O entregador Max Angelo Alves dos Santos, de 36 anos, emocionou-se ao deixar a 15ª DP (Gávea) nesta quarta-feira, após ser ouvido pela delegada Bianca Lima, e avistar a mãe, a cabeleireira Adriana de Souza Alves, que o consolou com um abraço e com palavras para acalmá-lo.
— Você vai sair dessa, de cabeça erguida, porque eu te dei uma boa criação, mesmo morando na favela — disse Adriana, enquanto levantava o queixo de Max, um de seus sete filhos.
Segundo ela, que criou seus filhos na comunidade da Rocinha, assistir aos vídeos em que Max é chicoteado, causam reações nela: começa a tremer e a chorar, por isso, os irmãos do entregador esconderam as imagens da mãe.
— A gente só tem que tentar acabar com esse preconceito bobo. Nós somos negros, mas temos direito de ir para qualquer lugar. Nós somos trabalhadores, não somos bandidos, nem ladrões, minha família não tem isso — narrou.
Adriana também descreve as profissões que seguiu para conseguir educar os filhos:
— Por isso você tem essa educação de hoje, porque se não você tinha perdido a cabeça. Fica calmo, você não queria estar passando por isso, mas infelizmente está passando. Infelizmente, em pleno século XXI, ainda existe esse tipo de preconceito — lamenta Adriana, que completou: — Hoje tenho osteoporose nos dois joelhos, pé é ruim, mão é ruim. Fui cabeleireira, lavei roupa para fora, fui a primeira mulher a trabalhar em obra para criar meus filhos.
Adriana estava na porta da 15ª DP (Gávea) aguardando o filho, ao lado da nora, Jaqueline dos Santos Lopes, enquanto ele era ouvido pela delegada titular da unidade, Bianca Lima.
De acordo com o advogado de Max, Joab Gama, o entregador “reafirmou algumas coisas” de seus depoimentos anteriores e deve ser ouvido futuramente, após outras pessoas serem ouvidas na unidade.
— Tem testemunhas que ouviram as ofensas e faltou uma complementação, porque teve um xingamento específico condizente com a cor dele — explicou o advogado, sobre a tipificação do crime mudar: é atualmente investigado com lesão corporal e injúria, mas pode ser classificado como injúria racial.
Max trabalha como entregador há um ano e meio, para um aplicativo. O ponto em que pega os produtos fica na Estrada da Gávea, em São Conrado, onde costuma ficar sentado na escada aguardando novos pedidos.
Neste momento, a professora de vôlei Sandra Mathias teria cuspido no chão e questionava sobre o motivo do gesto, por outra entregadora. Após discutir e agredir a colega de Max, ele foi o alvo: nas imagens que circulam nas redes sociais, ele é alvo de chicotadas por quatro vezes, após Sandra soltar seu cachorro da coleira.
Sandra Mathias tinha depoimento marcado para esta manhã, mas apresentou um atestado médico para justificar a falta: segundo o advogado Roberto Duarte Gutter, ela tem “várias lesões”.
A delegada Bianca Lima afirma que não há uma nova data marcada para o depoimento, mas que deve ocorrer a partir da próxima semana. (Oglobo)