O programa Bem Juntinhos, do canal GNT, vem mostrando momentos muito emocionantes de um casal muito amado pelo público: Fernanda Lima e Rodrigo Hilbert. No último episódio, intitulado como Maternidade, a apresentadora mostrou um vídeo do parto da sua filha , Maria Manoela, que nasceu há um ano e meio.
No vídeo, Fernanda é vista aparentemente comendo um pedaço da placenta e uma voz ao fundo diz: “Para chocar a sociedade”. O pai também come um pouquinho do órgão e uma mulher acrescenta: “Para chocar ainda mais a sociedade”. Durante o vídeo, também é possível perceber os filhos do casal arrumando o quarto do parto da mãe. “Vamos arrumar o quartinho para ela poder esperar a nossa irmãzinha”, disse Rodrigo.
Placentofagia
Rejeitada como resíduo hospitalar após o parto, a placenta tem seus nutrientes e hormônios reconhecidos como aliados da saúde materna pelas mães adeptas da placentofagia (nome dado ao ato de comer o órgão). A atriz Fernanda Machado, por exemplo, conta num vídeo em seu canal do YouTube que ingeriu o órgão na versão em cápsulas para dar uma força no puerpério. O mesmo fizeram as socialites Kardashian (as três irmãs consumiram suas próprias placentas). No Brasil, um dos casos mais conhecidos é o da apresentadora e chef de cozinha Bela Gil, que ingeriu a placenta com vitamina de banana após dar à luz em casa seu segundo filho, Nino.
Com mais pessoas interessadas em consumir a própria placenta houve também um aumento das versões em que o órgão pode ser oferecido: é possível consumi-la em cápsulas (a placenta passa por um processo de desidratação e vira pó, literalmente), em tintura (extrato líquido) e até mesmo nas opções em creme e pomada, estes para passar sobre a pele, inclusive a do recém-nascido.
Para realizar tudo isso, já existem também pessoas especializadas em manipular o órgão e até em formar outras manipuladoras. São as autodenominadas placenteiras, termo que surgiu entre profissionais da área no México. De acordo com a educadora perinatal e doula Pâmella Souza, de São Paulo, há relatos da existência do hábito de consumir e manipular placentas desde 600 A.C., na medicina tradicional chinesa. Na idade média também há casos em países da Europa. A especialista divide os conhecimentos no estudo da placenta com sua parceira de trabalho Raquel Carvalho, que é obstetriz formada pela Universidade de São Paulo (USP). As duas estão à frente da “Segredos da Placenta”, organização criada após um ano de estudos da placenta, em 2016. De lá pra cá também participaram de uma certificação com a placenteira chilena Daniela Salinas, em parceria com a “Maternidad Lavanda” em Assunção, no Paraguai. E ministram o curso de Certificação de Medicina Placentaria. “Mais de 200 mulheres já foram atendidas por meio dos produtos medicinais manipulados a partir de suas placentas. É um resgate e ao mesmo tempo a preservação da ancestralidade feminina”, conta Pâmella.
Comer placenta tem riscos?;E benefícios? O que diz a ciência?
Um dos grandes impasses que a chamada “medicina da placenta” encontra hoje é a falta de estudos científicos que comprovem sua eficácia no que diz respeito à saúde. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, por exemplo, divulgou um alerta em 2017 para que as mães evitassem a ingestão de cápsulas de placenta depois de um estudo ter indicado que um recém-nascido contraiu uma perigosa infecção por isso. No Brasil, a Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) também desaprova a prática, justamente por não haver estudos suficientes que comprovem a segurança da prática.
Pesquisadores do Weill Cornell Medical College fizeram uma revisão de estudos sobre o assunto e concluíram que há muitos riscos em potencial e nenhum benefício na placentofagia. Os defensores da prática afirmam que o consumo da placenta melhora a produção de leite, dá mais energia e diminui os sintomas do baby blues. Já os médicos apontam para o risco de infecção e contaminação pelas toxinas e hormônios que se acumulam no órgão durante a gestação. “Não coma sua placenta”, disse um dos autores da revisão de estudos publicada no American Journal of Obstetrics & Gynecology , Amos Grünebaum, em entrevista ao site Live Science. Um estudo da Northwestern University também sugere que a prática pode ser perigosa porque uma das funções do órgão é absorver toxinas para proteger o bebê.
Mas isso pode estar mudando aos poucos. A Universidade de Jena, na Alemanha, publicou no início de 2017 um estudo preliminar em que listou os benefícios hormonais e para a saúde de ingerir a placenta. Um outro estudo, publicado em 2018 na revista Birth, feito pela Universidade de Nevada, nos Estados unidos, mostrou que as mães que consumiam a placenta não ofereciam danos aos recém-nascidos, quando comparadas às que não consumiam. Para chegar à conclusão, foram revisados cerca de 23 mil registros de nascimento em que as mães ingeriram a própria placenta, sendo que os pesquisadores não encontraram aumento do risco de internações em UTI nas primeiras seis semanas de vida; hospitalização neonatal nas primeiras seis semanas; e morte neonatal/infantil, no mesmo período. (Crescer)