Bolsa cai após discurso de Powell e dados de inflação no Brasil

Em seu discurso, Jerome Powell afirmou que o Fed pode precisar aumentar ainda mais as taxas de juros para garantir que a inflação seja contida nos Estados Unidos.

Valter Campanato/Agência Brasil

A Bolsa brasileira registrou mais um dia de queda nesta sexta-feira (25), aprofundando as perdas após discurso do presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), Jerome Powell, no Simpósio de Jackson Hole. No evento, Powell sinalizou que novas altas de juros nos Estados Unidos não estão descartadas, aumentado preocupações de investidores sobre a política monetária americana.

As negociações no Brasil também foram afetadas pela divulgação do IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo – 15) de agosto nesta manhã, que veio acima do esperado pelo mercado.
Com isso, o Ibovespa terminou o dia com baixa de 1,01%, aos 115.837 pontos. Na semana, porém, o índice acumula leve alta de 0,37%, com impulso da aprovação do arcabouço fiscal no Congresso.

Já o dólar teve um dia instável ante o real. A moeda americana até começou o dia em queda, mas passou a subir após o discurso de Powell. Terminou o dia praticamente estável, como leve baixa de 0,09%, cotada a R$ 4,874. Na semana, a divisa acumula desvalorização de 1,87%.

Em seu discurso, Jerome Powell afirmou que o Fed pode precisar aumentar ainda mais as taxas de juros para garantir que a inflação seja contida nos Estados Unidos.

“Embora a inflação tenha descido do seu pico, continua bastante elevada”, disse Powell.
O presidente do Fed disse, ainda, que as decisões do banco serão tomadas “com cuidado”, mas deixou claro que a instituição ainda não concluiu que o atual nível de juros no país está alto o suficiente para garantir o retorno da inflação à meta de 2%.

Para Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, o discurso do presidente do Fed coroou a visão de economistas e analistas de mercado de que os juros devem permanecer altos por mais tempo, que vinha ganhando força desde a divulgação da última ata do banco central americano.

“Embora muitos estejam alertando para os riscos de se manter políticas monetárias restritivas por períodos prolongados, a leitura neste momento é uma só: ainda não conseguimos enxergar o final da era dos juros altos”, afirma Igliori.

O economista-chefe da Kínitro Capital, Sávio Barbosa, concorda com a avaliação, afirmando que o comunicado, apesar de duro, veio em linha com as expectativas.

“O presidente do Fed sinalizou que a porta para novos aumentos de juros está aberta, evidenciando quais são seus principais pontos de atenção, mas que os próximos passos precisam ser dados com cuidado. Também sinalizou que o processo de desinflação deve demandar tempo e que a taxa de juros ficará em nível restritivo até a inflação modere. Ou seja, sinalizou juros altos por mais tempo”, diz Barbosa.

Na visão do economista-sênior do Inter, André Cordeiro, o discurso de Powell veio mais duro até mesmo que as últimas comunicações do Comitê de Política Monetária (Fomc) do Fed, o que é ilustrado pela afirmação de que o banco central dos EUA irá continuar a subir o juro até ter a certeza de que o trabalho está pronto.

Mesmo com a sinalização de alta de juros, os principais índices acionários dos EUA tiveram alta nesta sexta, numa sessão volátil. O Dow Jones, o S&P 500 e o Nasdaq subiram 0,73%, 0,67% e 0,94%, respectivamente, com a avaliação de que o tom mais conservador de Powell já era previsto.

“A mensagem de Powell é, em grande parte, a esperada, ou seja, está havendo progresso na luta contra a inflação, mas é muito cedo para dizer que a batalha está ganha e o Fed está preparado para aumentar ainda mais, se necessário”, disse Stuart Cole, economista-chefe da Equiti Capital.

“Meu palpite é que ele está sendo visto como não tão ‘hawkish’ (agressivo contra a inflação) quanto se temia”, completa.

DADOS DE INFLAÇÃO DO BRASIL PESAM NO NEGÓCIOS

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou nesta sexta que o IPCA-15 subiu 0,28% em agosto, depois de ter ficado quase estagnado por dois meses. O número ficou bem acima da expectativa em pesquisa da Reuters, que ouviu economistas e apontava avanço de 0,17%.

Em 12 meses, o índice acumula alta de 4,24% até agosto, contra projeção de analistas de 4,13%.
Para a estrategista de inflação da Warren Rena, Andréa Angelo, contudo, apesar de o IPCA-15 de agosto ter surpreendido para cima, os dados ainda mostraram uma boa leitura.

“O número de hoje confirma o otimismo de que a velocidade de arrefecimento da inflação de serviços está em linha com a projetada, embora com muita volatilidade entre as divulgações”, afirmou.

Mesmo assim, a Bolsa brasileira registrou queda mais uma vez e fechou abaixo dos 116 mil pontos, aprofundando as perdas após do discurso do presidente do Fed.

A baixa do Ibovespa era puxada principalmente pela Petrobras, que registrou queda de 0,80% em suas ações preferenciais e de 0,76% nas ordinárias, e pelo Itaú, com recuo de 1,72%. (BNews)

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