Jaguaripe: “Já sabemos onde elas estão”, diz delegado sobre suspeitas pela morte de Léo da Pousada Paraíso Perdido

A Polícia Civil já sabe a localização das duas mulheres que tiveram seus nomes citados nas investigações da morte do empresário e ex-detento Leandro Silva Troesch, encontrado com um tiro na cabeça em sua pousada de luxo, a Paraíso Pedido, em Jaguaripe, região do Recôncavo Baiano.

A viúva e sócia de Leandro, Shirley da Silva Figueredo, e a amiga dela, Maqueila Santos Bastos, não foram mais encontradas após a morte de Leandro. Elas, que são ex-detentas, também serão investigadas para saber se têm ligação com o assassinato de um funcionário do empreendimento, no dia em que ele prestaria depoimento sobre a morte do patrão.

“Sim, já sabemos onde elas estão e, ao que tudo indica, estão juntas. A Polinter (Serviço de Polícia Interestadual) já foi acionada”, declarou o delegado responsável pelo inquérito, Rafael Magalhães, titular da delegacia de Jaguaripe. Unidades policiais de outros estados já foram  acionadas.

Segundo Magalhães, o advogado de Maqueila tem o interesse de apresentá-la. “Recebemos a ligação dele e estamos ajustando uma data”, disse o delegado, esclarecendo que não há um mandado de prisão contra a ex-detenta. “Ela não é procurada pela justiça, mas necessitamos ouvi-la na investigação, pois acredito que muita coisa poderá ser esclarecida”, acrescentou o delegado. 

Já Shirley está na condição de foragida – ela e o marido foram presos no ano passado após condenação por sequestro e extorsão de uma mulher em Salvador. A viúva teve a prisão decretada assim que descumpriu uma decisão judicial ao deixar a cidade sem comunicar o juiz da vara crime. Após sair do Presídio Feminino, a empresária passou a cumprir medida cautelar, o que a impedia de sair da pousada sem comunicação prévia. “Até o momento, o advogado de Shirley não entrou em contato para apresentá-la”, disse o delegado. 

Embora haja um comentário em Jaguaripe de que Shirley teria uma relação extraconjugal com Maqueila, Magalhães ponderou. “É possível, mas não temos certeza disso. É preciso ouvir as duas, até para saber se isso pode acrescentar algo à investigação”, disse ele. Em uma outra entrevista, o delegado relatou à reportagem que Leandro não aceitava a aproximação da mulher dele com a ex-detenta, que responde a vários processos por crime de estelionato e era considerada uma das líderes do Presídio Feminino em Salvador.

Shirley e Maqueila saíram juntas do presídio dois meses antes de Leandro também cumprir a pena em liberdade. Então, a empresária deu abrigo e emprego à estelionatária na Paraíso Perdido. Quando retornou à pousada, Leandro não gostou da presença de Maqueila, e o casal passou a brigar com frequência. A ex-detenta acabou sendo expulsa do empreendimento. Dez dias depois, o empresário foi encontrado morto com um tiro na cabeça em um dos quartos da pousada. 

Também em uma outra entrevista, Magalhães revelou que momentos antes da morte de Leandro, o casal havia brigado. A discussão foi testemunhada por funcionários da pousada. Essa versão põe em cheque o primeiro depoimento de Shirley, prestado assim que o corpo do marido foi encontrado. Ela disse que Leandro teria cometido suicídio. 

Morte de funcionário

Diante desse e de outros questionamentos, o delegado Rafael Magalhães tentou localizar Shirley e Maqueila, mas não conseguiu. Então, a única testemunha-chave para o mistério era o funcionário da pousada Marcel Silva, o Bili, que era considerado uma pessoa da confiança de Leandro. Amigos desde a infância no bairro da Boca do Rio, em Salvador, os dois se reencontraram anos depois, no Complexo Penitenciário da Mata Escura. 

Os dois também deixaram a prisão juntos, pois o advogado do empresário conseguiu estender o benefício de responder pelo crime em liberdade também para Bili, que estava preso por tráfico de drogas.  No entanto, no dia em que seria ouvido para ajudar esclarecer a morte do patrão, Bili foi assassinado. O corpo dele foi encontrado no domingo (6), no distrito de Camassandi, também em Jaguaripe.  

O delegado responsável pelo caso disse ainda que não descarta nenhuma possibilidade para o crime, inclusive o fato de a vítima ter sido morta por representar uma ameaça para alguém. “É muita coincidência. A polícia trabalha com todas as vertentes, inclusive a de queima de arquivo”, disse o delegado, que acredita que mais pessoas estejam envolvidas no assassinato de Marcel.  

Relembre o crime do casal

O CORREIO teve acesso às informações do processo que apura as acusações contra Leandro e Shirley. Outras três pessoas constam como réus. São elas: Joel Costa Duarte, Carlos Alberto Gomes de Andrade e Júlio da Silva Santos. De acordo com a Justiça, Joel abordou a vítima no dia 10 de maio de 2001, quando ela estacionava o carro na porta de casa, no bairro de Itapuã, por volta das 18h30. Eles tomaram o veículo da vítima e a mantiveram no carro enquanto eram efetuados saques de dinheiro em caixas eletrônicos. 

Ao verificar o saldo bancário da vítima, Joel arquitetou a extorsão mediante sequestro, ficando a cargo de Júlio mantê-la em cárcere privado, primeiro no Motel Le Point, em Itapuã, depois numa casa situada na Praia de Ipitanga, em Lauro de Freitas, Região Metropolitana de Salvador (RMS), alugada ao próprio Joel e a dois comparsas, neste caso, Leandro e Shirley.

Enquanto mantida em cárcere privado, a vítima foi alvo de reiteradas ameaças de morte feitas por Júlio, somente sendo liberada após o pagamento do resgate de R$ 35 mil. No processo consta que foi Leandro quem conduziu o veículo da vítima e fez os saques. Já Shirley foi a responsável por buscar o pagamento do resgate.

As armas utilizadas na prática dos crimes pertenciam a Joel e Júlio, que conseguiram fugir na ocasião. No entanto, Leandro, Shirley e Carlos Alberto foram presos em flagrante. Posteriormente, o casal passou a responder pelos crimes em liberdade, até a Justiça ter condenado ambos em 2018.

Repercussão

Jaguaripe é uma cidade com cerca de 18.790 habitantes. É na Praia do Garcez que estão os dois empreendimentos do casal, ambientados no estilo rústico e cercados de muita área verde, um encontro do rio com o mar e quilômetros de praias semivirgens.

O mais badalado deles é a Pousada Paraíso Perdido, que possui suítes e chalés, além de restaurante e lojas. O estabelecimento já foi palco para apresentação de artistas baianos, como Jau, Banda Eva, Magary Lord, Pierre Onassis, dentre outros, e já hospedou também atores globais. Para se ter ideia do tamanho do empreendimento, o espaço foi utilizado no réveillon de 2009 para a Universo Paralelo, uma das maiores festas de eletrônica do país e que reuniu cerca de 17 mil pessoas. 

Já na Pousada Aconchego das Águas, a infraestrutura é um pouco menor. Segundo os moradores, nesse empreendimento, o casal é o principal sócio. (Fonte Correio da Bahia)

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