Ozempic: Tudo o que você precisa saber antes de usar a ‘caneta emagrecedora’

Medicamento para diabetes pode reduzir até 17% da gordura corporal; uso precisa ser avaliado por profissional de saúde

(divulgação)

Paula Lima, 38 anos, tem pesquisado nas farmácias, desde o início de 2023, o preço do Ozempic, medicamento já usado há anos no Brasil para tratamento de diabetes do tipo 2. O motivo da procura, porém, é a vontade de perder peso. Isso porque o remédio, que é capaz de reduzir até 17% da gordura corporal e é encontrado por preços que variam entre R$ 730 e R$ 950 em farmácias de Salvador, foi liberado pela Anvisa no dia 3 de janeiro para tratamento de sobrepeso e obesidade.

“Meu IMC está acima de 30, que é um grau de obesidade. Até então, meu médico só recomendava alimentação saudável e exercícios físicos como solução. Na consulta da semana passada, ele passou esse remédio que foi aprovado para o meu caso”, conta Paula, à espera de uma maximização dos resultados da academia e boa alimentação.

O remédio aprovado pela Anvisa foi o Wegovy (2,5mg), que é produzido com o hormônio da semaglutida. Porém, o início da sua venda no Brasil não tem previsão. O Ozempic, que partilha do mesmo hormônio, só que em um grau menor de potência (0,5 ou 1,0 mg) é usado em substituição. Jacqueline Kalil, médica pós-graduada em endocrinologia, vê a aprovação da substância como um avanço.

“A semaglutida faz parte da classe de medicações chamada agonistas de GLP-1 e demonstrou eficácia de aproximadamente 15% de perda de peso em estudo nos pacientes, quase o dobro da medicação da mesma classe existente [liraglutida]. Além de ter a comodidade de ser aplicada semanalmente e não diariamente”, avalia.

O Ozempic é chamado, popularmente, de ‘caneta emagrecedora’ por se tratar de uma injeção subcutânea. Médico endocrinologista, Osmário Salles comemora a aprovação do medicamento com foco no sobrepeso e obesidade. Ele destaca que, a partir de agora, não precisa receitar remédios para outras doenças só pelo efeito colateral de perda de peso.

“Até hoje, no tratamento de obesidade, nós usávamos o efeito colateral de uma série de medicações. Remédios de depressão, convulsão e diabetes, que levam a perda de apetite. Agora, temos uma medicação lançada e própria para o tratamento da obesidade”, fala ele.

Como funciona?
O médico Gabriel Almeida, que tem um trabalho focado no emagrecimento e é entusiasta do uso do Ozempic com esse foco, explica o porquê da medicação ser tão efetiva e a forma como a substância age no organismo das pessoas que a injetam.

“O GLP-1 retarda o esvaziamento gástrico. Ou seja, há uma sensação de saciedade. Além disso, ela age no sistema nervoso central, nos neurônios que reduzem o apetite. Além disso, alguns estudos apontam que a substância é capaz de aumentar o metabolismo”, afirma Gabriel.

Como outros medicamentos, o Ozempic não tem apenas o seu efeito principal. O uso causa efeitos colaterais, como explica Osmário Salles, ponderando que os endocrinologistas começam a receitar a medicação em doses menores que vão, com o passar do tempo, aumentando.

“A gente aumenta aos pouquinhos até chegar na dose ideal. […] Os efeitos colaterais mais comuns são o enjoo, vômitos e prisão de ventre. Porém, isso é contornável com o acompanhamento devido de um endocrinologista que monitora a situação de cada paciente em particular”, pondera o médico.
Sobre o uso do Ozempic para pessoas não obesas, Jacqueline Kalil explica que já se utiliza a semaglutida há alguns anos para a perda de gordura corporal sem constar em bula.

“Atualmente, a indicação formal é para o tratamento de adultos com obesidade [IMC a partir de 30 kg/m²] e com sobrepeso [IMC a partir de 27kg/m²]. Porém, o médico faz a avaliação de forma individualizada, avaliando a necessidade e qual medicação se enquadra melhor ao perfil do paciente”, diz Kalil.

Avaliação nutricional
Fundadora do programa de emagrecimento Mereço+, a nutricionista Carolina Dias afirma que a perda de peso através do uso da medicação pode ser saudável, mas alerta que é preciso ter alguns cuidados para que isso aconteça de fato e não haja um consumo indiscriminado.

“Se o tratamento for feito com acompanhamento médico e nutricional associado, doses baixas que permita ele se nutrir com alimentação saudável e por um tempo determinado, pode ser interessante. Isso levando em consideração a obesidade em questão”, avalia.

Ainda de acordo com a nutricionista, é preciso realizar um tratamento com acompanhamento de mais de uma especialidade médica para aliar bem os efeitos da boa alimentação, da prática de exercícios e do uso, caso necessário, de medicamentos.

“Como eu sempre digo, o tratamento da obesidade tem que ser multidisciplinar. A união do médico e do nutricionista é fundamental pois o principal objetivo é combater a obesidade. Cada paciente tem um perfil e, se precisar usar medicação, será necessário ter um olhar crítico para isso”, completa ela.

O medicamento Ozempic não é ofertado pelo SUS em Salvador. A reportagem procurou a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) para saber se a substância faz parte da lista de remédios fornecidos de forma gratuita. Em resposta, a pasta informou que “toda e qualquer medicação integrante da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais tem seu uso e dispensação regulado pelo Ministério da Saúde”. (Correio da Bahia)

google news