Na véspera do Natal, o presidente Jair Bolsonaro dedicou sua transmissão ao vivo em redes sociais para atacar o governador de São Paulo, João Doria, defender o armamentismo e para dizer que não se responsabilizará por efeitos colaterais de vacinas contra a Covid-19 distribuídas pelo governo.
— Eu não me responsabilizo por ninguém. Afinal, quem tem que se se responsabilizar por medicamento não sou eu — afirmou Bolsonaro.
Durante a transmissão que durou aproximadamente uma hora e 20 minutos, Doria foi o alvo preferencial do presidente, mesmo sem mencionar o governador de São Paulo pelo nome.
— Eu quero o cidadão de bem armado. Com o povo de bem armado, acaba essa brincadeirinha de “vai ficar todo mundo em casa que eu vou passear em Miami. Pelo amor de Deus. Oh… calcinha apertada! Isso não é coisa de homem. Fecha São Paulo e vai passear em Miami. É coisa de quem tem calcinha apertada. Isso é um crime — disse Bolsonaro.
A declaração foi uma menção à viagem que João Doria fez a Miami na véspera de Natal, onde foi flagrado frequentando uma loja sem usar máscaras, numa contradição em relação à recomendação que o governador de São Paulo vem fazendo desde o início da epidemia de Covid-19.
O caso veio à tona e fez com que Doria divulgasse um vídeo pedindo desculpas à população de São Paulo. Segundo ele, a viagem à Flórida foi para atender a duas conferências para as quais ele havia sido convidado.
Bolsonaro usou a transmissão para, novamente, colocar em dúvida asegurança das vacinas que estão sendo desenvolvidas contra aCovid-19. Ele disse que vai insistir na necessidade de que as pessoasque optarem por tomá-la assinem um termo de responsabilidade.
— Não vou aceitar uma vacina que não está devidamente comprovada, que está em fase, experimental. Não vou me responsabilizar. Pode ser que não aconteça nada. Pode ser que a vacina atinja seus objetivos. Eu não posso me responsabilizar — afirmou o presidente.
Atualmente, nenhum laboratório que desenvolve vacinas contra a Covid-19 fez o pedido de registro do produto junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O governo federal se comprometeu a adquirir pelo menos 254 milhões de doses de vacina desde que sejam aprovadas pela agência.
Enquanto isso, países como o Reino Unido e Estados Unidos já iniciaram a vacinação da sua população. Na América Latina, México, Argentina e Chile de verão ser os primeiros a imunização contra a doença.
Mais tarde, em pronunciamento em cadeia de rádio e televisão, em tom mais ameno, o presidente disse se solidarizar com familiares de vítimas da Covid-19.
— Nessa ocasião, solidarizo-me, particularmente, com as famílias que perderam seus entes queridos neste ano. Externo meus sentimentos, pedindo a Deus que conforte os corações de todos — afirmou.
Bolsonaro também aproveitou a transmissão em suas redes sociais para defender o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Kássio Nunes Marques, o primeiro indicado por ele a ocupar uma vaga na Corte.
Bolsonaro defendeu decisões tomadas pelo ministro que foram alvo de polêmica nas últimas semanas como a que suspendeu um trecho da Lei da Ficha Limpa que determina que o prazo de oito anos de inelegibilidade para condenados por órgãos colegiados tem efeitos após o cumprimento da pena. A decisão foi vista por críticos como uma flexibilização que favoreceria políticos “ficha suja”.
—Lei de mais atrapalha. Mas ele (Kássio)não acabou com a lei da Ficha Limpa. Sem querer defender o ministro do STF, Kassio Nunes, mas ele definiu apenas início da contagem do tempo (para a inelegibilidade). Em função disso, se disserem: “Ah…não voto mais no Bolsonaro. Olha quem ele botou (no STF)”. Paciência. Lamento. Não posso obrigar você a votar a mim. Você é dono do seu voto — afirmou.
Bolsonaro disse ainda que o próximo indicado a uma vaga no STF seguirá o mesmo “padrão” de Kássio Nunes Marques.
No fim da transmissão, Bolsonaro recebeu a visita do artista brasileiro Romero Brito, conhecido internacionalmente pelos quadros pintados com cores fortes e uso de formas geométricas na composição de rostos e paisagens. (O Vale)