Tido como uma espécie de guru do pedetista Ciro Gomes, o filósofo Roberto Mangabeira Unger, professor da Universidade Harvard (EUA), critica, em entrevista à Folha, os dois modelos econômicos apresentados no país e classifica o presidente Jair Bolsonaro como um “laranja” da elite brasileira.
“Um banqueiro com doutorado em economia não vai se eleger presidente da República. A elite não consegue que a maioria das pessoas vote nele, então tem que arranjar um laranja. Para que o laranja seja eleito e entregue o poder de fato ao banqueiro e ao tecnocrata”, diz Mangabeira Unger.
Para o filósofo, as duas propostas oferecidas à sociedade “acabaram malogradas”. “A primeira é de uma democratização da economia pelo viés do consumo, da demanda. É o que chamo de nacional consumismo, que foi o norte dos governos petistas. O segundo modelo é uma pseudo-ortodoxia econômica, que propõe disciplinar o gasto público e diminuir o tamanho do Estado, para ganhar confiança financeira e atrair o investimento estrangeiro. Essa é proposta da centro-direita, da elite brasileira”, afirma.
Segundo o professor, o chamado nacional consumismo teve virtudes, ao sustentar por algum tempo o crescimento e ajudar na redução da pobreza.
No entanto, diz ele, “deu a cada grupo uma fatia do bolo, mas não enfrentou o cerne do problema”. “O nosso problema central não é a desigualdade, é o primitivismo, tanto econômico quanto educacional e político”, defende. (Bahia.ba)