O novo líder do bloco parlamentar do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), foi personagem nesta semana de mais um exemplo de problemas na articulação do governo Lula (PT).
André Figueiredo (PDT-CE) recebeu a promessa de que indicaria o superintendente da estatal federal Codevasf no Ceará, mas depois afirmou a parlamentares que soube, pelo convite de posse, que o cargo havia sido dado ao PSD, partido de Gilberto Kassab.
Figueiredo vai assumir na segunda-feira (19) a liderança do bloco de Lira, em substituição a Felipe Carreiras (PSB-PE), no esquema de rodízio montado pelo presidente da Câmara para atrair legendas para seu entorno.
A Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba) foi criada há 50 anos para projetos de irrigação no semiárido, mas o governo Jair Bolsonaro (PL) a transformou em uma espécie de “loja de políticos”, pela qual congressistas usam emendas para comprar máquinas, veículos, equipamentos e obras de pavimentação e direcionam produtos para seus redutos eleitorais.
O modelo de mudança na vocação histórica da Codevasf tomou corpo na gestão de Bolsonaro, que entregou a estatal ao centrão em troca de apoio político, mas se mantém da mesma forma no governo Lula, que ainda busca criar uma base de sustentação no Congresso.
A Codevasf também é palco de suspeitas de malversação do dinheiro público em contratos financiados por emendas de congressistas.
De acordo com parlamentares, o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT), que é do Ceará, havia prometido a Figueiredo que ele indicaria o comando estadual da Codevasf.
Apesar da promessa de Guimarães, o comando da Codevasf no estado será ocupado por um indicado da bancada de deputados federais do PSD no estado, que é composta por Célio Studart, Domingos Neto e Luiz Gastão.
De acordo com integrantes do PSD, a obtenção do comando da estatal já estava acertada desde fevereiro com Alexandre Padilha, ministro da Secretaria de Relações Institucionais de Lula.
A superintendência cearense do órgão será comandada por Marlos Costa de Andrade, que no governo Bolsonaro comandou a Funasa no estado. Inicialmente o governo Lula extinguiu a Funasa, mas o Congresso revogou a medida e o órgão deverá ser recriado.
A cerimônia de posse de Marlos está marcada para esta quinta-feira (15), em Fortaleza, com a presença do diretor-presidente da Codevasf, Marcelo Moreira.
À Folha de S.Paulo José Guimarães disse que não acompanhou o caso, mas que soube que houve um problema e que iria tratar do assunto com Padilha. André Figueiredo, que foi ministro das Comunicações na segunda gestão de Dilma Rousseff (PT), não se manifestou.
O bloco de Lira é o maior da Casa, reunindo, entre outros, por PP, União Brasil, PSB e PDT, e soma 174 das 513 cadeiras da Câmara. Ele foi criado exatamente em reação a um bloco paralelo comandado por PSD, MDB e Republicanos –com um total de 142 deputados.
Lula foi eleito com estreita margem de votos e, ao mesmo tempo, viu o Congresso ser formado por uma maioria conservadora. Os partidos de esquerda reúnem apenas cerca de um quarto do total de cadeiras na Câmara.
Por isso, desde a transição, Lula tenta atrair uma coalizão que lhe dê uma sustentação legislativa sólida, mas tem enfrentado diversos problemas e derrotas na Câmara, mesmo tendo distribuído nove ministérios a MDB, PSD e União Brasil.
Há uma grande insatisfação com a articulação política, inclusive em partidos da esquerda. Uma das principais reclamações é justamente relacionada à divisão de cargos federais entre esses partidos de centro e de direita.
Lira lidera o centrão, que se divide nos dois grandes blocos da Câmara, e tem pressionado por maior participação no governo.
A União Brasil, por exemplo, pressiona pela troca da ministra Daniela Carneiro (Turismo) por Celso Sabino (União Brasil-PA). Daniela é da União, mas pretende migrar para o Republicanos.
Lula deve reunir seu ministério nesta quinta-feira (15) e há a expectativa de que ele cobre mais empenho de sua equipe na relação com o Congresso, além de explicitar a necessidade de atrair para sua base partidos que hoje estão independentes, como o PP de Lira.
Além dos cargos, congressistas reclamam da falta de atenção que ministros do governo dispensam aos seus pleitos, além da demora na liberação de emendas ao Orçamento da União, atualmente o principal instrumento de relação entre o Executivo e o Legislativo. (BN)