O seu smartphone te escuta. Não, não apenas quando você ativa a Siri ou a Google Assistant. Ele te escuta para saber sobre o que você conversa e te mostrar produtos relacionados: tudo é sobre negócios.
Você provavelmente já ouviu isso antes ou já pensou sobre isso. Acontece que, ao que parece, isso é verdade — mas não tão diabólico quanto parece, como nota a Vice.
Quem afirma é o consultor de segurança Dr. Peter Henway, da Asterix. Segundo Henway, alguns aplicativos, como o Facebook, possuem acesso aos dados de seu microfone. Esses apps terceiros, sem colocar a Siri ou Assistant em jogo (já que precisam de uma frase de ativação para a coleta), nota Henway, que escolhem o que farão com os dados recebidos.
Não há razão para as empresas não estarem fazendo algo assim. Faz sentido do ponto de vista do marketing
“De tempos em tempos, trechos de áudio voltam para [outros aplicativos como o Facebook] para os servidores, mas não há um entendimento oficial sobre quais são os gatilhos para isso”, explica Peter. “Seja com base no tempo ou na localização ou no uso de determinadas funções, os apps certamente estão usando essas permissões de microfone periodicamente. Todos os elementos internos dos aplicativos enviam esses dados de forma criptografada, por isso é muito difícil definir o acionador exato”.
Ou seja, como o seu smartphone te escuta? O consultor afirma que existem palavras-chave que ativam uma coleta. Da mesma maneira que um “Ok Google” vai ativar o Assistant, se você [supostamente] disser uma palavra como “Japão”, o Facebook vai te mostrar as melhores passagens disponíveis para o país na próxima vez que você estiver online.
- Apesar dessa afirmação, não há empresa de ecommerce ou rede social que assuma esse tipo de ação
“Não há razão para as empresas não estarem fazendo algo assim. Faz sentido do ponto de vista do marketing, e seus acordos de uso final e a lei permitem isso, então eu diria que eles estão fazendo isso, mas não há como ter certeza”, afirma o consultor.
Testando na prática
O pessoal da Vice resolveu fazer um teste por conta próprioa. Duas vezes por dia, durante cinco dias, eles falaram em voz alta ao lado de um smartphone algumas frases que poderiam disparar essa coleta e, posteriormente, exibição de anúncios em redes sociais.
- Uma das frases ditas era “eu preciso de camisetas”. O Facebook começou a exibir propagandas sobre “roupas de qualidade” logo em seguida, em menos de 24 horas.
- Após uma conversa sobre os dados de celular estavam acabando, a rede social começou a exibir propagandas de planos celulares mais baratos e com mais GBs disponíveis.
Qual o perigo disso? Obviamente, as companhias afirmam que não vendem seus dados e hábitos de navegação. O perigo, como nota a Vice, reside em agências de espionagem que podem abusar dessa coleta de alguma maneira.
Em vez de audiência no horário nobre, eles agora rastreiam os hábitos de navegação na web
Além disso, se você não é uma pessoa que lida com informações sensíveis (como advogados e jornalistas), não muito com o que se preocupar — vamos colocar ênfase na palavra “muito”. Essa coleta é como se os anunciantes olhassem o seu histórico de navegação para te vender produtos.
Sobre isso, o consultor de segurança Peter Henway deixa claro: ” É apenas uma extensão do que a publicidade costumava ser na televisão. Em vez de audiência no horário nobre, eles agora rastreiam os hábitos de navegação na web. Não é o ideal, mas eu não acho que isso represente uma ameaça imediata para a maioria das pessoas”. (TecMundo)