Aliança de Jerônimo com PSDB depende de acertos para 2024 no interior

Foi um encontro rápido, que contou com as presenças de deputados e vereadores da sigla

O chefe do Executivo estadual, Jerônimo Rodrigues (PT), saiu cedo neste sábado (27) do Palácio de Ondina para tomar café com o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, presidente nacional do PSDB que participou de um evento partidário na capital baiana. Foi um encontro rápido, que contou com as presenças de deputados e vereadores da sigla, quando o petista deu de presente ao tucano a miniatura de um berimbau, mas repleto de simbolismo, sobretudo num momento em que o governador e lideranças tucanas silenciosamente conversam visando a construção de uma aliança.

Nas entrevistas à imprensa durante o evento batizado de “Diálogos pelo Brasil”, no Caminho das Árvores, Eduardo Leite deixou claro que o diretório da sigla na Bahia, comandado pelo deputado Adolfo Viana, terá autonomia para conduzir as conversas com Jerônimo. O parlamentar baiano, por sua vez, confirmou o interesse do governador em ter o PSDB na base, mas ressaltou que as negociações visam ajudar a governabilidade da Bahia e do Brasil, descartando o rompimento com o prefeito Bruno Reis (União) ou que 2024 esteja na pauta.

“A eleição é só no ano que vem. O momento é de trabalhar por Salvador, pela Bahia e pelo Brasil. O PSDB se posiciona ao centro e, por isso, pode dialogar com todos. Já fomos, inclusive, aliados do PT aqui no Estado, no passado”, disse Adolfo Viana no final do evento de hoje. Este Política Livre, no entanto, apurou que não é bem assim.

Como já revelou o site com exclusividade, depois da filiação do presidente da Câmara Municipal de Salvador, Carlos Muniz, ao PSDB, Jerônimo tem feito investidas junto ao edil, que se coloca como ponte entre o governador e os tucanos, e a Adolfo Viana com o objetivo de enfraquecer o projeto eleitoral de Bruno Reis na capital. Ter o partido até então na oposição como aliado é uma questão importante, porém secundária.

Adolfo Viana, por outro lado, tem interesse direto em garantir apoio do governador em municípios estratégicos do interior e onde faz política, a exemplo de Juazeiro e Paulo Afonso. Outros quadros do PSDB desejam o mesmo em outras cidades, como é o caso do deputado estadual Pablo Roberto em Feira de Santana e, claro, de Carlos Muniz em Salvador.

Em Juazeiro, interessa à cúpula do PSDB que a federação formada por PT, PCdoB e PV não tenha candidato a prefeito. A articulação é para que a atual prefeita Suzana Ramos, que é tucana, tenha o apoio do governador para concorrer à reeleição, em movimento estimulado pelo deputado estadual Roberto Carlos (PV), que faz política no município e tem o nome cotado também como possível postulante ao Executivo local. Vale lembrar que Suzana é mãe do deputado estadual Jordávio Ramos (PSDB).

Caso as negociações com Jerônimo avancem, o PSDB vai reivindicar também o apoio do governador à candidatura do tucano Mário Galinho, candidato a deputado estadual mais votado em Paulo Afonso em 2022 dobrando com Adolfo Viana, para a prefeitura do município. Já em Feira de Santana, em um cenário mais difícil do que os anteriores, Pablo Roberto aceitaria uma composição com o deputado federal Zé Neto, desde que o petista fosse o vice, em nome da renovação.

No caso de Salvador, o objetivo primordial do PSDB é fortalecer a bancada de vereadores, sob a liderança de Carlos Muniz, que assume em agosto a presidência municipal do partido e já mira em se manter no comando do Legislativo no biênio 2025/2026. Para ganhar mais força nas penas, os tucanos também pleiteiam novos espaços na gestão de Bruno Reis, reivindicando de volta o comando da Secretaria Municipal de Educação (Smed), perdida na reforma administrativa feita pelo prefeito em janeiro.

Bruno Reis, no entanto, tem emitido sinais de que não atenderá o pleito este ano, o que alimenta o fôlego de Jerônimo nas negociações com os tucanos. No evento do PSDB deste sábado, na capital, foi comentado que o prefeito não se encontrou com Eduardo Leite durante a estadia do aliado em Salvador, enquanto o governador da Bahia fez questão de ir até o hotel do tucano para conversar. A mesma lembrança foi feita com relação ao ex-prefeito ACM Neto (União), que, no entanto, está no exterior.

Apesar dessas movimentações envolvendo PSDB e Jerônimo, há, ainda, resistências entre os tucanos para a consolidação da aliança. O deputado estadual Tiago Correia, por exemplo, disse hoje que prefere se manter ao lado de Bruno Reis. Na Câmara Municipal, os vereadores também preferem apoiar a reeleição do prefeito. Essa seria, inclusive, a opção predileta de Carlos Muniz. Mas, como afirmou o próprio Adolfo Viana, muitos outros cafés com Jerônimo devem ocorrer antes de qualquer eventual entendimento.

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