Quase todos os meses, o Detran da Bahia realiza leilões de veículos e motocicletas, que vão de sucatas a modelos que foram apreendidos e estão bem conservados. A oferta desse tipo de modalidade não é regular: no caso do Detran, elas ocorrem conforme a necessidade de desafogar os pátios.
A autarquia de trânsito informa periodicamente em sua página oficial na internet sobre os editais, que são as regras para participação, geralmente vetada para funcionários públicos e empresas coligadas. Mas não é só o Detran que promove leilões: há empresas especializadas nesse tipo de negociação, além de tribunais que leiloam bens, como carros e motos em fase de execução.
Com a crise da pandemia, disseminação das ferramentas online e falta de carros no mercado, muitas pessoas passaram a participar dos leilões online. Mas é sempre importante ressaltar cuidados na escolha da empresa e das negociações, porque também junto com o crescimento do interesse, houve o aumento de golpes: fraudadores montam páginas falsas e colecionam vítimas.
Mesmo participando de leilões oficiais e verdadeiros, o consumidor deve ficar atento a vantagens e desvantagens. Primeiramente não é uma compra fácil, porque requer atenção na leitura dos editais, e ninguém deve se iludir com preços extremamente baixos, embora, em tese, esses veículos tenham preços mais em conta.
Qualidade
Para saber se aquela oferta é vantajosa, o interessado deve, antes, aliar o preço de oportunidade com a qualidade, ou seja, o preço não pode ser o único balizador da compra. “O veículo de leilão pode ter sofrido uma colisão de indenização integral (a famosa perda total) e, além de ter o seu valor de mercado diminuído, pode apresentar problemas mecânicos graves, devido aos danos causados à sua estrutura”, explica Yago Teixeira, diretor de produtos da plataforma de consulta veicular Olho no Carro.
A vantagem só acontece quando a origem do leilão e o preço ofertado estão condizentes com a desvalorização que esse veículo terá. Um bom exemplo disso são os veículos que vão a leilão por conta de um financiamento não pago. “Nesse caso, apesar da depreciação no valor de mercado (que varia de 10% a 30% de acordo com o modelo), o veículo não apresenta danos significativos que façam com que o comprador gaste muito dinheiro com a recuperação”, diz Teixeira.
Por isso, uma análise prévia é mais indicada. “Primeiro deve-se identificar qual tipo de veículo o comprador está buscando, se é comum ou premium. Depois disso, o comprador deve escolher de qual tipo de leilão quer participar: de financiamento ou também de veículos de frotas e acidentados? Feita essa análise, é preciso saber a porcentagem de depreciação que será aplicada em cada tipo de veículo”, destaca o diretor da plataforma Olho no Carro (confira a tabela abaixo).
A plataforma Olho no Carro oferece a consulta Informações Fipe, que mostra a variação do valor do veículo na Tabela Fipe, desde quando ele era zero-Km, para saber o valor do carro hoje, próximo à data do leilão.
Por fim, o proprietário precisa estar preparado para enfrentar diversos problemas, independentemente da origem do leilão. “Um erro muito comum é imaginar que, por exemplo, um carro recuperado de um financiamento não terá problemas em uma possível revenda”, ressalta Teixeira. Dificuldades na revenda do veículo, depreciação, de aceitação em seguros e de fazer um financiamento estão entre as maiores citadas pelo especialista.
Muita cautela
Nem mesmo profissionais acostumados na compra e venda de carros indicam os leilões. “A única vantagem na compra de um carro de leilão é o preço mais baixo em relação a um carro sem esse histórico. Mas seguindo aquela máxima de que ‘o barato sai caro’, só é vantajoso mesmo se for um bom carro que não necessita de grandes reparos (mecânico, elétrico ou estético), o que nem sempre acontece. Eu recomendo que apenas pessoas que tenham conhecimento aprofundado de carros entrem nesse mercado, para minimizar o risco de se darem mal”, afirma Felipe Carvalho, o “Caçador de Carros”, fundador da empresa com a qual ele e sua equipe procuram e avaliam carros que são pedidos por seus clientes – incluindo a Bahia.
O interessado deve começar acompanhando os lances. Para saber que aquele carro vale ou não mais a pena ser adquirido, Carvalho sugere pesquisar. “É preciso considerar o valor que o modelo pretendido tem no mercado de usados. Essa consulta pode ser feita nos sites da Fipe e KBB, mas também é imprescindível verificar o preço que o modelo está sendo anunciado nos maiores classificados da sua região. Isso porque nem sempre, as tabelas condizem com a realidade do mercado. Feito isso, vale considerar um valor médio dessa pesquisa e pagar, no máximo, 70% desse valor, considerando um bom carro”, sugere o Caçador de Carros.
Entre os principais desafios que o comprador pode enfrentar estão problemas com seguro (a companhia pode negar a cobertura) e desvalorização na revenda, com a informação de ser um carro com histórico de leilão no laudo cautelar. “Nem sempre as seguradoras aceitam, e quando aceitam, podem cobrir apenas um percentual do valor de tabela Fipe. Como nem todos querem ter um carro de leilão, a revenda é restrita. A informação no laudo é algo que o carro vai ter pelo resto da vida, ou seja, o valor de mercado sempre será inferior”, adverte Carvalho.
Ele mesmo diz que recebe poucos pedidos de clientes para procurar carro em leilão. “A maioria dos meus clientes foge desse tipo de carro. Eles querem algo com muita qualidade e estão dispostos a pagar por isso. Os poucos carros com passagem por leilão que eu avaliei sempre foram solicitados pelos clientes, que já estavam cientes da procedência”, conta o consultor. (A Tarde)