A Igreja Universal do Reino de Deus está planejando dar mais um passo de investimento nas dependências do Templo de Salomão, obra arquitetônica construída em São Paulo que faz alusão ao Templo original, descrito pela Bíblia Sagrada ao narrar a história do povo hebreu por volta de 1000 anos antes de Jesus Cristo.
A intenção dessa vez, aparentemente, é fazer memória ao período da segunda Grande Guerra Mundial, quando cerca de seis milhões de judeus foram assassinados pelo regime étnico-genocida do alemão Adolf Hitler. Esse episódio trágico da história mundial ficou conhecido como “Holocausto”.
“A Igreja Universal do Reino de Deus confirma que planeja criar um Museu do Holocausto. No momento, o projeto está em fase inicial de consultas junto a lideranças da comunidade judaica”, informou um comunicado da Universal, segundo informações do jornalista Morris Kachani.
Michel Gherman, que é mestre em Antropologia e Sociologia pela Universidade Hebraica de Jerusalém e doutor em História Social na Universidade Federal do Rio de Janeiro, comentou a possível relação de interesse da Universal com um Museu do Holocausto.
“É simplificação falar somente em influência judaica nas práticas religiosas da Igreja Universal. O que há é maior, há uso de práticas judaicas nos rituais não somente da Igreja Universal, mas de várias igrejas evangélicas, ligadas principalmente à corrente neopentecostal”, disse ele.
O professor e pesquisador, responsável pela coordenação do Núcleo Interdisciplinar de Estudos Judaicos e Árabes da UFRJ, destacou que essa aproximação com os elementos judaicos – o que inclui a história recente envolvendo o Holocausto – vai além da esfera religiosa.
“Estas práticas nada têm a ver com os ritos originais, são apropriações que surgem em outro ambiente, têm outra dinâmica e têm outros usos rituais”, disse o professor, após ressaltar que também há um cenário político nesses investimentos.
O alinhamento do atual governo brasileiro com o Estado de Israel aponta este cenário, o que pode ser visto com naturalidade, tendo em vista que a maior parte da população do Brasil, que é cristã, enxerga a Nação judaica como berço da sua fé: digna de respeito, memória e proteção.
“Os valores da Israel imaginária, dos judeus imaginários e do judaísmo imaginário produziram uma comunidade política que acabou por estabelecer um modus operandi político. Essa dinâmica proporcionou votos e vetos a candidatos específicos”, conclui Kachani, confirmando a tese do parágrafo anterior.
Por Will R. Filho / Gospel Mais