O presidente Jair Bolsonaro (PSL) ameaçou, ontem (25), não dar mais entrevistas à imprensa se um tema comentado por ele não fosse tema de reportagens “no dia seguinte”, ou seja, hoje (26).
A suposta notícia sugerida pelo presidente, porém, não é verdadeira, de acordo com o portal UOL. Bolsonaro mencionou de forma distorcida publicação feita há quase dois anos pelo site “The Intercept Brasil”.
Em outubro de 2017, o site publicou reportagem sobre uma auditoria nas despesas do Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio do Rio de Janeiro (Senac-RJ), que mostram gastos com publicidade e palestras em 2016.
A matéria apontava o custo total de R$ 375 mil por 15 palestras feitas pelo jornalista Merval Pereira, da GloboNews e do jornal O Globo.
No entanto, o presidente distorceu as informações e afirmou que Merval recebeu R$ 375 mil por uma única palestra. Ele ainda ameaçou não dar mais entrevistas à “toda a imprensa” se a informação não fosse publicada da maneira distorcida que ele defende.
“Acabei de postar aí uma matéria sobre o Merval Pereira. Palestra por R$ 375 mil, tá legal? Tá ok? 375 ‘pau’ [por] uma palestra no Senac, tá ok? Façam matéria agora. Se vocês não fizerem nenhuma matéria sobre isso amanhã nos jornais, eu não dou mais entrevista para vocês, tá legal? Tá combinado? Toda a imprensa, tá combinado? E tem mais nome também, eu só botei um ‘nomezinho’ hoje. Não estou perseguindo ninguém. Agora, gastar dinheiro público para palestras, aí é brincadeira. Fica escrevendo o tempo todo lá críticas. [Tem que] Criticar, mas mostrar que é uma pessoa isenta, né? Imprensa isenta. Se não fizerem matéria escrita amanhã nos jornais, não tem mais entrevista para vocês aqui, tá legal?”, declarou o presidente.
Palestras
Ao The Intercept Brasil, o Fecomércio-RJ, responsável pelo Senac-RJ, defendeu a contratação de Merval, alegando que as palestras estavam “dentro dos objetivos do Senac” de discutir as “circunstâncias vivenciais” de seus usuários.
Na coluna de Merval hoje no jornal “O Globo”, intitulada “A fake news de Bolsonaro”, ele defendeu que as palestras eram abertas a representantes do comércio, da indústria, da educação, políticos locais, estudantes.
“Cada palestra teve a respectiva nota fiscal, incluindo os impostos devidos, e foi declarada no meu Imposto de Renda”, disse.
O colunista também criticou a fala de Bolsonaro sobre parar de dar entrevistas se uma notícia sobre as palestras não fosse publicada.
“Deixar de dar entrevistas se jornalistas não fizerem o que ele deseja? Essa ‘ameaça’ seria apenas risível, não dissesse ela muito de uma personalidade que a cada dia se mostra mais autoritária. E desgostosa de poder muito, mas não poder tudo”, declarou o jornalista. (Metro1)