Igrejas estão pregando “evangelho Prozac” em vez de doutrina bíblica, alerta teólogo

“No Novo Testamento, a pergunta era: ‘Deus, como podemos lhe servir?’. Hoje, é: ‘Deus como pode nos servir?’.

Foto; Divulgação

A preocupação com a genuína pregação do evangelho de Deus tem norteado a mente de alguns teólogos e pastores dentro e fora do Brasil, o que não é por acaso, segundo o especialista Lourenço Stelio Rega, mestre em Teologia e doutor em Ciências da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Em um artigo publicado por ele recentemente, Rega fez uma análise do que seria atualmente a pregação do “evangelho Prozac”, isto é, algo que, diferentemente da doutrina bíblica, visa oferecer ao ser humano uma noção falsificada de Deus, tal como se este fosse uma droga (medicação) cujo objetivo é manter a autossatisfação constante dos indivíduos.

“Muito do evangelho pregado e vivido hoje assenta-se na ideologia contemporânea do individualismo, em que o homem é o grande deus neste século. O que vale é a sua vontade, seus sentimentos, suas intuições, sua interpretação da realidade, seu desejo e seu projeto de vida”, inicia o autor.

Para Lourenço Stelio Rega, a busca por satisfação a qualquer custo tem feito com que pessoas não sejam fiéis às Escrituras, pois o que vale para elas é o que “funciona” aos próprios olhos, mesmo que isso lhe custe a salvação.

“É um tipo de religiosidade narcisista voltada somente para o indivíduo e seus interesses pessoais. Deus não conta, a não ser se ele puder dar um ‘jeitinho’ no tal projeto de felicidade e sucesso”, explica o teólogo.

O especialista, que já foi professor, deão e diretor da Faculdade Teológica Batista de São Paulo, também apontou como exemplos o maior número de publicações, pregações e métodos que retratam a figura de Deus como se fosse um “personal guru”, surgindo daí parte do que hoje se chama “coach gospel”.

“Sermões, palestras, livros e mensagens nas redes sociais estão repletas desse ‘evangelho Prozac’ individualista, alimentado desde o Iluminismo, que afasta o indivíduo da vida concreta, tornando-o consumidor da realidade, em vez de ser construtor e protagonista dela”, continua.

Ele acrescenta: “As boas-novas do arrependimento e a graça de Cristo são substituídas pela transformação do evangelho em mercadoria e bem simbólico de consumo, que deve ser negociado com Deus por meio de ‘despachantes-pastores’, ou escritores influencers, que conhecem bem como fazer “mandinga” para dobrar a vontade lá do alto”.

Retorno à Verdade

Por fim, o teólogo finaliza seu artigo para a Revista Comunhão fazendo um apelo aos cristãos para que retornem às verdades da Bíblia sagrada, onde o foco está em servirmos a Deus, seguindo os passos de Jesus Cristo, e não o contrário.

“No Novo Testamento, a pergunta era: ‘Deus, como podemos lhe servir?’. Hoje, é: ‘Deus como pode nos servir?’. Como na época da Reforma Protestante, precisamos mesmo voltar às Escrituras e recuperar o sentido real do evangelho e o nosso papel no plano de Deus para recuperar toda a criação”, conclui.

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