Carla Zambelli vira alvo principal de cassação por fake news e ataques às urnas

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A ação apresentada pela coligação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em meados deste mês coloca na mira de uma possível cassação parlamentares que disseminaram informações falsas ao longo das eleições.


São citadas 81 pessoas, entre elas o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) e a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP).


No documento de 245 páginas, a equipe jurídica petista descreve um “ecossistema de desinformação” criado por um grupo de pessoas para beneficiar Bolsonaro. Essas pessoas, por meio de perfis em redes sociais, disseminaram informações falsas e realizaram ataques contra as urnas eletrônicas, criando um ambiente de “caos informativo”.


Os advogados afirmam que desde a campanha de 2018 Bolsonaro constrói uma narrativa contra o sistema eleitoral. Nessas eleições, uma rede de interação virtual tem trabalhado para “enraizar a fake news de que o sistema eleitoral é inseguro, corrompível, manipulável e não se curva à vontade popular”, dizem.


A partir disso, o processo aponta abuso do poder econômico, político ou dos meios de comunicação, crimes previstos no artigo 22 da Lei Complementar nº64/90, conhecida como lei de inelegibilidade.


A atuação de Zambelli para desacreditar o processo eleitoral é destacada na ação. Reeleita com mais de 946 mil votos que a fizeram a segunda mais votada no pleito, a parlamentar foi alvo de duas ações individuais da coligação petista no primeiro turno


Em agosto, a deputada e outros dois candidatos divulgaram um vídeo nas redes sociais dizendo que os títulos de eleitor digitais tinham um QR code que computaria o voto “Lula 13”. Zambelli compartilhou a notícia falsa nos canais do Telegram e do Gettr, onde tinha à época 243.400 seguidores.


O ministro do TSE Raul Araújo determinou a remoção da publicação e esclareceu que o QR Code presente nos novos títulos é uma atualização tecnológica para fins de autenticação do eleitor. A ferramenta “não substitui a urna eletrônica, não é usada para contabilizar votos e não interfere na votação em si”, disse.


No dia 6 de outubro, o ministro Paulo Sanseverino autorizou a remoção de outra fala de Zambelli sugerindo fraude das urnas pelo PT. Segundo ela, houve a manipulação de urnas em um prédio do Sinticom (Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção) sem controle de acesso ao local.


O ministro decidiu que Zambelli descontextualizou um fato para gerar desinformação. Ele esclareceu que as urnas são carregadas no sindicato desde 2014 por falta de espaço físico no cartório eleitoral de Itapeva, no interior de São Paulo.


A reportagem tentou contato com a deputada, mas não houve resposta.


Ao pedir a punição da parlamentar, do presidente Bolsonaro e de outros influenciadores, a ação mais recente apresentada pela cogilação de Lula cita como precedente o caso do deputado estadual Fernando Francischini (União Brasil-PR).


Cassado pelo TSE em 2021, Francischini afirmou, em uma live no dia do primeiro turno das eleições de 2018, que as urnas estavam fraudadas para impedir a eleição de Bolsonaro.


Após o caso do ex-deputado, a legislação eleitoral foi detalhada. A partir destas eleições quem divulga conteúdos falsos ou descontextualizados atacando as urnas eletrônicas e a legitimidade das eleições pode ser cassado por abuso de poder e uso indevido dos meios de comunicação.


Coordenador-geral da Abradep (Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político) e doutor em direito pela UFPR, Luiz Fernando Pereira afirma que se o TSE aplicar o mesmo entendimento consolidado a partir do caso de Francischini, a cassação de Zambelli é possível. A punição, porém, deve demorar devido ao número de réus no processo.


“Uma ação com vários réus tende a ser mais complexa, porque todos precisam se manifestar. Se ela eventualmente for cassada, isso será mais à frente”, afirma ele, que atuou na campanha de Lula em 2018.


“O TSE ainda vai se pronunciar sobre o direito de defesa de todas as pessoas envolvidas nas ações, mas existe a possibilidade de cassação pelo precedente do caso do Francischini, mas cada análise é individual”, acrescenta a advogada Cristina Neves da Silva, do Instituto Brasileiro de Direito Eleitoral.


Ela destaca ainda que a ação da coligação vai além dos ataques às urnas e atinge pessoas que já são investigadas pelo STF (Supremo Tribunal Federal) por divulgação de fake news.


Outros processos causados por ataques às urnas foram mapeados pelo Observatório da Desinformação Online nas Eleições de 2022, parceria do CEPI (Centro de Ensino e Pesquisa em Inovação) e do Núcleo de Pesquisa em Concorrência, Políticas Públicas, Inovação e Tecnologia da FGV-SP.


Um desses processos ocorreu no início da campanha. O ministro Mauro Campbell determinou a remoção do vídeo do encontro do presidente com embaixadores, em julho, exibido na TV Brasil e em redes sociais de Bolsonaro. Na ocasião, ele repetiu ataques contra as urnas e levantou a possibilidade de fraude no sistema eleitoral.


Segundo Campbell, houve abuso de poder político no episódio, porque o presidente usou o cargo e a estrutura estatal para “disseminar fatos inverídicos e gerar incerteza acerca da lisura do processo eleitoral”.


Outra decisão da Justiça Eleitoral cobrou esclarecimentos do deputado estadual Capitão Assumção (PL-ES).


Nas redes sociais, o candidato à reeleição afirmou haver na urna eletrônica um dispositivo interno capaz de alterar o voto e frraudar o resultado –o que é falso. O candidato foi notificado pelo ministro Mauro Campbell e o conteúdo, removido.


Mesmo com a remoção dos conteúdos, nada impede que o Ministério Público Eleitoral, candidatos e partidos apresentem outras ações pedindo punições mais graves, a exemplo do que aconteceu com Zambelli. (BN)

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