Até setembro deste ano todas as capitais do país e o Distrito Federal devem estar com o 5G implementado. É o que garante os compromissos firmados no leilão da teconologia, que vai tornar a conectividade mais veloz no país. Enquanto uma nova realidade digital parece estar mais próxima do que longe para os grandes centros, moradores de 13 cidades no interior baiano não possuem nem sinal de 4G disponível na área urbana.
Os dados são da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e refletem uma camada da desigualdade do país que não costuma ser levada em consideração: a exclusão digital. Nos municípios em que o 4G não funciona, os moradores só conseguem mandar mensagens, usar as redes sociais e fazer ligações via WhatsApp dentro das casas que possuem WiFi. Mesmo assim, nem sempre as redes são funcionais, especialmente nas zonas rurais.
Caetanos é uma das cidades do sudoeste da Bahia que não possui internet móvel 4G. Maria do Socorro Vieira mora na região de Riachão do Gado Bravo, a cerca de 15 minutos do centro da cidade. Para ter acesso à internet na localidade em que vive, Socorro desembolsa R$50 pela rede WiFi que instalou dentro de casa e reclama da qualidade do acesso.
“Tem dias que a gente não consegue nem ligar o WiFi, é uma verdadeira decepção. A gente paga e mesmo assim é uma humilhação”, relata.
Na zona rural também não há sinal de telefonia, assim, o WiFi instável é o único meio de comunicação entre os moradores e quem está fora da área. Segundo dados da Anatel, apenas 2,78% dos residentes de Caetanos possuem acesso ao 4G e 25,8% estão cobertos com a tecnologia 3G. Apesar disso, oito operadoras de telefonia estão presentes na cidade.
Entre os compromissos firmados pela agência no leilão que tratou sobre a implementação do 5G no Brasil, foi acertado que até o ano de 2029, 7.430 localidades rurais deverão ser atendidas com 4G ou tecnologia superior. Além disso, a Anatel decidiu que até 2030 a tecnologia 4G deverá estar presente em 2.349 trechos de rodovias federais.
Ao total, serão 35,7 mil quilômetros atendidos, o que representa a totalidade das rodovias federais pavimentadas. A medida é importante porque a tecnologia ficará disponível para aquelas localidades rurais que ficam à beira da estrada, como explica o gerente de universalização e ampliação do acesso da Anatel, Eduardo Jacomassi.
“O atendimento do 4G nas rodovias federais acaba atendendo as comunidades que vivem à margem das rodovias, que são muito comuns. Até o final de 2029, acreditamos que 100% das rodovias federais vão estar cobertas com, pelo menos, o 4G”, afirma. Atualmente, cerca de 36% das rodovias da Bahia possuem cobertura 4G, o que representa 3,5 mil quilômetros de estrada.
Em Rodelas, município localizado no Vale do São Francisco, menos de 1% da população de cerca de 9 mil habitantes acessa o 4G. Enquanto isso, 76% tem cobertura 3G. Apesar do atraso na localidade, a internet 4G foi lançada no país em 2013 e possui velocidade até 100 vezes maior do que a conexão por 3G. O advogado Euclides Gomes, 30, mora em Rodelas e conta que o seu cotidiano é afetado pela qualidade ruim do acesso à internet.
“Atrapalha bastante porque a gente só consegue ter acesso à internet dentro de casa com WiFi, a não ser que você tenha o chip da Tim ou da Claro. Esses funcionam uma hora ou outra, mas o sinal é de outra cidade”, diz. Euclides conta que a OI foi a primeira operadora instalada na cidade, mas que o sinal de internet não funciona.
O advogado tem esperança que com os acordos firmados pela Anatel, a situação melhore e o dia a dia da cidade seja facilitado com o incremento do 4G.
“Vai melhorar bastante, só o fato de que a gente vai poder ter acesso em qualquer lugar da cidade com uma rede que é daqui mesmo vai ajudar”, afirma.
Para Eduardo Jacomassi, da Anatel, o acesso ao 4G é um passo importante na garantia de direitos da sociedade e uma evolução importante para os municípios. “Hojo para você exercer sua cidadania, é preciso estar conectado à internet. Então, para além do lazer, há uma série de serviços públicos que estão disponíveis na internet. Desde receber o Auxílio Emergencial ou Bolsa Família, até marcar uma consulta no posto de saúde”, defende.
Em Dário Meira, no centro-sul baiano, a situação se repete. Só usa internet quem pode pagar por uma rede WiFi, já que a rede 3G que atende a cidade não funciona corretamente, como conta Berg Novais. Dono de uma padaria na cidade, ele conta que quando sai do centro comercial fica difícil acessar os dados móveis. “A gente por aqui só vive com o WiFi mesmo”, diz.
Luciano Stutz, presidente da Associação Brasileira de Infraestrutura para as Telecomunicações (Abrintel), explica que um dos maiores desafios para a implementação do 5G no Brasil é a ausência de leis municipais que tratem sobre o assunto.
“Os municípios que têm legislações, as fizeram ainda para as tecnologias antigas, que se utilizavam unicamente das torres para provimento de cobertura. Com as novas tecnologias de cobertura, com o uso de postes de grande porte, pequenas antenas e aproveitamento de infraestruturas existentes, essas leis precisam ser atualizadas e alinhadas à legislação federal de telecomunicações”, explica.
Em nota, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (Sedur) informou que já estão sendo realizados estudoa para adaptar os procedimentos de licenciamentos de antenas em Salvador para dar início às operações do 5G na capital, como determina a Lei Geral das Antenas. Já o governo do estado disse que participa apenas como usuário na implementação da nova tecnologia e que não podeinformar sobre prazos de instalação.
O 5G
No leilão realizado no ano passado, as operadoras Claro, Vivo e TIM arremataram três lotes na faixa de 3,5 GHz, a mais usada no mundo para o 5G, que atende consumidores finais e indústria. Os valores dos lotes foram R$338 milhões, R$420 milhões e R$351 milhões respectivamente. Inicialmente havia ficado combinado que até 30 de julho deste ano todas as capitais e o DF teriam acesso ao 5G.
Neste mês, no entanto, o Grupo de Acompanhamento da Implantação das Soluções para os Problemas de Interferência (Gaispi), aprovou a recomendação da Anatel de estender o prazo em dois meses. A data final agora é 29 de setembro.
O grupo é responsável por realizar a “limpeza” da faixa 3,5 GHz para que não haja interferências e ela possa ser utilizada exclusivamente pelo 5G. A motivação técnica para o atraso, segundo a agência, foi a impossibilidade de entrega de equipamentos pela indústria por conta da pandemia e escassez de semicondutores. A implementação da tecnologia vai possibilitar uma internet mais veloz.
Apenas 12 capitais do país estão preparadas para receber a nova tecnologia, segundo o Ministério das Comunicações. Entre as cidades estão Brasília, Curitiba, São Paulo e Aracaju. Salvador não está na lista.
Compromissos firmados no leilão do 5GAté 2029: 7.430 localidades rurais deverão ter 4GAté julho de 2029: municípios com mais de 30 mil habitantes devem ter pelo menos uma antena 5GAté 2030: 4G deverá estar presente em 2.349 trechos de rodovias federais |
Por meio de nota, a TIM informou que é pioneira nos testes para implementação de 5G no país e que vem realizando iniciativas em diferentes segmentos desde 2019. A operadora informou que aguarda a liberação da frequência 3,5 GHz pela Anatel para que possa iniciar a operação 5G em Salvador e nas demais capitais.
Já a Vivo informou que segue com o cronograma pós-leilão e que está pronta para cobrir com o edital, inclusive com a meta de que todos os municípios com mais de 30 mil habitantes devem possuir pelo menos uma antena 5G até julho de 2029. A Claro e a Oi não retornaram os questionamentos desta reportagem.
Cidades da Bahia que não possuem cobertura 4G
- Caetanos
- Caldeirão Grande
- Dário Meira
- Ibitiara
- Lajedão
- Lajedinho
- Macarani
- Manoel Vitorino
- Muquém de São Francisco
- Pé de Serra
- Piripá
- Rodelas
- Vereda
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