Nos últimos dias, o noticiário internacional foi tomado por um assunto de caráter urgente: o surgimento de um novo e misterioso vírus na China capaz de causar pneumonia forte e até levar a morte.
O primeiro caso da doença foi relatado em 31 de dezembro em Wuhan, cidade do interior do país com mais de 11 milhões de habitantes. Cerca de três semanas depois, o vírus já se espalhou para pelo menos outros nove países, incluindo Coréia do Sul, Japão, Arábia Saudita e Estados Unidos.
No total, são mais de 600 casos confirmados e 17 mortes. Alguns outros países ainda estão observando suspeitas de casos. No Brasil, o Ministério da Saúde descartou recentemente cinco suspeitas de ocorrências do vírus.
A rápida transmissão do vírus – apelidado de “coronavírus de Wuhan” – gerou preocupação global. Na China, três cidades foram colocadas em quarentena, impedindo efetivamente o deslocamento de 20 milhões de pessoas. Além disso, outros países estudam medidas de proteção, e estão se preparando para uma possível nova epidemia.
Mas, afinal, o que é esse coronavírus?
Uma nova ameaça
O termo “coronavírus” se refere, na verdade, a um grande grupo viral formado por diversos vírus já conhecidos e identificados. O nome da família se deve à forma desses organismos — sob microscópios, eles têm uma aparência que lembra a de uma coroa.
Há vários representantes do grupo, e inúmeros podem infectar humanos e animais. A maioria, no entanto, causa sintomas leves de uma gripe, como tosse, coriza, dor de cabeça e de garganta, etc..
Alguns vírus do grupo, porém, podem levar a doenças respiratórias mais graves, como pneumonia e síndrome respiratória – e até levar á morte. É o caso do SARS, outro coronavírus que também surgiu na China e se espalhou pelo mundo em 2002, causando 774 mortes confirmadas. Em 2012, outra doença causada por um coronavírus foi relatada internacionalmente: a MERS, que se espalhou principalmente no Oriente Médio e matou mais de 800 pessoas.
O novo coronavírus de Wuhan – oficialmente chamado de 2019-nCoV – causa sintomas parecidos com os do SARS e do MERS, embora ainda não se saiba se sua origem (e contágio) sejam os mesmos. Geralmente, coronavírus são passados por contato direto entre humanos, por meio de tosse ou espirro.
Apesar de já ser demonstrado que o novo vírus passa de humanos para humanos, não está claro o quão fácil isso acontece. Mas o fato de 15 agentes de saúde terem sido infectados sugere que a transmissão pode ser mais perigosa do que se imaginava, uma vez que essas pessoas utilizam equipamentos e protocolos de higiene e proteção.
Como o novo vírus surgiu?
A origem do vírus também permanece incerta. Novos vírus surgem de mutações (geralmente em animais selvagens) e chegam aos humanos através do contato direto com esses bichos. Os patógenos de MERS e SARS, por exemplo, surgiram em morcegos, e tiveram como hospedeiros intermediários camelos e gatos-de-algália, respectivamente.
O novo coronavírus provavelmente surgiu de uma feira de rua de frutos-do-mar em Wuhan, onde diversos animais foram vendidos, e várias pessoas que frequentaram o local acabaram infectadas. Os morcegos — que foram vendidos em forma de sopa na feira — são um dos principais suspeitos, mas um novo estudo que analisou o código genético do vírus indica que ele pode ter sido passado para humanos pelo contato com cobras asiáticas, cuja carne também foi vendida no dia. Esse tipo de cobra é conhecido por se alimentar de morcegos.
No entanto, como o vírus consegue se adaptar aos hospedeiros tanto de sangue frio e quanto quente ainda permanece um mistério.
É importante ressaltar que não há nenhuma vacina ou tratamento específico para infecções por coronavírus. Em geral, trata-se o sintoma, e o sistema imunológico do indivíduo é responsável por lutar contra a doença. Por essa razão, pessoas debilitadas, idosos e crianças são os grupos mais vulneráveis – e os que mais respondem pelas mortes do novo surto.
Devemos nos preocupar?
Sim – mas não entrar em pânico. O novo vírus é claramente um problema de saúde pública, e a velocidade com que se espalhou levantou alerta do mundo todo, incluindo da Organização Mundial da Saúde (OMS). Mas o órgão da ONU anunciou, na tarde do dia 23, que não classificaria o novo surto como “emergência de saúde global”. “Ainda não é o momento”, justificou Didier Houssin, líder do comitê de emergência da OMS. “É muito cedo para considerar este evento uma emergência de saúde pública de interesse internacional. ”
Um estudo de pesquisadores britânicos estimou, com base no tempo que a infecção levou para se espalhar, que o número de infectados pode ser de até quatro mil pessoas. Especialistas e organizações, porém, pedem cautela, e afirmam que ainda não é possível determinar o tamanho exato da crise.
Os novos casos de coronavírus se assemelham bastante aos da SARS e MERS, que também geraram preocupação global. Os vírus foram combatidos por medidas de saúde pública, e hoje são consideradas doenças superadas.
No Brasil, as suspeitas existentes foram descartadas por não se enquadrarem nos critérios estabelecidos pela OMS. O brasileiro Jarbas Barbosa, sub-diretor da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), reforçou, em entrevista à revista VEJA, que a nova mutação do coronavírus ainda “não chegou” ao continente americano, apesar de um caso confirmado nos Estados Unidos de um homem que havia voltado de Wuhan. O caso foi considerado isolado e “importado”, não levando o vírus adiante desde que pisou em solo americano. (Super Interessante)