Não. Os mares ao norte do Alasca e da Sibéria até ficam cobertos de gelo no inverno, mas as correntes marítimas próximas à costa quebram essa crosta em blocos, e enchem o território de partes só com água, onde não dá para caminhar.
Mesmo assim, os dois países são mais próximos do que parecem. Só 88 quilômetros de água separam as porções continentais da Rússia e dos Estados Unidos. Você provavelmente conhece essa região como Estreito de Bering, por onde os primeiros humanos chegaram à América, há 18 mil anos. Naquela época, o nível do mar era tão baixo que os dois territórios ficavam ligados por um tipo de ponte terrestre. Hoje não dá mais para ir a pé – quase toda a região está coberta de água.
Acontece que no meio do caminho existem duas ilhas, Diomedes Maior e Diomedes Menor, que facilitariam a travessia. A primeira pertence à Rússia; a segunda, aos EUA. E elas estão divididas por apenas 3,8 quilômetros de oceano.
É possível avistar o país de Putin sentado em uma cadeira no país de Biden. Durante o inverno, era comum que o mar entre as ilhas congelasse, o que viabilizaria uma trilha a pé ou até patinando.
No entanto, a coordenadora ambiental Opik Ahkinga contou à revista Science, em 2019, que isso não acontece desde 2012 – consequência do aumento de temperaturas na região. O único jeito de atravessar de uma para a outra agora é de barco, avião ou helicóptero.
Em Diomedes Menor, a ilha americana, há um vilarejo inuíte onde moram 83 pessoas, segundo o censo de 2020. Diomedes Maior, a russa, não é habitada de forma permanente. Há apenas bases militares, que observam a fronteira.
Inclusive, é por isso que você não conseguiria atravessar tranquilamente de um lado para o outro (mesmo que houvesse um rinque de patinação ligando as ilhas). Não há postos de imigração por lá. Se um morador de Diomedes Menor quisesse fazer um tour pela ilha gêmea, precisaria voar para outro estado dos EUA, e então pegar um voo para Moscou ou outra cidade russa com aeroporto internacional. Só depois conseguiria ir até a Sibéria e, finalmente, Diomedes Maior. Uma volta e tanto.
Ou seja, se, em tempos de paz, você decidir ir de um país para o outro, o Estreito de Bering certamente não é mais a melhor rota – como um dia foi para nossos antepassados.
Fonte: Jefferson Cardia Simões, líder científico do Programa Antártico Brasileiro
Por Maria Clara Rossini / Superinteressante