Ao Voz da Bahia, professora Renilda diz: “o que não posso, é aceitar essa política partidária que quer se inserir na educação de SAJ desvirtuando a gestão pública”

“Quem me substituir vai pegar uma locomotiva a mais de 200 km por hora, ou seja, não dá para começar do zero.”

Foto: Voz da Bahia

Na tarde desta quinta-feira a secretária de educação do município de Santo Antônio de Jesus, Renilda Nery Barreto, esteve no programa das 12h30 no Voz da Bahia, para comentar sobre o seu pedido de exoneração nesta última quarta-feira (19) (relembre aqui). A professora foi entrevistada por Marcus Augusto, veja abaixo.

Marcus Augusto: Antes de mais nada, quem havia escolhido o nome da professora Renilda para a secretaria de educação de Santo Antônio de Jesus?

Renilda Nery: “Fui escolhida pelo prefeito Genival Deolino. Houve um processo seletivo onde tinha uns sete ou seis nomes, todos passaram pela avaliação de currículo e pela entrevista. Mas a minha escolha veio do prefeito, que é o meu chefe, meu líder, com quem ontem tive uma conversa e avaliamos que, do ponto de vista da sustentabilidade política do prefeito, era melhor a minha saída. Venho conversando com prefeito porque ele sustenta o tempo todo a minha permanência na Secretaria de Educação, pelo trabalho que vimos desenvolvendo, pelos resultados, etc., mas observe o seguinte a forma como nós, eu e o prefeito conduzimos a secretaria de educação pautada nos princípios da política pública dos bons recursos públicos. Alguns enfrentamentos que não são populares fez com que uma base aliada do prefeito, uma base política, passasse a pressionar na mente pela minha saída e sabemos que obviamente todo o governo precisa ter uma governabilidade. No momento em que botamos postura administrativa, que feriu o interesse de vereadores da base, o prefeito passou a ter uma posição muito maior, entretanto, foram medidas as extrativas que o próprio gestor e quem está na gestão compreende e entende que não pode ser diferente. Uma série de questões administrativas que são populares, mas que precisavam ser feitas, por que senão educação não dava esse salto qualitativo, sobre os interesses de quem quer manipular. Portanto, chega um momento em que precisamos repensar reconfigurar. Tenho um desenvolvimento técnico, toda minha postura era de política pública técnica, embora em muitos momentos, fazemos conversa de negociação, todo ser humano é político por natureza. O que não posso, é aceitar essa política partidária que quer se inserir na educação e desvirtuar a administração pública”.”.

Marcus: Percebemos que, desde um momento a senhora não conviveu muito bem com um grupo de empresários, não são todos, mas aqueles, principalmente que apoiaram a campanha do prefeito Genival Deolino. Qual a sua relação com esses empresários?

Renilda: “Tenho um trânsito excelente com os empresários. Recentemente participei de uma sessão na ACESAJ (Associação Comercial e Empresarial de Santo Antônio de Jesus), então, tínhamos essa agenda bolada com a ACESAJ. O que digo é: o que o meu trânsito com relação à secretária de educação, enquanto cidadã, com empresários, não pode ser melhor! Agora, acredito que deva ter um ou dois, ou três, empresários que discorde de algumas medidas que tomamos, acredito que haja as insatisfações, não é necessário ter unanimidade, as críticas são muito bem-vindas, são benéficas, mas que precisamos ter respeito e eu não posso me manter na administração quando esse respeito falta a um trabalho sério que não é só de secretária, de uma equipe. Falta respeito à categoria de professores, aos acordos coletivos estabelecidos e eu não posso continuar porque me calar ou continuar, é pactuar com o que não quero fazer”.

Marcus: Professora Renilda Barreto, tenho que fazer essa pergunta porque é bom que possa esclarecer mais uma vez sobre a contratação do ex-secretário de educação de Salvador, Bruno Barral, o mesmo que participou da gestão do ex-prefeito ACM Neto (UB) na capital baiana. Essa escolha partiu da senhora?

Renilda: “Havia duas prefeituras que desenvolveram um trabalho muito bom e que eu gostaria de trazer para assessorar o município, a secretaria de educação de Teresópolis no Rio de Janeiro e a secretaria de educação de Salvador. Foram dois secretários que tiveram metodologias de trabalho muito interessantes. Fiz o convite ao secretário Bruno Barral, pessoa que não conhecia, que não tinha nenhuma relação, para implantarmos em Santo Antônio de Jesus a metodologia de administração por projetos. Foi uma metodologia que ele criou, extremamente interessante, e de fato nos interessamos, de fato trabalhamos com a equipe de Barral durante vários meses, fizemos um contrato através da inexigibilidade para aplicarmos no município. Isso fez com que basicamente atingisse todas as fases e quase todas as metas do prefeito, do plano de governo, em 2 anos, com a pandemia atravessada aí. Isso veio muito através da incorporação da metodologia de projetos com assessoria, mas eu nunca tive relação com Bruno Barral, vim o conhecer aqui, com trabalho a partir da assessoria, nunca trabalhei com ele antes, não tinha nenhuma relação”.

Marcus: Em relação à compra de cadeiras escolares por uma ata de adesão lá no estado de Alagoas, a senhora tem algo diferente do que foi dito na última entrevista aqui no Voz da Bahia?

Renilda: “De forma alguma, me lembro que vim nos programas e eu trazia até toda documentação relacionada a essa adesão de Ata. Ocorreu dentro de todos os princípios legais, obedeceu todos os pré-requisitos, reitero que foi um equívoco interpretativo do vereador Uberdan, toda a cotação de preços foi feita pelo banco e estou tranquila relação a esse processo. Não sei como está, o vereador Uberdan fez a denúncia, deu entrada no MP (Ministério Público), mas ainda não tenho nenhuma opinião ou devolutiva em relação a isso, não sei que ele fez. Tudo foi explicado, não há problema nenhum. Qualquer um pode denunciar o que pensa que não procede, isso faz parte também. Quem é do cargo de secretário, quem se torna prefeito, vai ter que lidar o tempo todo com isso aí”.

Marcus: Em relação à licitação do transporte escolar do município, de certa forma isso desgastou a professora Renilda junto aos empresários que apoiaram o prefeito Genival na campanha?

Renilda: “Eu até ouvi a hipótese de alguns vereadores se pronunciando. Como essa hipótese não é minha, nunca negociei com empresários que apoiaram a campanha, não sei nem quem são, nunca usei Secretaria de Educação, nunca discuti licitação com eles, até porque isso é completamente indevido e ilegal. Pode ter tido desgaste, pode ser que sim! Mas não entro nessa Seara, porque o que me compete é fazer um termo de referência dentro da legislação nacional e municipal atendendo todos os requisitos celulares pelo bom uso do dinheiro público e zelar pela segurança das crianças. Então, de fato, eu não admiti contrato, não assinei contratos que ferem sem os trâmites do termo de referência da licitação do edital de licitação”.

Marcus: Qual a recomendação que a professora Renilda deixaria para o novo secretário de educação da gestão do prefeito Genival Deolino que venha a lhe substituir?

Renilda: “As políticas públicas estão encaminhadas, várias ações estão encaminhadas, o meu substituto, ou a minha substituta, precisará dar continuidade. Penso que é importante a manutenção de equipe, porque quem me substituir vai pegar uma locomotiva a mais de 200 km por hora, ou seja, não dá para começar do zero. Temos uma equipe dentro da secretaria de comunicação extremamente qualificada uma equipe técnica que desempenha um trabalho muito bom, então, penso que quem vai substituir precisará olhar com cuidado a permanência de pessoas chaves na equipe para que o trabalho não pare. Espero que dê continuidade as políticas públicas implantadas, principalmente a alimentação escolar, quero falar da alimentação, que foi um projeto que vem da minha vivência, da minha experiência como educadora. A alimentação é importante! Digo que é uma política de permanência estudantil. Temos hoje no nosso município, 60% das crianças com carência alimentar, e provamos também através do nosso, gestão que é possível manter às três refeições utilizando a maior parte dos recursos federais, com uma alimentação balanceada, com café da manhã, almoço, lanche e janta. Então, apelo para a sensibilidade de quem vai me substituir. A continuidade da contratação de merendeiras, aumentamos quase mais de 100 novas merendeiras contratadas para dar continuidade a esse programa, então peço a sensibilização de quem vai substituir e também a participação das famílias. O que desejo é que aquele pouco/muito que fizemos em 2 anos, seja aprendida pela sociedade de Santo Antônio, e não como uma benesse da professora Renilda ou do prefeito Genival Deolino, como direito! O que desejo para Santo Antônio de Jesus para daqui a 45 anos é que nós não tenhamos escolas pequenas em casas encaminhadas ou adaptadas? Essa minha passagem pela secretaria municipal de educação, durou 2 anos e 3 meses, quase quatro, mas sinto como se tivesse sido 20 anos. O tanto que pude aprender e a minha possibilidade de convivência com pessoas maravilhosas, a minha possibilidade de conviver com os pequeninos, que convivi, com os adolescentes, pude aprender muito. E essa mistura de experiências do que já trazia penso que deu certo, fizemos muita coisa boa. Não importa o tempo que ficamos o que importa é o que realizamos nesse tempo que fica”.

Marcus: Percebemos, pela primeira vez desde que a senhora vem aqui em nosso programa, que percebo, não vou usar a palavra triste, mas, a senhora está decepcionada com alguma coisa?

Renilda: “Não Marcos, não. Óbvio que toda despedida é dolorosa, quando nós nos despedimos das pessoas queridas, da cidade que gostamos e muda para outra, até por um trabalho melhor… enfim, ou por que casou… toda despedida, toda partida é um misto de alegria e de tristeza. Tristeza por não estar como secretária na inauguração da escola que idealizei, tenho, mas é uma tristeza pequenininha, porque logo mais, posso estalar lá como cidadã, posso estar lá como professora, posso até desenvolver um trabalho voluntário lá, o que importa é o equipamento que as crianças vão ter. Saio da secretaria de educação, mas não saio da educação, não saio da vida pública, continuarei aqui na cidade por um bom tempo, porque tenho questões familiares muito importantes, voltei a dar aula na UFBA (Universidade Federal da Bahia). Volto ao campo de pesquisa e a vida continua. Então me despeço com alegria do dever cumprido, da missão cumprida, de ter feito aquilo que nós nos propusemos a fazer e sempre na construção coletiva. Quero deixar claro que tudo que foi possível fazer devido a centenas de pessoas que estavam nessa corrente, são milhares de pessoas fazendo a educação acontecer aqui no município e só tenho gratidão a todas elas.”

Marcus: Professora Renilda, qual conselhos a senhora gostaria de deixar para o prefeito Genival na escolha do seu novo secretário de educação?

Renilda: Acredito que o prefeito deverá continuar usando os mesmos critérios que usou comigo: alguém que compreenda o trâmite da educação, os programas federais, todas as obrigações que tem uma secretária e todas essas questões que fazem parte da nossa pasta. Fizemos uma gestão onde toda a diretoria se reúne, ao final da quarta-feira, das 16 horas às 18h30. Nossa gestão é aberta, tudo era discutido ali, desde como fazer uma licitação, problemas, tudo, tudo, tudo. Então, eu diria que qualquer técnico hoje, da secretaria, que participou dessa construção coletiva está apto. Tem excelentes diretoras também, tem outras pessoas da rede privada, ou que já andaram no serviço público… Então, quero só deixar os agradecimentos ao prefeito por essa parceria que tivemos aí, dois anos e três meses, por essa confiança no nosso trabalho, não tenho conselho não, só tenho a agradecer e desejo que a educação de Santo Antônio continue deslanchando.

Reportagem: Voz da Bahia

google news