Presidente da Abrasel sobre delivery diz: “você pode estar achando que faz algo benéfico, o que na verdade pode estar piorando sua situação”

Luiz Henrique do Amaral, presidente executivo da Abrasel na Bahia — Foto: Reprodução/Facebook

O entrevistado do Programa Meio-Dia e Meia na live do Voz Da Bahia, foi Dr. Luiz Henrique do Amaral, advogado e presidente executivo da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) da Bahia. Em sua fala, Luiz relatou sua visão para categoria e como vem ficando a situação dessa classe no momento da pandemia do novo coronavírus no país e no Estado.

QUEBRA:

De acordo com dados preliminares de uma pesquisa feita pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-BA), 96% dos estabelecimentos registraram queda de faturamento. Inicialmente, o presidente descreve tal situação da pandemia como caótica também para o aumento do desemprego, “a gente vive intensamente cada um desses dias e o que se coloca nesse desafio que é muito grande, já que as respostas são muitos curtas, de um intervalo de tempo muito pequeno, e as demandas são enormes e cada vez maiores, só para você ter uma ideia, o setor representa mais de um milhão de empresas no Brasil e mais de 6 milhões de pessoas empregadas diretamente, sem falar obviamente dos chamados empregos indiretos, nesta ordem, já tem uns dados que coloca que 20% desses bares e restaurantes no Brasil já fecharam às portas em definitivo, ou seja, você está falando de 200 mil empresas com fechamento decretado e o impacto direto de um milhão de pessoas já demitidas efetivamente no setor. Na Bahia, nós estamos falando em algo em torno de 42 mil empresas ligadas aos setores de bares e restaurantes empregando quase 300 mil pessoas, então isso mostra o tamanho do nosso setor. Nós somos hoje um dos maiores empregadores do Brasil, porque se você tem uma certeza e uma convicção é que todo município tem uma atividade de bar e restaurante nele, inclusive nos distritos e zonas rurais, é algo que a gente sabe da capilaridade que temos e da quantidade ao mesmo tempo, nós estamos falando de dados. Conhecemos e sabemos a realidade que também traz um grau de informalidade muito grande no setor estimado na ordem de 60% ou 70%, estamos falando em torno de 1 milhão e 600 mil empresas no Brasil, mais de milhão de trabalhadores que estão ligados a esse processo. Porque esse quadro muda rapidamente a todo momento? Nós estaríamos falando numa projeção de 60 a 70% de fechamento das empresas no setor do Estado da Bahia, infelizmente, 30 a 35 mil empresas fechando imediatamente se as coisas não mudarem”, diz.

MEDIDA PROVISÓRIA:

Henrique ainda ressalta que dia 30/05 a classe terá o retorno das pessoas que tiveram seus contratos suspensos através da MP (Medida Provisória), “contudo, mesmo aqueles que poderão estar abertos, sabemos que o consumo ainda é uma incógnita, ainda é uma coisa ser resolvida; e quando esse empregado retornar ele vai ter que ter estabilidade por 60 dias porque foi assim que a regra nos trouxe; e nós como fazer o pagamento dessas pessoas sem renda e sem crédito? Porque é muito bonita aquelas propagandas na televisão dos bancos se colocando à disposição, mas quando você chega na mesa do gerente você não encontra essa mesma receptividade, você não encontra essas mesmas oportunidades, então é o quadro confuso que é dívida sem funcionamento, sem geração de renda e sem crédito, a soma dessas variáveis nos colocam nessa posição de um fechamento estimado de 60 a 70%”, explica.

CRÉDITOS:

O presidente da Abrasel analisa que o órgão está sendo determinante em apoio a classe empresarial, “no sentido de geração de conteúdo, geração de conhecimento, não estamos aqui para “dourar a pílula” de ninguém, muito pelo contrário, a gente precisa identificar os valores e identificar as necessidades e agir de forma estruturada e organizada para conseguir vencer. E isso tem sido valioso até então esse quadro é um quadro difícil, é um quadro que a gente entende a realidade dele, mas entende também que todos nós juntos temos a capacidade de superá-los. Porque por mais feio que o seja, ele é cíclico, ele tem começo, meio e fim, agora a gente precisa saber conseguir atravessar tudo isso. Por exemplo, conseguir junto aos bancos que os créditos sejam liberados, pois tem muitos desapontamentos do crédito. Adianta um de nós bater na mesa do gerente? É difícil, mas nossa grande preocupação é identificar o problema e legitimar essa causa, automaticamente trazer pessoas para estar conosco nessa luta e nesse engajamento”, relatou.

ARTICULAÇÃO:

Ainda durante a entrevista, Henrique ilustra que nesse momento as redes sociais têm sido um meio de grande apoio a essa população, “procure as redes sociais da Abrasel, procure o site da Abrasel, procure estar antenado nos grupos de WhatsApp que tenham empresários do setor, porque existe campanhas estruturadas para isso. Hoje, nós estamos ativamente em uma campanha junto ao autor da MP (Medida Provisória) 936 feita pelo deputado federal Orlando Silva (PCdoB) de São Paulo que retrata: a possibilidade de reduzir jornada de trabalho e salário, por até 90 dias; ou a suspensão do contrato de trabalho, por até 60 dias. Ele já se comprometeu em colocar o setor de bares e restaurantes na possibilidade de se ter ampliação da MP 936, ou seja, essa dificuldade do dia 30 de maio, ela pode ser prorrogada se a gente conseguir que isso seja aprovado no Congresso, então é muito importante essa articulação, porque ninguém vai ficar sozinho e tudo isso vai passar, agora a gente precisa estar atuante e de forma estruturada e unida para cobrar”, afirma.

DELIVERY:

Sobre a nova modalidade de venda delivery (serviço que realiza a entrega da refeição comprada pelo cliente através de apps de delivery, whatsapp business ou telefone diretamente em casa), Luiz assegura que é importante o estudo para a implementação, “às vezes você pode estar achando que está fazendo algo benéfico o que na verdade pode estar piorando a sua situação, então é preciso ter muito cuidado. As grandes redes do Brasil que trabalham com delivery têm um significado nessa ordem de 5% a 8% de faturamento, para isso, então imagine o que é uma empresa de 5% a 8% de seu faturamento? Esse número muda quando você vai para outro modelo de negócio que chegam em alguns casos em até 20%. Então como é que você consegue estipular que é uma salvação para você, para seu negócio, trabalhar com alguma coisa que significa de 20 a 25% do seu negócio e que os aplicativos, das chamadas disrupção da nova economia, levam 27% desse processo? Como é que esta conta vai fechar? Então nosso grande entendimento, claro, agora é que a uma demanda do cliente em relação a essas questões de aplicativos e aprender isso sim na mesma forma que existe o outro lado o modelo de negócio impostos pelos aplicativos que inviabilizam o nosso negócio, e é a hora da gente fazer e que isso mude, porque não existe a capacidade de fazer com que cerca de 30% de seu negócio pela intermediação seja entregue a esses aplicativos”, revela.

PROMOÇÕES?

Com relação as promoções que vem acontecendo principalmente em algumas lanchonetes, ramo acolhido pela Abrasel, o executivo afirma que é preciso ter cautela sobre esse posicionamento, “muito cuidado com as contas, saber se você está fazendo Delivery para ganhar dinheiro ou para perder dinheiro, porque por mais maluco que pareça, na maioria dos casos e agora então, vender pode ser pior do que não vender, e às vezes você precisa entender esse quadro e para isso você precisa sentar e estudar, porque não é complexo, mas é uma atividade nova. Um papel e uma caneta você consegue identificar claramente quais são os seus custos, quais são as consequências e como você pode ou não fazer promoção daquilo que você quer incentivar, porque a gente só pode promover aquilo que eu desejo incentivar, eu não posso promover à venda de um prato por R$ 10 se ele me custa R$ 11, isso é uma promoção? Não! Isso é um suicídio”, diz.

HIGIENE:

A respeito da higienização e o controle de contaminação em bares e restaurantes, o presidente da associação indica que passar segurança para o cliente é um dos principais desafios, “não basta ser seguro, nós precisamos nos mostrar seguros e isso vai ser um dos nossos grandes desafios de comunicação, de como fazer com que a pessoa que frequenta os bares e restaurantes tenha essa sensação de segurança, que já é um espelho da nossa realidade. Eu preciso passar para a pessoa que vai sair da sua casa para consumir algo, se ela vai ter segurança ou não, então veja quais são desafios enormes, mas tem um princípio básico que está colocado a ele, a minha necessidade de se alimentar, e a minha necessidade de fazer lazer, porque nós temos dificuldades de limpeza, mas não temos nenhuma aplicação a ideia de que nós estaremos exterminados”, focou.

DEMISSÕES:

Sobre as demissões como saídas para a atual crise econômica devido a pandemia, o presidente da Abrasel reconhece que é preciso fazer uma equação de quanto sua empresa irá arrecadar de capital ao retornar, “você precisa entender qual é o tamanho do seu negócio, qual é a sua capacidade de pagamento e fazer os encaixes necessários nesse momento, infelizmente boa parte disso como nós somos altamente empregadores, nós temos o impacto direto com as decisões. Contudo, eu peço que não olhe a demissão como tábua de salvação ou único elemento usado para se resolver os problemas. A demissão significa o impacto de colapsar o outro, de colapsar o seu colaborador, os empregados que também já tem uma vida com você, já tem uma história com você e automaticamente vai diminuir o mercado de consumo, então tem toda uma relação humana e econômica. Mais uma vez, a economia não te respondendo, busque esse olhar humanitário e esse entendimento porque eu não tenho a menor dúvida que o momento é de conversar olho no olho”, concluiu.

Reportagem: Voz da Bahia

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