparei com famílias que não têm coragem de voltar para casa. Estão com medo da casa cair. Esses tremores, acredito, vão mudar a rotina da população. Vai levar um tempo para que volte a paz da comunidade. Todos nós estamos preocupados de outro tremores”, completou.

Ainda de acordo com o professor Ivan, ele não lembra de outra situação natural que tenha mobilizado tanto a população. Exceto pelos registros históricos de 1914 e 1960. Em ambos os casos, uma grande enchente atingiu a comunidade de Cortão Mão.

“A gente teve problemas de enchentes por causa de um rio. Catástrofes físicas só em relação às enchentes provocadas por um rio que passa dentro do distrito. Ele separa as dividas de Amargosa e de São Miguel das Matas. As únicas [tragédias] ‘físicas’ que lembro foram essas. As enchentes destruíram nossa vila”, contou.

“A de 1914 destruiu o comércio do nosso distrito. Aqui passava uma estrada de ferro e por isso tinha muitos armazéns. Eram armazéns de fumo – a atividade fumageira era forte aqui – de café e farinha. Em 1960, a enchente voltou e destruiu a vila outra vez. Muitas pessoas foram embora e o desenvolvimento diminuiu”, relatou.

Amargosa

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Amargosa tem 34.351 habitantes e tem 0,625 de Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM). O índice varia de 0 a 1, sendo que, quanto mais próximo de 1, maior é o desenvolvimento humano.

A cidade, ainda de acordo com o IBGE, tem uma área estimada em 431,673 km². Os dados apontam que 22,7 % do território tem esgotamento sanitário adequado. O principal bioma é a Caatinga e a Mata Atlântica.

Amargosa tem uma renda per capita de 8.855,02. Esse índice coloca o município na 173ª posição em relação às outras cidades da Bahia.

Segundo informações da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), a região onde hoje está situado o município de Amargosa era dominada pelos índios Sapuyás e Kariris, que viveram por lá até o final do século XIX.

Amargosa foi elevada de Vila a condição de cidade após o ato de criação, em 19 de junho de 1891, que foi assinado pelo então governador do estado da Bahia, José Gonçalves da Silva.

Em 1894 foi inaugurado o Hospital da Santa Casa de Misericórdia, por causa do crescimento populacional da cidade. A Catedral de Nossa Senhora do Bom Conselho, que fica na Praça Lourival Monte, começou a ser construída em 1917 e foi inaugurada em 1936.

Ainda de acordo com a UFRB, em 17 de julho de 1892 foi inaugurado na cidade o Ramal da Estrada de Ferro de Nazaré, com o objetivo de facilitar o comércio direto com os grandes centros e escoar a produção local.

Nesse período, até a década de 60 do século XX, Amargosa teve um grande desenvolvimento econômico, registrando o surgimento de vários estabelecimentos comerciais, incluindo grandes armazéns.

Com o encerramento das atividades na linha férrea, e com o declínio na produção de café, a cidade perdeu a hegemonia econômica para cidades como Santo Antônio de Jesus, Jequié e Feira de Santana.

A situação começou a mudar já no século XXI, graças aos investimentos em turismo, com a popularização da festa de São João, conhecida nacional e internacionalmente. Cerca de 100 mil pessoas, mais que o dobro da população, passa na cidade durante os dias da festa.

Atualmente é sede da 29ª Região Administrativa do Estado. Na cidade há também o Centro de Formação de Professores da UFRB, que começou a funcionar no ano de 2006.

Além dos tremores, a cidade também tem se preocupado por causa do novo coronavírus. De acordo com o boletim epidemiológico mais recente, divulgado na quarta-feira (2), a cidade tem 30 casos ativos. Oito pessoas morreram da doença na cidade desde o começo da pandemia no estado, em março deste ano. (G1)

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