Pesquisa da USP revela que cigarro eletrônico aumenta risco de cáries e danifica esmalte dos dentes

Estudo aponta desmineralização dentária e aumento de bactérias após exposição ao vapor dos vapes

Foto: Divulgação/Ministério da Saúde

Pesquisadores da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (Forp), da Universidade de São Paulo (USP), identificaram graves impactos do uso de cigarros eletrônicos na saúde bucal. A pesquisa mostrou que a exposição ao vapor dos vapes desmineraliza o esmalte e a dentina dos dentes, além de aumentar o risco de cáries.

Os dispositivos eletrônicos, proibidos no Brasil desde 2009, simulam o tabagismo ao vaporizar um líquido com nicotina. Estudos anteriores já apontavam riscos cardiovasculares e respiratórios associados ao uso desses produtos, mas a nova investigação revelou consequências diretas na integridade dentária.

Para conduzir o estudo, a equipe do Departamento de Odontologia Restauradora da Forp criou uma máquina de teste que simula a inalação do vapor de vapes em dentes humanos. O experimento, liderado pelos professores Aline Evangelista de Souza Gabriel e Manoel Damião de Sousa-Neto, utilizou dentes molares obtidos do Biobanco de Dentes Humanos da Forp.

Ao longo de 30 dias, os pesquisadores simularam tragos de três segundos com intervalos de um minuto, totalizando 104 horas de exposição ao vapor e consumo de 52 ml de e-líquido — o equivalente a 1.733 cigarros convencionais.

O estudo revelou a redução da microdureza do esmalte, da dentina e da dentina radicular, tornando essas estruturas mais suscetíveis a danos. Segundo a professora Aline Gabriel, o aquecimento do líquido dos cigarros eletrônicos gera um ambiente favorável ao desenvolvimento de cáries.

Outro ponto crítico foi o aumento de irregularidades na superfície do esmalte, o que facilita a adesão da bactéria Streptococcus mutans. “Essa bactéria utiliza os componentes do líquido para formar um biofilme, uma película de microrganismos que desmineraliza a superfície do esmalte, comprometendo sua estrutura e deixando os dentes mais vulneráveis”, explicou a professora.

O estudo foi coordenado com a participação das pós-doutorandas Alice Corrêa Silva Sousa e Vitória Leite Paschoini. Os resultados foram publicados no periódico Archives of Oral Biology.

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