Passageiros denunciam estado do ferryboat, que tem ‘gaveta’ desativada há um ano

Passageiros denunciam estado do ferryboat, que tem ‘gaveta’ desativada há um ano

(Foto: Reprodução)

Infiltração, ferrugem, sujeira em excesso e até baratas. Essas são algumas das reclamações que passageiros fazem ao sistema ferryboat, que liga Salvador à Ilha de Itaparica. As gavetas de desembarque são alvo de críticas. Além do estado precário, uma delas está interditada desde um desabamento em março de 2021, após a realização de uma obra no local.

Eulália Galvão tem 65 anos, é aposentada e vive na Ilha com o marido. Duas de suas filhas moram em Salvador. A mãe até queria ter mais contato com elas, mas conta que, devido às dificuldades que encontra na travessia, acaba evitando fazer o trajeto.

“Eu deixo de vir [para Salvador] porque é sempre um caos. As embarcações são muito precárias, tem baratas e entra muita água. Na chuva fica muito pior”, diz.

Sobre as gavetas da plataforma, onde as embarcações ancoram e por onde os passageiros transitam, a aposentada relata o estado degradante. “A gente percebe que por onde os pedestres passam tem muitas peças folgadas e está precisando de reformas. É um caos atravessar a ilha de Itaparica para cá e muita gente deixa de vir por conta disso”, completa. 

Passageiros reclamam da insegurança nos momentos de embarque e desembarque (Foto: Acervo Pessoal)

Em 2018, duas das seis gavetas de atracação das embarcações passaram por reformas que custaram à Secretaria de Infraestrutura do Estado (Seinfra) um total de R$ 9 milhões. O consórcio Beng-Beop, formado pelas empresas Belov Engenharia Ltda e Belov Obras Portuárias Ltda, foi o responsável pela execução do serviço. 

Cledson de Oliveira, presidente da Associação Municipal e Metropolitana de Pessoas com Deficiência e membro do Conselho da Cidade de Itaparica, denuncia que o desabamento ocorreu por conta de erros na obra realizada pela empresa.

“Houve erro de engenharia e de cálculo, por isso, a plataforma não foi capaz de suportar o peso e agora está pendurada na gaveta”, diz. No terminal em Salvador, somente duas gavetas, a B e a C, estão funcionando, já que a A está desativada desde o incidente.

“Hoje, só a gaveta B recebe os flutuantes e a C as embarcações mais pesadas e antigas. Por ser só uma para os flutuantes, quando chega mais de uma embarcação, uma delas precisa ficar esperando à deriva, o que atrasa a viagem”, explica Cledson de Oliveira.

O sistema conta atualmente com sete embarcações, mas somente três delas estão em atividade: Zumbi dos Palmares, Pinheiro e Maria Bethânia.

Marcos Mota, que vive na capital, mas possui uma casa de veraneio na Ilha, reclama da sujeira das embarcações: “É tudo muito sujo, eu tenho vergonha quando levo algum turista para ilha e ele pergunta onde é o banheiro”. Ele também afirma que tem receio de que alguém se machuque durante a viagem.

Em novembro, uma embarcação ficou coberta por fumaça e assustou passageiros que estavam no Terminal de São Joaquim, após uma falha na regulagem.

As empresas
Em nota, a Belov Engenharia afirmou que não possui responsabilidade pelo incidente ocorrido em 2021, uma vez que os serviços prestados no terminal foram finalizados em junho de 2019. “Deve ser frisado que os problemas verificados ocorreram após a entrega da estrutura, não tendo qualquer relação com a obra realizada pelo Belov”, pontua a empresa.

O membro do Conselho da Cidade de Itaparica, Cledson de Oliveira, acredita que o governo do Estado, apesar de saber os problemas do transporte, decide não enfrentá-los, para que não seja feita concorrência com a ponte Salvador-Itaparica. “O governo do Estado tem uma parcela de culpa enorme pelo abandono do Sistema FerryBoat e a sociedade está pagando por isso”, defende Cledson de Oliveira. 

A Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicações da Bahia (Agerba), responsável pela regulação, foi procurada diversas vezes — a última, nessa terça-feira (31) —, mas não respondeu aos questionamentos da reportagem sobre as condições do ferryboat.

A Internacional Travessias Salvador (ITS), empresa privada que administra o ferry, respondeu que “realiza manutenções preventivas e corretivas, além de docagens, que são amplas reformas das embarcações” e acrescentou que “um dos ferries em operação, o Pinheiro, retornou de uma docagem este mês (21/01)”. Em novembro do ano passado, a Agerba notificou a concessionária após usuários terem reclamado do não cumprimento de horário.

Sobre as gavetas de desembarque, porém, a ITS orientou que a reportagem procurasse a Seinfra, a qual informou “que está finalizando os estudos para publicação do edital de recuperação das estruturas de embarque e desembarque, ou seja, nas gavetas (que engloba rampa de acesso e flutuantes), ainda no mês de fevereiro”. A obra será realizada tanto em Bom Despacho como em São Joaquim.

Situação do ferryboat piora nos feriados e vésperas

Motoristas e passageiros já sabem: quando algum feriado se aproxima, é preciso ter paciência para aguardar a travessia de veículos. Segundo a Internacional Travessias, desde novembro a passagem de veículos pesados saindo de São Joaquim, em Salvador, e do Terminal Bom Despacho, na Ilha de Itaparica, passou a ser suspensa nas vésperas dos feriados a partir das 5h, sendo retomada às 15h do dia seguinte ao feriado. 

Os caminhoneiros pedem que essas medidas sejam esclarecidas com antecedência, já que muitos não conseguem ter uma comunicação clara nas estradas. “Disseram que não iríamos atravessar por causa do decreto”, explica Ryan Moraes, um dos motoristas que não pode fazer a passagem. 

Em nota, a Internacional Travessias Salvador explicou que a suspensão da travessia está ocorrendo nos dias de sextas-feiras, sábados e vésperas de feriado.

“A suspensão ocorre em atendimento à resolução da Agerba e foi amplamente divulgada desde aquele momento nos veículos de comunicação, consta nos boletins diários enviados à imprensa e parceiros, e está fixada nos guichês dos terminais, acessível a todos os usuários”, diz um trecho do comunicado. (Correio)

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