Nove morcegos infectados com raiva foram diagnosticados este ano na Bahia pelo Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen). Os animais são do tipo não hematófagos, ou seja, não se alimentam de sangue, mas representam risco a seres humanos e animais domésticos. A Secretaria estadual de Saúde (Sesab) emitiu alerta para a circulação do vírus em zonas urbanas já que os morcegos foram encontrados, em maioria, em três cidades da Região Metropolitana de Salvador (RMS).
Os animais diagnosticados pelo Lacen eram provenientes de Dias D’Ávila (5), Camaçari (2) e Catu (2). Apesar do alerta, especialistas destacam que é comum animais como morcegos, micos e raposas sejam contaminados. Para evitar o contágio em humanos, dois cuidados são essenciais: manter distância de animais silvestres e atualizar a vacinação antirrábica em animais domésticos.
“Para barrar a cadeia de transmissão precisamos evitar o contato com animais potencialmente contaminados e tratar as pessoas que forem agredidas por animais”, explica Vânia Rebouças, coordenadora do Programa Estadual de Imunização.
A última morte de uma pessoa por raiva na Bahia foi registrada em 2017, quando um homem morreu após ser mordido por um morcego, na zona rural de Paramirim. Antes desse, um caso fatal aconteceu em 2004.
O ciclo de transmissão da raiva (Foto: Reprodução) |
A raiva é uma doença infecciosa grave causada pelo vírus Lyssavirus, que tem taxa de letalidade maior do que 99%. O vírus atinge o sistema nervoso central, o que causa paralisia, alterações cardiorrespiratórias e leva o paciente ao coma. A transmissão se dá por mordidas e arranhaduras de mamíferos contaminados. Em caso de contato com animais que podem estar com raiva, as pessoas devem buscar unidades de saúde o mais rápido possível para realizar o tratamento de prevenção, feito com vacina ou soro.
Se um morcego ou outro animal silvestre invadir residências, os moradores devem imediatamente entrar em contato com o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de sua cidade. Tentar a captura em casa não é indicado porque há risco de contaminação acidental. Na capital baiana, o CCZ atende nos telefones 156 e 3202-1191.
Desequilíbrio ambiental
No alerta emitido em março, a Sesab revela que houve aumento no número de animais silvestres contaminados entre 2019 e 2022. Foram 24 morcegos não hematófagos identificados no estado. Os dados chamam atenção para a proximidade cada vez maior entre animais silvestres e pessoas, como analisa Danielle Dantas, chefe do setor de raiva do Centro de Controle de Zoonoses de Salvador.
“O que causa preocupação é que os animais silvestres estão cada vez mais presentes no convívio com os humanos por conta do desequilíbrio ambiental e crescimento desordenado da população”, diz Danielle.
A vacina contra raiva existe para seres humanos, mas só é aplicada em casos específicos, como em biólogos e veterinários, além de pessoas que tiveram contato com animais possivelmente infectados. Para evitar que animais domésticos contraiam raiva é preciso manter o calendário vacinal atualizado. Em caso de contato com morcegos, gatos e cachorros deverão receber reforço vacinal.
Apesar de defender que os morcegos encontrados com raiva não são motivo de alarde, Marcio Natividade, epidemiologista e professor do Instituto de Saúde Coletiva da Ufba, analisa que é necessário reforço na vigilância.
“Estados e municípios devem sempre manter vigilância ativa e atuar para minimizar o impacto da doença”, alerta Natividade.
Entre as ações estão: orientar indivíduos a não manter contato com animais silvestres, controlar as populações de animais e garantir profilaxia pós-exposição das pessoas infectadas. Em nota, a prefeitura de Camaçari, uma das cidades de origem dos morcegos contaminados, informou que não há nenhum caso suspeito de raiva em humanos e animais domésticos no município. A gestão informou ainda que realiza trabalho de combate à doença e conscientização da população.
As prefeituras de Dias D’Ávila e Catu, onde morcegos com raiva também foram encontrados, não se manifestaram sobre o ocorrido e nem indicaram quais medidas são tomadas para contornar o cenário.
A Sesab não informou as espécies dos morcegos contaminados. O último boletim epidemiológico sobre raiva humana e animal foi divulgado em novembro. Até o dia 29 de outubro de 2022, foram realizados 31 mil atendimentos de pessoas que sofreram agressão animal – a maior parte dos atingidos possuía faixa etária entre 40 e 49 anos.
Cerca de 95% dos atendimentos corresponderam a acidentes envolvendo cães e gatos, o que reforça a importância da vacinação desses animais Em 2022, o monitoramento do Lacen-BA diagnosticou 30 casos em animais: bovinos (14), morcegos (9), raposas (5), ovino (1) e caprino (1).
Saiba como identificar raiva em animais domésticos
Se um animal doméstico vacinado entrar em contato com animais silvestres (morcegos, micos, sagui, etc), deve ser levado imediatamente ao veterinário para que um reforço da vacina antirrábica seja aplicada. Um animal infectado pelo vírus da raiva muda de comportamento e os principais sinais da contaminação são: prostração, agressividade, alterações neurológicas, hipersalivação e paralisia.
Cães e gatos eliminam o vírus da pela saliva, o que ocorre até cinco dias antes dos sinais clínicos e persiste durante toda a doença. A morte do animal costuma acontecer entre cinco e sete dias após a apresentação dos primeiros sintomas.
A Secretaria de Saúde de Salvador (SMS) oferece gratuitamente, por meio do Centro de Controle de Zoonoses, a vacina antirrábica para animais em mais de 100 unidades espalhadas pela capital, das 8h às 14h. A lista completa dos postos pode ser encontrada aqui. (Correio)