“A gente já desenvolve uma série de pesquisas no desenho de drogas para várias outras doenças, como dengue, leishmaniose, esquistossomose, doenças que envolvem questões inflamatórias. Com o surgimento dessa pandemia, decidimos entrar nessa corrente de pesquisadores e buscar alvos que pudéssemos testar. Esses alvos são as proteínas virais. O estudo se deu no sentido de buscar moléculas que pudessem inibir essas proteínas virais e bloquear o processo de replicação do vírus”, contou Bruno Andrade, cientista baiano que coordena o grupo de pesquisa.
Bruno Andrade conta que o grupo de pesquisa trabalha com a primeira etapa do desenvolvimento de medicamentos. Eles se utilizam de um banco de dados para fazer testes computacionais com substâncias que possuem potencial para combater a doença. Os resultados são enviados para laboratórios, que passam a realizar baterias de exames para comprovar a eficiência da droga.
“A gente usa a estratégia de comparar as drogas conhecidas. Pegamos essa estrutura e fazemos comparações computacionais químicas com as moléculas que queremos selecionar no nosso banco de dados. A gente seleciona algumas moléculas, depois fazemos um acoplamento, um encaixe computacional, para ver se tem afinidade ou não. Essa etapa é crucial para definir o que será testado na bancada e depois será passada para o humano. Sem essa etapa, não teria como testar uma grande quantidade de moléculas. Você teria um ambiente químico muito pequeno”, afirmou o pesquisador.
Para a pesquisa de substâncias capazes de combater o coronavírus, uma base de dados com cerca de 50 mil moléculas, todas naturais, foi utilizada. O grupo separou 40 compostos químicos que podem ser testados contra o coronavírus.
“A gente utilizou uma base de dados filtrada. Pegamos um banco de dados com 900 milhões de estruturas e fizemos uma triagem em que selecionamos apenas as de fontes naturais, moléculas extraídas de plantas. Ela já vem com o potencial de virar droga pelas características químicas que apresentam. Essas moléculas podem ser depois compradas, sintetizadas, testadas em bancada com células”, explicou.
A pesquisa está disponível on-line, com texto em inglês, e, segundo Bruno Andrade, deve ganhar as páginas de publicações científicas em breve.
“A gente espera que este estudo retorne para a sociedade em forma de tratamento imediato e possa diminuir o número de mortes que estamos acompanhando nas estatísticas divulgadas diariamente. A ideia de utilizar a ferramenta que estamos trabalhando é ampliar o universo de moléculas e assim, consequentemente, a chance de ter o melhor composto químico para o tratamento”, ressaltou.
A administração de hidroxicloroquina e azitromicina foi liberada na última semana pelo Governo da Bahia para tratar pacientes diagnosticados com coronavírus. O uso dos dois medicamentos para casos de COVID-19 não é consenso na comunidade científica. Os estudos realizados até aqui não apresentaram evidências suficientes para apontar que os medicamentos realmente são eficazes contra a Covid-19. (G1/Ba)