Bahia registra 78 feminicídios só em 2023; relembre casos

Número equivale a quase oito mulheres mortas por mês

Foto: Reprodução pixbay

A morte de Maria Alice dos Santos Nascimento, de 43 anos, cujo principal suspeito é o ex-companheiro, tornou-se mais uma na dura estatística de violência contra a mulher na Bahia. Entre janeiro e 5 de novembro deste ano, o estado registrou 78 casos de feminicídio, de acordo com a Polícia Civil. O número é equivalente a 7,8 assassinatos de mulheres por mês.

No mesmo período do ano passado, foram computados 90 feminicídios, o que significa uma redução de 13,3%. Feminicídios são mortes de mulheres apenas por serem mulheres, em casos que envolvem violência doméstica e familiar, menosprezo ou discriminação à condição de mulher da vítima.

O relatório Elas Vivem, organizado pela Rede de Observatórios da Segurança em 2022, registrou que a Bahia é o estado do Nordeste com maior índice de violência contra a mulher. Larissa Neves, pesquisadora e organizadora do projeto, afirma que 75% dos feminicídios são cometidos pelos companheiros das vítimas.

Relembre casos de feminicídio registrados este ano

  • Sara Mariano, 35

A cantora gospel e pastora Sara Mariano, de 35 anos, dada como desaparecida desde o dia 24 de outubro, foi encontrada morta no dia 27 do mesmo mês, perto de Dias D’Ávila, na Região Metropolitana de Salvador. Os restos mortais estavam carbonizados e em um matagal ao lado da BA 093, e o corpo foi reconhecido pelo marido, Ederlan Mariano. No mesmo dia, ele foi preso pela autoria do crime. 
Sara desapareceu após sair de casa no bairro de Valéria, em Salvador, para seguir rumo a um suposto evento religioso em Dias D’Ávila, segundo a versão do marido. O registro do desaparecimento foi feito pelo próprio marido. O motorista que pegou a cantora gospel em casa, no bairro Valéria, para levá-la ao suposto evento, foi detido pela polícia em Camaçari no último dia 28.Segundo informações do delegado Euvaldo Costa, titular da 25ª Delegacia Territorial (DT/Dias D’Ávila), o planejamento da morte da pastora começou um mês antes do crime, no dia 24 de setembro. A motivação do crime seriam problemas conjugais, segundo o delegado. “Toda a trama para levar a vítima ao local do crime começou quando o marido da pastora percebeu que estava tendo problemas conjugais e resolveu que queria se livrar da mulher. São motivos que estamos investigando ainda, precisamos ainda de mais informações”, disse.

  • Raquel da Silva Almeida, 34

No dia 24 de setembro, Raquel da Silva Almeida, de 34 anos, foi morta a facadas pelo marido dentro de sua casa, no bairro de Massaranduba, em Salvador. Ela foi encontrada com diversos ferimentos pelo corpo. O filho dela, um menino de 11 anos, também foi ferido com golpes de arma branca. 
Diego Andrade, com quem Raquel tinha um relacionamento há três anos e era casada há um, se entregou à polícia no dia seguinte e foi liberado no mesmo dia. De acordo com a Polícia Civil, Diego foi dispensado por não haver os requisitos legais para a prisão em flagrante. A família diz que não havia sinais de que Raquel sofria violência física e que ela nunca se queixou disso. Mas os parentes contam que havia muita agressão verbal, especialmente contra a criança – o menino de 11 anos era filho de Raquel de outra relação. Parentes chegaram a testemunhar Diego batendo no garoto, de quem não gostava. 

  • Simone Maria Santos, 51

Na manhã do dia primeiro de maio, a enfermeira Simone Maria Santos, de 51 anos, foi morta a pedradas em sua casa, no quarto andar do Edifício Porto do Sol, na Rua Arthur D’Almeida Couto, em Salvador, pelo homem com quem estava casada há 30 anos e tinha dois filhos já adultos. Descrita pelos colegas como generosa e discreta, Simone trabalhou como técnica de enfermagem por 17 anos, até ter sua vida interrompida precocemente.
De acordo com moradores, que preferiram não se identificar, Simone queria o fim do casamento e esse teria sido o fator que motivou o crime, uma vez que o marido não aceitava o término da relação. Antes de ir a óbito, a vítima ligou para um dos filhos pedindo socorro. O jovem ligou para a polícia, mas não chegou a tempo de socorrer a mãe.

  • Natalina Silva, 37

No dia 25 de abril, Natalina Silva, de 37 anos, teve sua casa invadida e foi morta pelo ex-companheiro. O crime aconteceu no bairro da Liberdade, e o homem foi preso em flagrante. Ele não aceitava o fim do relacionamento e, além de atacar a vítima com golpes de faca, ele ainda atingiu o genro dela.
De acordo com o coordenador da 3ª Delegacia de Homicídios (DH/BTS), delegado Ademar Tanner, o criminoso confessou a autoria do crime e não demonstrou arrependimento. Ele ainda declarou que já ficou preso por oito anos, após matar a mãe do filho dele e o companheiro dela, na cidade de Piraí do Norte, em 2014, e foi solto em 2022.

  • Ana Paula Brito Pimenta, 46 

Também em abril, Ana Paula Brito Pimenta, de 46 anos, foi vítima de agressões antes de ser morta pelo ex-companheiro, no bairro da Liberdade, em Salvador. A vítima chegou a ser socorrida e ficou internada em uma  Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Salvador, onde teve a morte cerebral confirmada no dia 20 do mesmo mês.
O suspeito foi preso apenas no mês seguinte, no dia 3 de maio. Segundo a delegada Bianca Andrade, titular da Deam, o suspeito foi localizado escondido na casa de familiares na cidade de Dias D’Ávila.

Correio*

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