Ter um animal de estimação em casa pode ser uma ótima maneira de se manter ocupado, de se divertir e de ter uma companhia. Mas, nos últimos anos, pesquisas científicas têm revelado cada vez mais benefícios na interação entre humano e animal, de modo que essa convivência pode se transformar em um verdadeiro remédio. No Brasil, a técnica, reconhecida pelo Conselho Regional de Medicina como TAA (Terapia Assistida por Animais), é popularmente conhecida como pet terapia ou zooterapia. No caso dos cavalos, o nome usado é equoterapia. O Centro de Pesquisa de Conexão Pessoa-Animal da UCLA (Universidade da Califórnia), em Los Angeles (EUA), fez um levantamento com base em seis pesquisas científicas sobre TAA. Os dados apontam que o simples acariciar dos animais proporciona um relaxamento automático por liberar serotonina e ocitocina, os “hormônios da felicidade”, que são liberados quando estamos apaixonados, por exemplo.
Além disso, os animais estimulam a atividade cerebral, diminuem a pressão arterial e, por estimularem a liberação de hormônios, ajudam a diminuir a sensação de dor ou desconforto. Com isso, os animais deixaram de ser apenas pets e passaram a integrar equipes de clínicas e mesmo hospitais, em que podem auxiliar o tratamento de pessoas com doenças psicológicas ou limitações físicas, principalmente crianças e idosos. Manuella Balliana Maciel, psicóloga do Cerne, Centro de Excelência em Recuperação Neurológica, em Curitiba, é coordenadora de um projeto com animais há um ano. Segundo ela, os bichos participam de diversas atividades e ajudam pacientes que têm mais dificuldade em criar vínculos com a terapia. Atualmente, cinco animais vivem lá e os outros visitam o local esporadicamente. Cachorros, coelhos, tartarugas e até uma galinha chamada Laila já passaram pelo centro.
“Em uma sessão, conversávamos com um paciente deficiente visual sobre como os animais andam. Ele imaginava que os cães andavam em duas patas. Então, a partir daí, levamos alguns animais para que ele apalpasse e conhecesse, incluindo a Laila”, disse a psicóloga. Segundo ela, a galinha foi tão bem recepcionada pela clínica que virou uma visita recorrente. Na terapia, Maciel relaciona as atividades vividas com os animais com aquelas que os pacientes muitas vezes têm dificuldade em assimilar. “Trabalhamos as questões de dar a mão, dar comida, dar carinho. Para muitos, esse movimento de dar é muito difícil e, com o animal, eles fazem sem sentir como se fosse uma obrigação da terapia.”
Luciana Alencar Salles, fisioterapeuta do Centro Social Nossa Senhora da Penha (Cenha), em São Paulo, faz parte da equipe de equoterapia da organização, que também inclui a psicóloga Adriana Marinho, um equitador e uma fonoaudióloga. Segundo ela, o movimento tridimensional do cavalo (para frente, para os lados e para cima) estimula músculos e neurônios adormecidos, o que traz benefícios físicos para pacientes com problemas motores. “A criança que é cadeirante, quando sai da cadeira para cavalgar tem a sensação de que está andando porque a marcha do cavalo é muito semelhante ao andar humano e esse estímulo pode levar à diversas evoluções no quadro”. Marinho explica que o cavalo se torna um facilitador do processo de interação e socialização. “No caso dos pacientes com distúrbios mentais, a equoterapia ajuda a aumentar a autoestima e a confiança.” Claudijane dos Santos, 40, é mãe de Alexa, 11, diagnosticada com paralisia múltipla. Ela relata que a filha, cadeirante, faz o tratamento com equoterapia há dois anos e teve uma melhora notável na postura. “A percepção dela melhorou, ela está mais atenta. Além disso, ela sai da terapia bem mais feliz, o contato com os cavalos faz bem para ela.”
O equitador e aposentado da polícia Douglas Gonçalves teve a ideia de abrir um centro de equoterapia no Guarujá, litoral de São Paulo, com o apoio do grupo de escoteiros do qual faz parte, o Grupo 331 Lobo Guará. Ele narra que um dos processos mais emocionantes na equoterapia era o de aproximação, quando a equipe de profissionais apresentava o animal para os pacientes mais debilitados, que não conseguiriam montar à priori. “Levávamos os pacientes mais crônicos para conhecer o cavalo, dar comida acariciar. Lembro de uma paciente que no primeiro dia saiu correndo e fugiu, mas depois de seis meses estava dando comida na boca do cavalo. Era incrível acompanhar essa evolução”, disse ele. Sem assistência do poder público, o centro, formado por voluntários, funcionou por dois anos e precisou encerrar as atividades em 2014.
Existem, no entanto, contraindicações. Pessoas com problemas de coluna ou no quadril não devem andar a cavalo e, embora não exista restrição em relação ao contato com outros animais, é preciso verificar se o paciente é alérgico. Em São Paulo, é possível conseguir sessões gratuitas de TAA através do serviço público de saúde, por meio de uma indicação médica de um profissional do SUS. No Brasil, apenas clínicas, ONGs e hospitais particulares podem oferecer zooterapia. Existe um projeto de lei de fevereiro de 2018 que pede a liberação deste tipo de tratamento em hospitais públicos, uma vez que sua eficiência foi comprovada cientificamente e a oferta ainda não é coerente com a demanda de pacientes. (Beatriz Fialho