Salvador: Pagode romântico e sofrência tomam conta da Boca do Rio

Pagode romântico e sofrência tomam conta da Boca do Rio

(Reprodução correio )

O romantismo de Dilsinho e de Simone Mendes, que estreou a carreira solo em Salvador, encheu de amor a segunda noite do Festival da Virada Salvador, na Arena Daniela Mercury. Mas não se faz uma festa na Bahia apenas com sofrência. A ancestralidade dos Filhos de Gandhy também teve lugar, junto com apresentações de Rafa e Pipo, Alok, além de Xand Avião, Durval Lelys e Parangolé, com apresentações previstas para acontecer até o fim da madrugada de hoje. 

O pagode romântico fez festa na segunda noite do Festival da Virada Salvador, na Arena Daniela Mercury, na Boca do Rio, com a presença do cantor Dilsinho. Acompanhado pelo coro de fãs, o cantor fluminense começou o show cantando grandes hits, como Sogra, que gravou com a dupla Henrique e Juliano; Baby, Me Atende, uma parceria com Matheus Fernandes. 

A composição de Thales Lessa, Rafael Torres, Lari Ferreira e Diego Silveira, Libera Ela, que foi sucesso na voz da dupla Maiara e Maraísa, também esteve na lista das músicas apresentadas em Salvador. 

Muito à vontade com a plateia em Salvador, o cantor compositor brincou com as fãs, dizendo que, em 2023, convidaria todas para um jantar na própria casa. Descontraído, também falou sobre os planos e superstições para a virada do ano e apresentou algumas canções novas de trabalho.

Alok levou toda a sua energia para o palco do Festival da Virada Salvador. Dilsinho trouxe para o palco o pagode romântico e levou as fãs à loucura quando cantou músicas de grupos antigos. A cantora baiana Simone Mendes estreou a carreira solo em Salvador, abusando da sofrência, depois de anos cantando com a irmã Simária . Alok levou toda a sua energia para o palco do Festival da Virada Salvador.

Dilsinho mexeu ainda mais com as emoções do público quando desfilou um pot-pourri de pagodes antigos de grupos como Só Para Contrariar (Domingo) e Raça Negra (Somente Você), além de Mal Acostumado, cantado pela banda Ara Ketu. 

Durante uma rápida coletiva, o cantor disse que estará no Carnaval de Salvador em 2023. Ele fez questão de pontuar um desejo antigo. “Pode soar um tanto pretencioso, mas acalento o sonho de gravar com o mestre Gilberto Gil. Na verdade, acalentava dois grandes sonhos com nomes baianos: Ivete Sangalo, que já foi realizado, e Gil”, comentou. Ele ainda reafirmou que o amor pela Bahia vem de berço, afinal, parte da família é baiana e veio de Ilhéus.

Quarta atração da noite de ontem no Festival Virada Salvador, a cantora Simone Mendes embalou o público com sucessos da  dupla que formou por anos com a irmã Simária, como ‘Foi Pá Pum’, ‘Loka’, em parceria com Anitta, e ‘Meu Violão e O Nosso Cachorro’.

A baiana agradeceu o carinho do público, que puxou gritos com seu nome. “É uma facilidade estar aqui, lançando minha carreira solo pra vocês”, disse ela.

À flor da pele
Sem esconder a emoção de estar tão perto do ídolo, as irmãs cariocas Márcia e Ana Zanella saíram do Rio de Janeiro só para assistir ao show de Dilsinho. “Estou tremendo toda, é muito lindo, é um sonho realizado”, disse Ana. 

A estudante Priscila Souza, 22, chegou cedo à Arena para garantir um bom lugar e não perder nada do show. “Essa é a primeira vez que assisto um show dele e está sendo perfeito”, desabafou.

Apesar de estar pela primeira vez no festival, o ânimo e a entrega de Simone não foram novidade para o estudante Tiago Fernandes, de 17 anos. “[O show está] Perfeito. Simone, sempre, arrasando”, aprovou ele.

Antes da apresentação de Dilsinho, a dupla Rafa e Pipo Marques transformaram o início da noite numa prévia do carnaval soteropolitano, com os clássicos da folia baiana, além da nova música de trabalho ‘Bora Pro Motel’. 

Fartura e ancestralidade
A primeira atração do segundo dia da Virada ficou sob a responsabilidade do afoxé dos Filhos de Gandhy. No dia consagrado ao orixá Oxóssi, os membros da banda não pouparam reverência ao deus africano da caça e da fartura, pedindo bençãos para a festa e para o ano novo, que se aproxima. 

O sol ainda estava alto quando o ‘tapete branco da paz’ chamou os presentes para receberem todo o axé, através das canções clássicas e da cadência do ijexá, que consagrou banda e bloco de 76 anos, fundado por estivadores do Porto de Salvador, em fevereiro de 1949. 

O público presente pôde dançar e cantar hinos, como Filhos de Gandhy e Patuscada de Gandhy, ambas composições de Gilberto Gil, que é membro da agremiação. Os músicos também prestigiaram as canções do grupo Tincoãs, famosos nas décadas de 60 e 70, pela composição de músicas populares com sonoridade e letras marcadamente ligadas aos cultos afro brasileiros. 

A doméstica Jenilda Santos, 53, aproveitou o retorno da praia para curtir um pouquinho antes de retornar para casa. “Moro perto e ontem dei uma olhada de ora. Hoje, o caminho foi natural e caiu super bem. Show gostoso e a cara da Bahia”, avaliou.

O mestre de obras Ricardo Nunes, 44, também aproveitou o final do expediente para antecipar os festejos de fim de ano. “Ainda tá cedo, mas se os próximos shows tiverem esse astral, é garantia de que não chego em casa tão cedo”, brincou.

Pra tirar os pés do chão
Se Ivete Sangalo ‘levanta poeira’, o DJ Alok faz a galera tirar os pés do chão. Com hits como ‘Alive (It Feels Like)’, ‘Fuego’ e ‘Boa sorte’, de Vanessa da Mata, o artista goiano mostrou, nesta quinta-feira (29), que nem só de axé, pagode e sofrência é feito o Festival Virada Salvador.

A pirotecnia, marca registrada de Alok em suas apresentações, contribuiu para levar o público à loucura. O DJ buscou passar uma mensagem de conexão das pessoas entre si e com a natureza.

“O set que eu fiz na última vez em Salvador [em 2019] foi bem diferente do que eu vou fazer hoje. Eu me preparei bastante pra esse verão”, contou ele, já confirmado no próximo Carnaval.

Mãe e filha, Mariluce Menezes, 39 anos, e Maria Eduarda, 11, curtiram o show juntas, agarradas a uma das grades de proteção. “Eu amo! Alok é Alok”, disse Mariluce, que já tinha visto o DJ de perto antes. Já Maria Eduarda desfrutava a primeira experiência, que certamente ficará marcada na memória.

“Muito massa! O efeito sonoro [está] perfeito”, encantou-se a fã mirim, que já tinha realizado, na mesma noite, o sonho de ver a cantora Simone Mendes. “Agora, tá melhor que Simone”, brincou Maria Eduarda.

O autônomo Rafael Carvalho, 30, mal conseguia falar de tanto que pulava acompanhando as batidas do som. Segundo ele, aonde Alok vai, sua presença é garantida. “Eu amo esse cara. […] Ele tá estourado. Acaba com a Boca do Rio toda!”, exclamou Rafael.

Comerciantes comemoram retomada
A retomada do Festival Virada Salvador fez a alegria também de outro grupo, os comerciantes. O empresário Lucas Andrade, de 39 anos, estreia no evento com seu food truck, o Rota 99, em que são vendidos alimentos como hambúrgueres e pastéis. Para ele, que investiu aproximadamente R$ 10 mil em licença, material e funcionários, o primeiro dia já foi positivo: o food deixou a Arena Daniela Mercury, na Boca do Rio, com o estoque zerado.

“Se a gente chegar em duas vezes isso aí [R$ 10 mil], já tá com um lucro legal, porque nosso markup — valor do produto acima do custo para produzi-lo — terá ficado em 100%”, explicou Lucas.

Para atender a demanda, ele precisou contratar um terceiro colaborador. “A gente acredita no potencial da festa. Salvador está investindo muito nisto neste momento pós-pandemia”, disse ele, esperançoso.

Já a vendedora ambulante Angela Maria Gomes, 52, apesar de ter aprovado a movimentação na noite de abertura, acha que vá lucrar menos do que o que gostaria, diante do investimento feito, de R$ 3 mil. “Eu queria faturar 10 [mil], mas acredito que vou faturar uns 4 ou 5”, lamentou-se Angela, que atribui o fato ao grande número de ambulantes no local.

Uma convidada indesejada também está participando da festa, junto com o público, os artistas, a equipe de organização e os comerciantes. A inflação, que está dificultando a vida dos brasileiros no dia a dia pôde ser percebida na hora de fazer uma boquinha no festival. Para fazer um lanche com a esposa e o filho, o encarregado de linha viva Henrique Santos, 36, gastou mais de R$ 50 por dois pastéis, um hambúrguer, uma porção de batata frita e um refrigerante em lata. “Eu tô achando os preços um pouco acima do normal. Não sei se é por conta do festival”, sugeriu ele.

Insatisfeita, a advogada Cíntia Bispo, 40, pagou R$ 6 por uma lata de cerveja de 350 ml. “Tem que equilibrar o preço todo mundo conseguir comprar”, afirmou ela. O valor mais baixo encontrado pela reportagem foi R$ 5, mas, a depender da marca, pode chegar a R$ 8. Em alguns isopores, é possível comprar três unidades com desconto.

Segundo o prefeito Bruno Reis, o Festival Virada Salvador recebeu 200 mil pessoas em seu primeiro dia, o maior público numa quarta-feira do evento desde a primeira edição, em 2013. A Arena Daniela Mercury tem capacidade para receber até 300 mil. (Correio)

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