O deputado federal Israel Batista (PV-DF), conhecido como professor Israel, falou publicamente, pela primeira vez, que é homossexual. Em entrevista ao g1, o parlamentar disse, nesta segunda-feira (11), que tomou a decisão por questões pessoais e por entender que há um retrocesso no país em relação aos direitos de pessoas LGBTQIA+.
“Agora, para mim, não basta vivenciar a minha sexualidade de maneira livre, mas é preciso se posicionar. O país está vivendo um retrocesso muito grande, em que a neutralidade pode parecer conivência”, diz o deputado.
A revelação inicial foi feita ao jornal Correio Braziliense, no domingo (10). Com o anúncio, Israel Batista se torna o único representante do DF no Congresso Nacional abertamente LGBT. Ele conta que recebeu muito apoio, mas também ataques homofóbicos, e que, agora, pretende aprofundar a atuação como defensor dos direitos humanos.
Leia abaixo a entrevista com o deputado:
g1: Por que o senhor decidiu falar agora sobre a sexualidade?
Israel Batista: Primeiramente, por um conforto pessoal. Um momento da minha vida, que diz respeito a mim e estou vivendo. Um momento de integração com a minha família, um assunto recebido com o colo dos meus pais dos meus irmãos. Um momento em que vivo um relacionamento que permite isso, com relação à estabilidade. É um momento pessoal, em que me sinto confortável.
Em segundo lugar, tem uma questão de combate à retirada de direitos. Agora, para mim não basta vivenciar a minha sexualidade de maneira livre, mas é preciso se posicionar. O país está vivendo um retrocesso muito grande, em que a neutralidade pode parecer conivência.
Falar sobre isso é muito importante frente às barbáries que estamos vivendo. Dizer que não vamos aceitar retrocesso em relação aos direitos que conseguimos até aqui. É uma luta pela volta aos trilhos do progresso e contra a barbárie. É isso que o bolsonarismo representa.
Não se pode considerar a liberdade como um dado da natureza. A liberdade é uma conquista permanente, diária, pode cair a qualquer momento. Olha o que aconteceu na Polônia e na Hungria, onde hoje existem placas em bairros dizendo que estão livres de gays. Na Rússia, há uma caça aos gays. Olha que loucura isso. E eram países civilizados, eram países que aceitavam muito bem a diversidade
Se não nos colocarmos em guarda neste momento, as conquistas podem ficar ameaçadas. [Decidi falar sobre porque] é o momento em que, descaradamente, nossos governantes se assumem intolerantes, sem qualquer constrangimento.
g1: Como tem sido a reação nesses primeiros momentos após o anúncio? Como o senhor se sente?
Israel Batista: Tive muitas reações de acolhimento. O presidente em exercício da Câmara, deputado Marcelo Ramos, prontamente se colocou em defesa. Recebi apoio de grandes lideranças partidárias, dos senadores Fabiano Contarato, Alessandro Vieira, Weverton Rocha. Me senti muito acolhido. Foi muito bom, tive um acolhimento importante.
Claro que a gente tem, no meio disso tudo, os ataques, as críticas infundadas, e até ataques homofóbicos. Vamos buscar as medidas cabíveis. Não estamos buscando a aceitação de ninguém, estamos buscando respeito, que é direito de todos nós.
g1: Sua atuação no Congresso muda de alguma forma a partir de agora?
Israel Batista: Eu acho que ela se aprofunda. Minha atuação já tem um forte componente de defesa de direitos humanos, mas agora se aprofunda, passa a dialogar muito mais do que antes. Passa a receber uma atenção da comunidade a qual pertenço. Essa atenção vai trazer certas pautas e certas lutas que são importantes.
Hoje, em Brasília, sou representante desta comunidade por ser gay. Se hoje, tenho a firme convicção que já defendo o combate ao racismo, defendo a representação feminina no Congresso, e isso se aprofunda. Se hoje, a gente já combate a perseguição, exigindo respeito e tolerância, espero que isso se torne ainda mais forte.
g1: Com esse anúncio, o senhor se torna o único parlamentar do DF no Congresso abertamente LGBT. Qual o significado disso?
O significado disso é um grande avanço. É uma declaração cabal de que nós não vamos aceitar que o Brasil se torne um país intolerante. Nós não vamos aceitar a barbárie. Vamos de maneira muito clara, muito nítida, defender a diversidade e a liberdade no Congresso Nacional. Vamos reagir com muita veemência à tentativa de retirada de direitos que vem ocorrendo aqui no Brasil. (g1)