Especialista critica ‘banalização’ do implante capilar e ressalta importância de estrutura hospitalar na retaguarda

Especialista critica 'banalização' do implante capilar — Foto: Acervo pessoal

A morte de Cláudio Marcelo de Almeida, de 50 anos, após passar mal em uma clínica de implante capilar em Feira de Santana (reveja aqui), cidade a cerca de 100 km de Salvador, gerou debates sobre a intervenção estética. A família de Cláudio Marcelo acusa a clínica onde foi realizado o procedimento de negligência médica.

Nesta terça-feira (29), o g1 conversou com o médico Claiton Pires, especialista em transplante capilar, para ajudar a entender o que poderia ter acontecido com Cláudio Marcelo durante um procedimento de implante capilar. As causas da morte do homem ainda não foram confirmadas.

Claiton Pires chama atenção para o crescimento do mercado de implante capilar com profissionais sem experiência comprovada e, o que considera mais grave, a realização da prática em ambientes sem estrutura médica.

“A maneira correta para se fazer um procedimento como esse é investigar sobre a capacitação do médico e da instituição”.

“Hoje em dia está havendo uma banalização do ato de transplante por ser uma área lucrativa, mas também é uma área cara. Muitas vezes, os profissionais visam o lucro sem investimentos, o que gera problemas”, disse.

Médico critica banalização do procedimento estético — Foto: Acervo pessoal
Médico critica banalização do procedimento estético — Foto: Acervo pessoal

“O que deve ser feito é pesquisar junto ao conselho de medicina do seu estado, ver se a pessoa é de fato um médico, verificar o local onde é feito o procedimento, investigar de fato, e não escolher um profissional por conta de redes sociais”, completou.

Claiton destaca ainda que é fundamental que o procedimento seja feito em locais com estrutura médica. De acordo com a família de Claudio Marcelo, não havia desfibriladores na clínica onde ele sofreu a parada cardiorrespiratória. Funcionárias do local tentaram reanimá-lo sem uso de equipamento.

Claiton destaca importância de uma retaguarda hospitalar nas intervenções — Foto: Acervo pessoal

Apesar de ser pouco invasivo, o médico ressalta que este é um procedimento cirúrgico como qualquer outro.

Claiton destaca importância de uma retaguarda hospitalar nas intervenções — Foto: Acervo pessoal

“Não é porque é minimamente invasivo que podemos minimizar os riscos. No caso (de Cláudio Marcelo) temos duas possibilidades: um problema prévio que não pode ter sido identificado ou alguma condição no ato, que não estava em contento. Vale dizer que fora de um ambiente adequado tudo pode ocorrer. Não sabemos se foi uma condição previa ou não. Esse tipo de procedimento precisa ser feito com estrutura hospitalar ou care”, conta.

Para o médico, existe uma banalização dos procedimentos estéticos. Ele ainda destaca que é preciso que o profissional conheça o seu paciente.

“Temos uma banalização dos procedimentos. Em mais de 90% dos casos, o que acontece é que o paciente envia uma foto em uma dia e, no dia seguinte, vai fazer o procedimento, sem que se tenha nenhum tipo de conhecimento do paciente. São necessários exames de rotina, conhecimento prévio. Isso não pode ser feito às pressas. Na nossa clínica, não realizamos procedimentos com menos de 60 dias após o começo do tratamento”, conta Claiton.

O médico revela que o procedimento é pouco invasivo, mas ressalta que existem diferentes tipos de sedação para a realização do implantante. Ele ainda destaca a a importância do uso de materiais e medicamentos de qualidade.

“Para a retirada e implantação das raízes, é preciso fazer uns furinhos que variam entre dois e três milimetros, sob sedeção, que pode ser parcial ou profunda.

“Muitos locais têm buscado baratear serviços sem produtos de primeira linha. Se você contrata um anestesista, usa equipamentos de primeira linha, não tem como ter custo baixo e manter essa boa qualidade”, alerta o médico.

Polícia investiga

Nesta terça-feira (29), familiares de Cláudio Marcelo foram ouvidos pela polícia. De acordo com o delegado Roberto Leal, responsável pelas investigações, é aguardado o laudo médico para saber o que causou a parada cardiorrespiratória.

De acordo com Liliane Adorno, esposa de Cláudio, o homem saiu de casa na manhã do sábado (26) para fazer um implante capilar. Segundo ela, o médico que atenderia Cláudio havia informado que a operação duraria entre quatro a cinco horas.

Durante a tarde, Liliane ficou preocupada com a demora e falta de comunicação do marido e foi até o local, onde foi recebida pela secretária da clínica.

Homem morre após passar mal em clínica de implante capilar na Bahia — Foto: Arquivo Pessoal
Homem morre após passar mal em clínica de implante capilar na Bahia — Foto: Arquivo Pessoal

Liliane foi informada que ainda havia uma segunda etapa da aplicação do implante, que ela desconhecia. Segundo ela, a funcionária informou que o procedimento terminaria por volta das 21h, e por isso decidiu voltar para casa.

Às 23h, Liliane foi até a clínica novamente. Ela diz que foi informada que o marido passava bem e que um médico conversaria com ela na recepção. Neste momento, Liliane afirma que ouviu um barulho de oxigênio e decidiu abrir a porta do consultório médico, onde encontrou o marido sendo reanimado por enfermeiras. Ela diz ainda que não havia desfibrilador no local.

Até a ida ao hospital, Liliane acreditava que o marido estava vivo e que tudo ficaria bem. Porém, segundo ela, Cláudio teve uma parada cardíaca às 14h, horário próximo ao que ela esteve na clínica pela primeira vez. O cunhado de Cláudio, Júlio César Silva, também afirma que, segundo o laudo médico, ele teve uma complicação durante a tarde.

A família ainda afirma que apenas um exame de sangue foi solicitado pela clínica e que Cláudio não foi orientado a fazer exames de coração antes do procedimento.

Em nota, a clínica responsável pelo procedimento afirmou que o implante aconteceu normalmente e que, após concluído, Cláudio foi até o banheiro, onde foi encontrado caído no chão.

A nota diz que o paciente foi informado sobre o tempo de duração do procedimento, que é de 12h, e que assinou todos os termos de consentimento.

A clínica afirmou ainda que o médico responsável pelo implante capilar acompanhou o paciente até o Hospital Geral Clériston Andrade, também em Feira de Santana, e que a clínica se coloca a disposição da família.

O corpo de Cláudio foi velado e enterrado em Feira de Santana.

Cláudio Marcelo de Almeida, de 50 anos, foi enterrado em Feira de Santana. — Foto: TV Subaé
Cláudio Marcelo de Almeida, de 50 anos, foi enterrado em Feira de Santana. — Foto: TV Subaé

G1/BA

google news