‘Fui contaminada e acabei levando para minha família’, diz funcionária de hospital na Bahia

Foto: Divulgação

Profissionais da saúde de hospitais na Bahia denunciam a falta e a reutilização de equipamento de proteção individual (EPIs) que ajudam a prevenir a contaminação pelo coronavírus.

Uma funcionária do Hospital da Mulher, que fica na capital baiana, conta que não recebe os equipamentos adequados pra trabalhar.

“Eu me sinto humilhada, porque eu fui contaminada e acabei levando para minha família. Não sei para quantas pessoas eu transmiti, porque até aparecer os sintomas eu tive contato com muita gente. O hospital [precisa] se pronunciar, tomar uma providência para dar o equipamento adequado para os profissionais de saúde de todos os setores trabalharem com segurança”, disse ela.

A Bahia registra, desde os primeiros casos do coronavírus no estado, 215 profissionais de saúde infectados pela Covid-19, até esta terça-feira (5). A informações foram divulgadas pela Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab).

Por causa de surtos do coronavírus em várias unidades, alguns hospitais estão passando pelo processo de desinfecção. Apesar disso, denúncias envolvendo o fornecimento de EPIs são reincidentes.

Uma das unidades que passou pelo procedimento em Salvador, foi o Hospital Santo Antônio. Lá, 64 profissionais testaram positivo para a doença.

Hospital Santo Antônio, em Salvador, passou por desinfecção — Foto: Reprodução/TV Bahia
Hospital Santo Antônio, em Salvador, passou por desinfecção — Foto: Reprodução/TV Bahia

Pacientes do Hospital Santo Antônio foram transferidos para que o procedimento de desinfecção fosse feito. Dois técnicos de enfermagem da unidade morreram: Antônio César Ferreira Pitta de Jesus, de 48 anos, e Rosana dos Santos Cerqueira, 44.

Outra unidade que está passando por desinfecção na Bahia é o Hospital Costa do Cacau, na cidade de Ilhéus, no sul do estado. Lá, 57 profissionais já testaram positivo para o coronavírus, um deles foi um médico, o primeiro profissional de saúde a morrer em decorrência da Covid-19 na Bahia.

Também em Salvador, 25 profissionais do Hospital Prohope estão afastados por causa da doença. De acordo com um dos funcionários da unidade, que contraiu o coronavírus e já se recuperou, a prática de reaproveitamento dos equipamento de proteção individual (EPIs) é comum, o que pode ter levado às contaminações.

Ele, que prefere não se identificar, denuncia ainda que os profissionais têm recebido apenas uma máscara e são orientados a usar o mesmo equipamento por sete dias.

“Eles orientaram a guardar em uma vasilha plástica lá, que ficam todas empilhadas uma em cima da outra. E assim aumentando o risco de contaminação dos profissionais. Lá também não está disponibilizando macacão impermeável, a capa que está sendo usada é uma que o hospital fez para os profissionais. E todo profissional acaba se expondo. Não tem um local certo de paramentação, desparamentação”, relata o funcionário”

Outra profissional de saúde também fala sobre as condições de trabalho no Hospital Cardio Pulmonar, que também tem casos de Covid-19 entre os funcionários.

“Essa situação é porque um número elevado de profissionais apresentou sintomas e foi confirmado com Covid, e eles [direção do hospital] não dão assistência a gente, nem para as pessoas confirmadas. E para a gente fazer o exame [de detecção do coronavírus], a gente tem que apresentar o sintomas”, contou.

O Conselho Regional de Enfermagem (Coren) e o Sindicato dos Médicos da Bahia (Sindimed) dizem que estão fiscalizando as denúncias recebidas.

“Estamos fechando agora um convênio com a Universidade Federal de Santa Catarina, para treinar e capacitar 300 mil profissionais em todo o Brasil. Essa capacitação será de uso adequado dos equipamentos de proteção individual e o tratamento de pacientes em unidades de terapia intensiva”, disse a presidente do Coren, Maria Inez de Farias.

“Estamos fazendo visitas paulatinas para verificar in loco se existe condições adequadas de trabalho, presença de EPIs e tudo mais. O Sindimed hoje, por exemplo, visitará quatro locais diferentes para averiguar as condições de trabalho dos médicos”, complementou a presidente do Sindicato dos Médicos, Ana Rita de Luna.

Por meio de nota, o Hospital Prohope informou que segue os protocolos de segurança para atender os pacientes e profissionais de saúde com segurança.

Também em nota, o Hospital Cardio Pulmonar disse que os funcionários que desenvolvem sintomas respiratórios são afastados imediatamente. O Cardio Pulmonar informou ainda que, no caso dos funcionários que testem positivo para Covid-19, é feita uma investigação dos possíveis contatos desse funcionário.

Já o Hospital da Mulher disse que afastou os profissionais que tiveram teste positivo para o coronavírus. A unidade informou que não é um hospital de referência para o tratamento da doença, mas que, no caso de pacientes que chegam à unidade com suspeita do coronavírus, essa pessoa é colocada em isolamento. Sobre os EPIs, o hospital informou que segue as normas dos órgãos de saúde competentes. (G1)

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