A taxa de desemprego no Brasil ficou em 11,8 % no trimestre encerrado em agosto, atingindo 12,6 milhões de pessoas, segundo dados divulgados nesta sexta-feira (27) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O resultado representa uma estabilidade frente ao trimestre encerrado em julho, quando a taxa também ficou em 11,8% e o número de desempregados também foi calculado em 12,6 milhões.
Já na comparação com o mesmo trimestre do ano passado (12,1%), a taxa de desemprego caiu 0,3 ponto percentual. Também houve melhora na comparação com o trimestre móvel anterior, de março a maio (12,3%).
Apesar dos sinais de recuperação do mercado de trabalho, os dados do IBGE mostram que o aumento da população ocupada tem sido puxado sobretudo pelo avanço da informalidade, que atingiu nível recorde, atingindo 41,4% da população ocupada, ou 38,8 milhões de brasileiros.
A taxa de desemprego ficou ligeiramente acima da mediana das expectativas de 27 consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data, que apontava para uma redução para 11,7%. O intervalo das projeções ia de 11,5% a 11,8%.
Trabalho sem carteira e por conta própria bate novo recorde
Informalidade no mercado de trabalho bate novo recorde no país, aponta Ibge
Segundo o IBGE, os número de trabalhadores por conta própria e sem carteira assinada bateram um novo recorde na série histórica da pesquisa, iniciada em 2012.
A categoria por conta própria chegou a 24,3 milhões de pessoas no trimestre encerrado em agosto, o que representa uma alta de 4,7% (mais 1,1 milhão de pessoas) em relação ao mesmo período de 2018.
O número de empregados sem carteira de trabalho assinada atingiu o recorde de 11,8 milhões de pessoas, o que representa um crescimento anual de 5,9% (mais 661 mil pessoas).
Já o número de trabalhadores com carteira assinada ficou em 33,0 milhões, o que segundo o IBGE representa uma estabilidade tanto na comparação com o mesmo período do ano passado como em relação ao trimestre anterior.
Trabalho informal avança e atinge 41,4%
A população ocupada no país cresceu 0,7% (mais 684 mil pessoas) em relação ao trimestre anterior e 2% (mais 1.841 mil pessoas) na comparação anual.
Segundo o IBGE, dos 684 mil novos ocupados na comparação com o trimestre encerrado em maio, 87,1% (596 mil) entraram no mercado de trabalho pela via informal. Em 12 meses, 1,4 milhão de pessoas, ou 78,3% dos novos ocupados, ingressaram pela informalidade.
Em agosto, 41,4% da população ocupada (38,8 milhões) se encontrava na informalidade, a maior proporção desde 2016, quando a pesquisa passou a investigar empregadores e trabalhadores por conta própria sem CNPJ, superando assim o recorde anterior, registrado no trimestre encerrado em julho (41,3%).
Este grupo de trabalhadores informais inclui os trabalhadores sem carteira assinada (empregados do setor privado e domésticos), os sem CNPJ (empregadores e por conta própria) e os sem remuneração (auxiliam em trabalhos para a família).
“Setores e atividades que têm característica de maior formalidade como a indústria, que tradicionalmente tinha cobertura grande carteira, não estão gerando vagas com vínculo tradicional pela carteira de trabalho”, destacou a analista da IBGE, Adriana Beringuy.
Dados divulgados na quarta-feira pela Ministério da Economia mostram que o país criou 121.387 empregos com carteira assinada em agosto, o melhor para o mês desde 2013. De janeiro a agosto, saldo é de 593 mil vagas formais.
No trimestre terminado em abril, o IBGE havia apontado para o primeiro crescimento real da carteira assinada, interrompendo 16 trimestres seguidos de queda. A divulgação dos dados de agosto reforça que este foi um movimento pontual.
“Esse movimento mais expressivo da carteira de trabalho ficou lá no trimestre passado e, de fato, não foi repetido nesse trimestre que se encerra em agosto”, enfatizou Adriana.
Falta trabalho para 27,8 milhões
A taxa de subutilização da força de trabalho ficou em 24,3%, o que representa uma queda de 0,7 p.p. em relação ao trimestre móvel anterior (25%) e estabilidade na comparação anual. Isso significa que ainda falta trabalho atualmente para 27,8 milhões de brasileiros, ante um contingente de 27,4 milhões no mesmo período do ano passado.
Segundo o IBGE, o país ainda tem um total de 4,7 milhões de desalentados (aqueles que desistiram de procurar emprego), o que representa uma queda de 3,9% (menos 193 mil pessoas) em relação ao trimestre móvel e estabilidade na comparação anual.
Já o número de subocupados ficou em 7,2 milhões. O número de pessoas trabalhando menos horas do que gostariam permaneceu estável em relação ao trimestre anterior, mas cresceu 8,5% (ou mais 568 mil pessoas) em relação ao mesmo trimestre de 2018.
Renda estagnada
O rendimento médio real do trabalhador, ficou estagnado, passado de R$ 2.297 no trimestre anterior para R$ 2.298. No mesmo trimestre do ano passado estava em R$ 2.302. Já a massa de rendimentos ficou estável em R$ 209,9 bilhões.
“Esse aumento na ocupação não foi suficiente para aumentar a massa de rendimento, porque o emprego gerado foi voltado para postos de trabalho na área informal. E é essa massa de rendimento que movimenta o mercado de trabalho de forma virtuosa”, afirmou o diretor adjunto de Pesquisa do IBGE, Cimar Azeredo.
Impacto na Previdência
Segundo o IBGE, a informalidade tem contribuído para diminuir o desemprego, mas afeta a arrecadação previdenciária no país. De acordo com os dados da pesquisa, 62,4% dos ocupados contribuem para a Previdência Social, percentual que está em queda desde 2017, quando era de 65,3%.
“Desde o início de 2019, a contribuição previdenciária só cai, enquanto a população ocupada cresce”, afirma Beringuy. A pesquisadora ressalvou, porém, que no começo de 2012 esse percentual chegou a 61,5%. (G1)