A orientação sexual é um tema que provoca inúmeros debates, mas também a violência e a morte de milhões de indivíduos homossexuais no mundo. De acordo com o relatório da Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros e Instersexuais (ILGA), o Brasil é o país onde mais matam pessoas trans e a nação americana onde mais matam homossexuais.
Segundo o Grupo Gay da Bahia (GGB), uma pessoa LGBTQI+ é morta a cada 19 horas no país, sendo que a cada 26 horas uma pessoa trans é assassinada, assim como levantado pela Rede Trans Brasil. A realidade das pessoas que não entram no espectro heterossexual de normatividade tende a ser permeada pela violência, invisibilidade e abandonos.
O apresentador Luciano Huck relatou um pouco sobre as dificuldades enfrentadas, em 1999, quando seu irmão Fernando Grostein lhe contou sobre sua sexualidade. O fundador do “Quebrando o tabu” e cineasta, de 40 anos, escolheu o irmão para ser a primeira pessoa da família a saber que ele é homossexual.
O relato está no recém-lançado “De porta em porta”, livro que Huck escreveu durante o isolamento social neste tempo de pandemia, e reúne memórias pessoais, aprendizados e conversas com personalidades de diversas áreas.
De acordo com o resumo da obra, o apresentador se viu isolado dentro de casa, em 2020, quando começou a refletir sobre os impactos da pandemia, e decidiu iniciar uma série de conversas com pessoas famosas e anônimas, mostrando o que cada um tem a oferecer ao mundo onde vive.
Luciano explica que Fernando chegou e simplesmente lhe disse: “Eu sou gay”. O cineasta tinha 20 anos e explicou que a sua sexualidade não era uma questão de escolha, era a forma como tinha nascido e como era, não havia o que pudesse ser feito. O apresentador, que dedicou um capítulo inteiro ao assunto, disse que concordou no primeiro momento, mas que sentiu um “choque”.
Ainda em seu livro, Luciano Huck explica que esse choque tinha mais a ver com a “forma obtusa, estúpida e quase desumana” de como o mundo dita as normas comportamentais. Ele explicita que queria apenas que seu único irmão não precisasse sofrer nenhum tipo de preconceito e tivesse as portas sempre abertas, mas que não é assim que as coisas funcionam.
O relato marca, de forma emocionante, o momento em que Huck percebe que carregava muito preconceito dentro de si e que ele não era tão próximo nem tão parecido com seu irmão como imaginava. De acordo com ele, tudo isso porque foi “submetido a uma espécie de pós-graduação machista”, que o tornou incapaz de enxergar os preconceitos na forma de pensar, dizer e fazer, e que hoje reconhece que antes disso tinha medo de enfrentar os próprios preconceitos.
Fernando também narra no livro como o irmão “perdeu o chão” quando ele lhe contou sobre sua sexualidade, mas que seu instinto imediato foi de acolhimento e proteção. Luciano lhe ofereceu a mão e depois um abraço, dizendo que eles estavam juntos, justamente num momento em que o cineasta estava em busca de aceitação social.
De maneira arrependida, Luciano explica que, desde a infância, achava que tinha obrigação de repetir frases e reproduzir comportamentos que reforçassem a “virilidade” tão estimulada socialmente, mas que hoje percebe que esses comportamentos apenas colaboraram para que uma geração inteira de homens se tornassem traumatizados e, no mínimo, sexualmente confusos. (O Segredo)