Pelo segundo ano consecutivo, o Sol que nasce no 2 de julho brilha apenas timidamente mais que o primeiro. O famoso verso que abre o hino da data magna da Bahia precisou sofrer drástica adaptação por conta da pandemia. Em 2021, mais uma vez, o famoso cortejo cívico não vai às ruas celebrar a vitória da independência do Brasil na Bahia, ocorrido em 1823. Historiadores e estudiosos lamentam o não acontecimento dos festejos, embora considerem a suspensão necessária para evitar a transmissão do vírus.
“O 2 de julho é a libertação do povo baiano. É uma festa de liberdade. Inclusive de liberdade desta doença. Por isso é importante que estejamos todos vivos para comemorar a grande festa que vai acontecer daqui a dois anos, que é o bicentenário do 2 de julho”, diz Chico Sena, arquiteto e pesquisador da história da Bahia.
Em 2023, são exatos 200 anos da batalha de Pirajá, quando o povo baiano e seus tantos heróis (Mária Quitéria, Joana Angélica, Maria Felipa, Corneteiro Lopes) derrotou as tropas de Madeira de Melo. Para Sena, os baianos já deveriam estar se preparando para este grande acontecimento. “É uma data redonda que demora muito tempo para acontecer. Quando se completou 100 anos, a imagem do Senhor do Bonfim percorreu a cidade. Teve também a composição do hino do Bonfim, que faz menção à festa do 2 de julho. Para este bicentenário nós já deveríamos estar nos mobilizando para organizar um grande festejo”, diz Sena.
O historiador Rafael Dantas, pontua que, em outras epidemias existentes na cidade, os festejos ao 2 de julho continuaram acontecendo. “Claro que a mentalidade era outra. As pessoas foram pra porta das igrejas acompanhar o cortejo”, diz.
Dantas também fala dos impactos da ausência da festa para a construção identitária do baiano. “É evidente que esses dois anos sem festa de rua tem um impacto na história, mas acredito que quando as coisas voltarem ao normal, é possível que as pessoas retomem essa tradição. O caboclo e cabocla representam a união, a mistura identitária da Bahia: a formação do povo baiano. A participação deles foi colocada no sentido simbólico. Eles já saíram logo na primeira metade do seculo XIX, e desde o primeiro momento essa comemoração cívica foi abraçada pelas pessoas. A festa acabou tomando conta desse espaço, mas também no sentido cívico. É uma festa de lembrança, de saudar o momento em que a Bahia se tornou livre”, pontua. (Metro1)